:: Filmes Comentados ::

Editora Responsável: Ester Marçal Fér

 Filmes comentados nesta edição:

Clique aqui e veja uma lista de filmes, comentados, para uso em aula. Escolha o seu e incremente suas aulas com o recurso dos filmes! Seus alunos vão adorar!
Título: Ser e Ter 

Título Original: Être et Avoir 
País de Produção: França 
Ano de Lançamento: 2002 
Diretor: Nicolas Philibert 
Tempo de Duração: 104 minutos 
Gênero: Documentário 
Tema: A atividade do professor em sala de aula e seu relacionamento com os alunos. 
Site Oficial: www.chipsquaw.free.fr/etreetavoir

Retrato de uma escola de uma só classe no interior da zona rural da França, onde os estudantes (em idades entre 4 a 11 anos) são educados por um único e dedicado professor. 

Título: A Paixão de Cristo 

Título Original: The Passion of the Christ 
País de Produção: EUA 
Ano de Lançamento: 2004 
Diretor: Mel Gibson 
Tempo de Duração: 126 minutos 
Gênero: Drama épico-bíblico 
Tema: A morte de Jesus Cristo 
Site Oficial: www.thepassionofthechrist.com

As últimas doze horas de vida de Jesus Cristo, seu sofrimento e a crucificação em uma narrativa crua e realista. 

Neste primeiro número da Revista Art&, gostaria de comentar dois filmes que estão atualmente em cartaz no Brasil. Ambos filmes polêmicos, cada um a sua maneira e por propósitos diferentes. O primeiro é A Paixão de Cristo (Mel Gibson, The Passion of The Christ, EUA, 2004), e faço esse comentário por achar as informações aqui contidas pertinentes à uma possível utilização do filme em sala de aula. Afastando-se um pouco do imenso alvoroço causado pelas instituições religiosas em torno do filme, gostaria de comentar algumas relações existentes na construção das imagens do filme. 

Em entrevista disponibilizada no site oficial do filme (www.thepassionofthechrist.com), o diretor Mel Gibson conta que, na etapa de criação e preparação da equipe anterior as filmagens, ele pediu ao diretor de fotografia Caleb Deschanel fazer com que os planos, enquadramentos e seqüências do filme lembrassem as pinturas do pintor italiano Caravaggio (1573-1610), cujas pinturas são conhecidas pelo realismo quase fotográfico e pelo uso intenso de claro-escuros. 

Essas duas principais características da pintura de Caravaggio definem o naturalismo tenebrista, estilo próprio do pintor e de seus seguidores, que surgiu em Roma na época da contra-reforma (final do século XVI e início do XVII). Não foi à toa que Mel Gibson escolheu Caravaggio como referência de imagem para a realização do seu épico bíblico. Além de o pintor possuir uma série de obras inspiradas na Paixão de Cristo, cujos motivos e momentos foram astutamente escolhidos, sintetizando em si mesmos a cena inteira, como A Negação de Pedro e A Flagelação, Caravaggio imprimia um intenso dramatismo pela força da iluminação, modelagem e ausência de fundos e outros embelezamentos supérfluos. 

Nessa série de pinturas em particular, pode-se falar que Caravaggio atinge o auge do tenebrismo absoluto. A atmosfera dos quadros torna-se asfixiante, as figuras, temíveis, irradiam um ar ao mesmo tempo lírico e torturado, as cores empalidecem. De certo que essas características identificadas na pintura de Caravaggio denotam exatamente o tipo de atmosfera que Mel Gibson buscava para sua fotografia e para a história que queria contar. Seu objetivo maior na realização desse filme foi relatar fielmente o sofrimento de Cristo, e não somente através dos evangelhos, mas através do próprio olhar de Jesus, homem/Deus numa só pessoa, ou seja, uma história de claros e escuros, de bem e mal, de pecado e salvação, de morte e ressurreição. 

O segundo filme que eu gostaria de comentar é o documentário francês Ser e Ter (Nicholas Philibert, Être et Avoir, 2002) e faço esse comentário por achar que esse filme pode ser um excelente detonador de questões sobre a prática pedagógica. Ser e Ter é uma reunião de fragmentos da relação entre um professor e seus alunos numa pequena escola num pequeno vilarejo no interior da França. Uma das primeiras características que nos deparamos ao conhecer a classe do professor George Lopes é o fato de que crianças em estágio inicial de alfabetização co-existem com pré-adolescentes em estágios bem mais avançados num mesmo espaço de aprendizado, todos coordenados e instruídos pelo professor George. 

A polêmica que envolve esse documentário reside basicamente em dois fatores: no fato do diretor Nicholas Philibert ter escolhido esse tipo de escola específica, que era comum no início do século XX na França, mas que hoje é uma realidade existente em pouquíssimos vilarejos, praticamente inexistente. Para muitos essa escolha parecia ocultar os reais problemas do sistema educacional francês, e houve até quem atribuísse ao filme um saudosismo de uma França às antigas que foi associado ao dos eleitores do símbolo da direita contemporânea Jean Marie Le Pen. O segundo fato polêmico relacionado ao filme foi o processo movido pelo professor "protagonista" contra os produtores. 

Diante do sucesso inesperado de bilheteria, cobrou um cachê gigantesco (de 250 mil euros), reivindicando co-autoria por, em seu entender, ser tema e ator do relato documental. Perdeu na Justiça. O interessante de observar neste documentário, para além das relações e situações específicas do contexto francês em que se situa o filme, é o papel do professor como mediador de conflitos e expositor das regras da vida em sociedade, independente da faixa etária da classe. No filme, temos um exemplo de como um professor pode ser excessivo em sua missão de autoridade, muitas vezes limitando, com a sua onipresença, o espaço de construção entre as crianças. Essa é uma reflexão que o filme pode suscitar e que é facilmente transposta para o contexto atual brasileiro e pessoal de cada educador. 

Ester Marçal Fér 
Editora Seção Filmes Comentados 

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Revista Digital Art& - ISSN 1806-2962 - Ano II - Número 01 - Abril de 2004 - Webmaster - Todos os Direitos Reservados