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DA EDUCAÇÃO ARTÍSTICA AO ENSINO DE ARTES: REFLEXÕES SOBRE UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA EM ENSINO MÉDIO
Autora: Heloísa Araújo Duarte Valente - whvalent@terra.com.br e heloisa.valente@unisantos.br

Resumo:

Esta comunicação tem como objetivo principal levantar algumas reflexões sobre os problemas que se impõem no cotidiano da prática pedagógica do professor de Artes, no ensino médio, bem como expor algumas estratégias bem sucedidas no decorrer de minha atuação particular nessa esfera de trabalho. Para tanto, tomarei como referência central a minha prática docente por quase uma década: as aulas de Educação Artística numa escola particular no município de Osasco (SP), o Colégio Anglo/ Leonardo.

Palavras-chave: educação artística - educação musical – ensino médio.

Abstract:

This text aims to call attention to some questions concerning the problems Brazilian high school teachers deal in everyday practice, especially in the case of art and music education. Additionally, I will present some interesting pedagogical strategies I could create in my particular experience as a high school teacher, at Colégio Anglo/ Leonardo, in the 80’s.

Keywords: art education – musical education – high school teaching strategies.

I. Ser professor de Artes, no ensino médio:

Em primeiro lugar, é necessário situar precisamente a questão: ser professor, em nível de ensino médio, na área de Artes, mais precisamente em Música, seja de alunos que tenham tido uma aprendizagem irregular, seja daqueles que não tiveram iniciação de qualquer natureza nas séries anteriores. Para delimitar o âmbito do problema, limitemos a abordagem a uma pequena amostra do que acontece nas aulas de iniciação musical.

Ao que se tem notícia até o momento, os bons métodos tradicionais e conceituados tomam, como ponto de partida, a educação infantil (pois, deve-se ter a iniciação às artes desde cedo...). Não têm como perspectiva, portanto, o iniciante em plena adolescência ou na fase adulta. Muitos dos métodos existentes em voga, sobretudo após o crescimento da Informática, fundamentam-se, não raro, em procedimentos mecanicistas, esquemas, tabelas, gráficos, tablaturas como meio de simplificar e recuperar o tempo perdido. São métodos que se destinam, na esmagadora maioria dos casos, à aprendizagem da técnica de um instrumento musical da moda (entenda-se, propalado pelos meios de comunicação de massa). Em tais casos, objetivos centrados no desenvolvimento da percepção auditiva, julgamentos estéticos, são, simplesmente, esquecidos ou mesmo descontextualizados na estruturação curricular.

Por incrível que pareça, a meu entender, a pedagogia contemporânea das artes no ensino regular não avançou o quanto se esperava em relação a algumas décadas atrás. Ainda que o guru Murray Schafer já conste da bibliografia dos concursos, os resultados não são suficientemente expressivos. Muitas vezes, a pedagogia da linha-dura conseguia até obter resultados mais satisfatórios. A título de exemplo, tomemos a política educacional do Estado Novo e a imposição do canto orfeônico. Ainda que os objetivos do projeto empreendido sejam questionáveis e inválidos sob vários aspectos (implantação de ideologia política, por meio da inculcação de um civismo ufanista, entre outros) não podemos negar que o projeto tenha trazido conseqüências bastante favoráveis: a prática do canto orfeônico fez com que as crianças da época aprendessem a cantar. E aprender a cantar é aprender a ouvir, a se ouvir, a perceber o outro. Saber escutar - e não apenas ouvir - propicia o diálogo e a reflexão. Do mesmo modo, podemos dizer que aprender a cantar é aprender a entrar e a sair, seja no sentido abstrato ou no mais concreto possível (o entrar no tempo certo do compasso e a sua transposição metafórica, o perceber o momento de entrar e sair de uma sala, por exemplo).

Aprendendo música, adquire-se o sentido de organização: coordenação, justaposição, subordinação... conceitos que levam, por conseguinte, ao desenvolvimento do raciocínio e do senso crítico do aluno. Com isto, podemos afirmar que sendo de sua vontade ou não, de certa forma, a ditadura do Estado Novo trabalhou contra si própria, ajudando a conscientizar o aluno de seu papel na sociedade como cidadão.

E atualmente, o que temos? Se politicamente vivemos a democracia, no ensino das artes reina a mixórdia. Sob o título pomposo de Educação Artística, todas as formas de arte são amontoadas de forma fragmentária. De sua parte, o professor de escultura deve ensinar cançonetas; o professor de música deve ensinar figuras geométricas e assim por diante. Não raro a unificação temática dos planejamentos da disciplina segue o calendário das festas cívicas, populares e comerciais (carnaval, dia do índio, dia da criança...).Contra essa situação, muitos educadores bem intencionados têm se desdobrado no sentido de reverter a situação. Não se trata apenas uma questão de alteração de conteúdos, mas, antes disso, a luta pela manutenção das Artes nos currículos escolares! A luta contra a maré torna-se cada dia mais acirrada e desestimulante. Esse é o panorama que se descortina para aqueles que se aventuram a ingressar na profissão.

