:: Entrevista ::

Entrevista com o Instituto Arte na Escola

Art& - Atualmente qual é o foco principal do Instituto Arte na Escola e as ações ligadas a ele?

IAE - O foco principal do Programa está nos os professores de arte em exercício do Ensino Infantil, Fundamental e Médio. O objetivo é qualificar esses professores, criando meios para uma reflexão sistemática sobre sua prática e processos educacionais em arte e fomentando uma atitude investigativa. O Instituto Arte na Escola entende a arte como linguagem, área de conhecimento específica e de produção de sentidos. Através da arte-educação, busca formar o sujeito conhecedor da linguagem artística, capaz de compreendê-la e utilizá-la em suas relações histórico-culturais. O Instituto Arte na Escola acredita que a preparação para esta atuação é dada por meio da formação continuada. Ela é feita através da reflexão permanente sobre a prática docente no contexto escolar, visando a ampliação de repertório em artes e educação, pela articulação de teorias e transposições didático-pedagógicas. O processo de educação continuada é complementado pela disponibilização de midiatecas e materiais de apoio ao ensino, bem como pelo reconhecimento das boas práticas educativas, através do Prêmio Arte na Escola Cidadã, que está em sua sexta edição neste ano. Há também uma consultoria, que desenvolve projetos e realiza assessoria em educação para institutos culturais e museus na formação de professores e na elaboração de ações educativas.

Art& - Qual é a estimativa de professores que já foram atendidos pelo Arte na Escola de maneira direta (cursos, materiais, projetos, etc.)?

IAE - O dado mais atual - da avaliação de 2004 - é que a Rede Arte na Escola atende cerca de 20 mil professores hoje.

Art& - Quais são as bases epistemológicas e conceituais do Arte na Escola?

IAE - O Instituto Arte na Escola tem como missão incentivar e qualificar o ensino da arte e como premissa que a arte, enquanto objeto do saber, desenvolve no aluno habilidade perceptiva, capacidade reflexiva e formação de consciência crítica, não se limitando à auto-expressão e à criatividade.

O Instituto Arte na Escola entende a educação continuada como um processo fundamental para o cumprimento da sua missão de qualificar processos educacionais em arte. A formação continuada tem por objetivo construir e desenvolver competências que propiciem a evolução da profissão do professor e do sistema educativo. É através dela que os avanços da ciência são passados, de forma didática, aos educadores e às escolas. Sua importância é ainda ampliada quando levarmos em conta que a formação inicial do professor é dotada de uma estrutura pouco flexível e que a sua profissão é exercida por longo tempo. Frente à velocidade da evolução da ciência na era da informação, os educadores - assim como os demais profissionais - precisam recorrer à educação continuada para enfrentar questões relativas ao seu fazer cotidiano.

Outra pressão para essa atualização permanente é o reconhecimento de que um modelo elitizado de educação, satisfatório para educar as classes dominantes, não serve mais às democracias. Do mesmo modo, o mundo contemporâneo sinaliza a urgência da educação voltada para o desenvolvimento e para a convivência - uma questão até então excluída das prioridades. Sabemos que a aprendizagem é um processo que se constrói e que demanda tempo, investimento e maturação, mas cujos resultados podem ser usufruídos por todos. Nesse contexto, perde seu lugar de referência a transmissão do conhecimento através de ações centralizadas no professor e, a partir dele, orientadas por um projeto educativo que ignorava a realidade onde se dava. A educação continuada representa, então, uma alternativa para enfrentar essas questões. Ela é assumida pelo Estado, por entidades comprometidas com princípios educativos, pela iniciativa privada e pelo comprometimento individual do professor.

Art& - Falando um pouco da parte econômica, como o projeto é financiado? Gera lucros? É auto-sustentável?