O senso comum costuma afirmar que magistério é sacerdócio. Frase feita de conteúdo ideológico perigoso. Quem o faz não é certamente por esse motivo. As razões são as mais diversas.  No que toca o professor de Artes, quando ele persiste em continuar na carreira apesar das dificuldades, existe uma razão muito precisa por trás disso. Ao contrário de qualquer outra área de estudos, em que a formação pode ter início apenas no 3o. grau, o professor de Artes tem, forçosamente, seu início bem mais cedo que os seus colegas de outras disciplinas: quer no teatro, nas artes plásticas, na dança, ou na música, a vivência, a prática, o domínio da linguagem artística antecede, via de regra, o aprendizado da pedagogia. (E, na vida escolar, tem de à toda hora ficar se justificando na escola que necessita de tempo para praticar sua atividade paralela...)

Levando a cabo o exemplo do professor hipotético em questão, poderíamos mesmo afirmar que se ele decidiu ingressar no magistério - toscamente falando - é porque ele gosta transmitir a outrem o prazer do conhecimento estético que a arte propicia a ele próprio; indo mais além, o professor de arte acredita que seu trabalho pode, de fato, contribuir para a formação de mentes críticas, criativas, porque desenvolveram potencialidades que as outras áreas do conhecimento não podem explorar com a mesma acuidade. Apesar dos pesares, esse professor não desiste da sua profissão. Ao contrário, tenta dignificá-la, elevá-la ao estatuto merecido.

Isto posto, gostaria de expor, a seguir, meu trabalho como professora de Educação artística na Leonardo da Vinci (Osasco, município da Grande São Paulo), na década de 1980 ao início da década de 1990.

II. Minha experiência no Colégio Anglo/Leonardo

O Colégio, de nome Leonardo da Vinci - Escola de 1º e 2º Graus, na época foi implantado, inicialmente, como escola de 2o. grau. Como a maioria das escolas que oferecem esse curso, tinha como objetivo inicial a preparação sólida para a aprovação no vestibular da Fuvest, notadamente na área de ciências exatas e medicina. A disciplina Educação Artística fazia parte do currículo como complementação na área de conhecimentos gerais. Inicialmente, eram dadas aulas de história da arte e oficinas de artes plásticas. Nos anos seguintes, os cursos foram reestruturados, passando a ter história da arte como eixo e oficinas em artes plásticas, música e teatro. Também tentou-se estabelecer elos interdisciplinares, muito embora isso não fosse de pleno agrado dos titulares de outras disciplinas. Um avanço significativo foi feito quando, ao se levantar os problemas de fundo que diziam respeito à faixa etária e a melhor maneira de tratá-los através de cada disciplina. No caso de Artes, foram selecionados os temas herói e mídia pop. Foram então realizados trabalhos de campo que atendiam não somente à área de Artes, mas também de História, Língua Portuguesa, entre outros.

No entanto, nosso cotidiano na Escola não era fácil. A começar, o nome Educação Artística por si só já é generalizante e sugere superficialidade; polivalência aparece como um apanágio para um saco de gatos ideologicamente programado. Para evitar esse imbroglio, o curso passou a ser conhecido apenas por Artes. Outra dificuldade importante o fantasma que ameaçava (e ainda ameaça hoje!) o sono dos proprietários, professores, alunos e seus pais: o vestibular da Fuvest.

Um outro problema, não menos importante, verificado no conjunto dos professores, era a preparação cada vez mais deficiente dos alunos que ingressavam na Leonardo: dificuldades graves na expressão oral e escrita, formulação de raciocínios, concatenação lógica das idéias. Era necessário, portanto, um treinamento intensivo: aprender a ler em voz alta, a escrever corretamente, a saber colocar a pontuação etc.. Antes de tudo, tal preparação necessitava do apoio incondicional das aulas de Artes: abrir todos os poros de percepção com o mundo exterior para poder incorporá-lo e saber lidar com ele. Isto significava, em resumo, aprender a ouvir e ver o mundo - ou como disse certa vez Décio Pignatari, ouviver o mundo.

Como não me é possível relatar todo a minha atividade pedagógica nas dimensões deste texto, proponho-me a descrever algumas atividades que tiveram bom resultado. Ressalto que utilizava o método do projeto espiralado.