IAE - O Instituto Arte na Escola é uma instituição sem fins lucrativos, criado em 2000, e que tem como missão incentivar e qualificar o ensino de arte por meio de ações de Educação Continuada. Esses programas são realizados tanto em sua própria sede quanto por meio de universidades conveniadas espalhadas por todo o país, que formam a Rede Arte na Escola. O estabelecimento de parcerias para as ações de educação continuada é fundamental para o desenvolvimento do Programa, pois contribui para um melhor aproveitamento de recursos, maior abrangência e na continuidade das ações. São parceiros potenciais do IAE a Secretaria de Educação Estadual, a Secretaria de Educação Municipal, órgãos públicos voltados para a educação e cultura, instituições culturais da comunidade (museus, casas de cultura, fundações, organizações da sociedade civil, etc), programas similares da comunidade local, escolas (isoladamente ou associadas, públicas ou privadas), profissionais da área de arte-educação e os Pólos da Rede Arte na Escola. Qualquer associação é bem-vinda, desde que favoreça os princípios educativos adotados pela Rede Arte na Escola e se proponha a qualificar a construção de conhecimentos e vivências em arte, notadamente as escolares. Identificadas as possibilidades de colaboração, são definidos objetivos e estratégias de atuação conjunta e estabelecidas as responsabilidades de cada um. As parcerias poderão ser pontuais, para um evento determinado, de média duração, ou ainda permanentes, implicando níveis diferentes de compromisso.

Art& - Qual a leitura que vocês fazem do papel social do Arte na Escola? Vocês entendem que estão suprindo um espaço relativo ao aperfeiçoamento do ensino de arte no Brasil, que não foi ocupado pela esfera pública? Ou entendem isso de uma outra forma?

IAE - Do ponto de vista do Estado, a educação continuada é a expressão de vontade política e legal, uma vez que está na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Do ponto de vista das entidades comprometidas com a causa da educação, torna-se um espaço importante para o exercício da sua participação e poder de influência. Do ponto de vista da iniciativa privada, constitui fonte de renda e de produção de materiais de consumo. E, do ponto de vista do professor, a educação continuada impõe-se como necessidade, pois apresenta mudanças práticas, ações e fundamentos inovadores, diferentes dos que ele havia aprendido anteriormente. Face aos efeitos benéficos para a atuação docente, diferentes sistemas educativos tratam de assegurar espaços para a atualização sistemática do conhecimento nas jornadas de trabalho ou procuram criar mecanismos de liberação dos alunos, possibilitando a formação em serviço. Desse modo, a escola transforma-se em "lócus" privilegiado para a educação continuada, assegurando maior articulação com o seu projeto pedagógico. Constrói também um corpo de formadores - composto por equipes universitárias preocupadas em articular teoria e prática - e agências voltadas para a causa da educação no país. Assim, são desenvolvidas competências centradas na transposição didática da teoria estudada para a prática do cotidiano escolar, sem ignorar os modos próprios de funcionamento da escola. Nesse panorama, o Arte na Escola insere-se como uma rede de influência na educação de arte no país. Ela é resultado da associação de uma entidade do Terceiro Setor, o Instituto Arte na Escola, comprometido com o desenvolvimento social, com o pensamento acadêmico - representado pelas universidades que a compõem - e com outros organismos relacionados ao cotidiano da escola básica no Brasil - os diferentes sistemas educativos, municipais e estaduais; as escolas; os centros culturais e os museus.

Art& - Quais são os problemas enfrentados e os desafios a serem suplantados pelo projeto?

IAE - Reconhecimento, por parte das universidades, da possibilidade de trabalhar com e ser avaliada por instituição do Terceiro Setor. Esta dificuldade tem sido superada através de diálogo e da evidência de resultados alcançados. E também as diferentes características culturais e institucionais de cada parceiro, o que levou a sucessivas re-formatações para acolher as diferenças.

Dificuldades na compreensão do trabalho em Rede: autonomia, engajamento e participação interativa. Esta dificuldade vem sendo trabalhada através das ferramentas de comunicação, especialmente o site, que está sendo redesenhado para facilitar o trabalho cooperativo.



ISSN 1806-2962

Revista Digital Art& - ISSN 1806-2962 - Ano III - Número 03 - Abril de 2005 - Webmaster - Todos os Direitos Reservados