O curso, para o 1º ano, era estruturado da seguinte forma:

1a. unidade: elucidar os conceitos de leitura e de texto; 

2a. unidade: as diversas linguagens e suas funções.

Nas unidades seguintes, passam-se a estudar as linguagens: a sonora (modos de ouvir), a visual (modos de ver). Cada uma delas propunha exercícios de criatividade (sonoplastia de textos sem o uso do código verbal), visitas a museus (MAC-USP, MASP), com o intuito de explorar a noção de historicidade e construção da linguagem artística. Um outro aspecto importante é a noção de paisagem urbana contemporânea o aluno deveria perceber as diferenças por que passou o mundo em que ele próprio vive em relação ao passado. O estudo da paisagem sonora, em particular, demonstra-se bastante eficaz.

A 5a. unidade toma a história da música popular brasileira como fio condutor para  um estudo em que a própria vida do aluno é o texto central: a história do Brasil vista e ouvida de trás para diante, em etapas, isto é, do presente em direção ao passado, em diálogo com a história de vida do aluno. A atividade realizada é a confecção de um álbum que reúne informações escritas, recortes, fotos de família, ilustrações em geral (etc.) do dia de hoje ao início deste século. É paralelamente realizada uma exposição de materiais significativos que, segundo os alunos, representa cada época em particular. (Uma grande atração costuma ser a exibição de coleções de objetos de modas passadas: roupas, perucas, discos, revistas etc.). Essa unidade de ensino possibilita, também, a compreensão, por parte do aluno, de quando os meios de comunicação de massa entraram na vida cotidiana, de que modo, que função exercem em cada momento histórico da sociedade em que vive, a hegemonia de cada um deles.

A continuidade do curso dá-se pela integração dos conteúdos anteriores: de posse dos conceitos de linguagem, texto, leitura e, sabendo alguns rudimentos básicos de como utilizar criativamente as linguagens sonora e visual; tendo o seu repertório de conhecimento ampliado no que diz respeito à sua história pessoal em diálogo com a história oficial, o curso parte para uma aplicação em parceria com a Língua Portuguesa (também pode ser estrangeira, de acordo com a habilidade de professor e alunos): a criação de uma radionovela.

O estudo das formas narrativas, como se estruturam, o papel dos personagens no enredo etc. são desenvolvidos pelo professor de Português. Enquanto isso, o curso de Artes se encarrega em mostrar como na comunicação de massa o herói é trabalhado. São examinados diversos tipos de herói, sobretudo no cinema e na novela. Logo em seguida é atribuída aos alunos a tarefa de elaborar, em grupos, as próprias radionovelas, a partir de uma referência prévia (uma história a ser continuada). Concluído o texto, passa-se a criação sonora: a composição da trilha sonora, da entoação da voz (caracterização do narrador, personagens etc.). Em sendo possível, a radionovela deve ser pensada para ser transmitida pela via radiofônica.

A radionovela surge, então, como uma atividade bastante produtiva, pois, além da própria atividade lúdica e criativa que representa, possibilita a reunião de conteúdos de várias disciplinas. Contudo, o mais importante é o fato de possibilitar um desenvolvimento considerável da leitura em voz alta, de um melhor uso da voz, além de constituir um treinamento intensivo na elaboração de textos escritos. (Lembremos que além destes objetivos específicos, essa atividade possibilita o desenvolvimento de vários objetivos gerais, que citamos acima).

Este é um relato sucinto do curso de Artes que ministrei na Leonardo da Vinci, há uma década. Evidentemente, houve transformações e adaptações que não podem ser tratadas neste momento. Anos após, adaptei estes conteúdos a cursos de pós-graduação que ministrei. Muitos dos alunos, professores da rede pública e particular, passaram pela experiência como alunos e depois aplicaram esses conteúdos em sua atividade profissional.

Antes de concluir, devo ressaltar que o curso, embora contendo boa parte de trabalho experimental e lúdico (oficinas, visitas a museus etc.) caminhava em paralelo a um conteúdo teórico, sobre textos escritos. Utilizei o método do Fichário, método desenvolvido na Leonardo da Vinci a partir do livro de Antônio Joaquim Severino (Métodos de Estudo no Ensino médio)[1]: processo de condução do aluno a adquirir uma metodologia de estudo, baseado fundamentalmente em 3 etapas, que visam a orientação do aluno:

1ª) para preparar-se para as aulas, a partir do planejamento de ensino de cada professor;
2ª) para melhor aproveitamento das aulas, a partir da confecção do rascunho em aula;
3ª) para estudo em casa, a partir do rascunho produzido em aula, do planejamento de ensino e das referências bibliográficas, com o fim de produção da re-elaboração de aula.

O processo acima objetiva, em última instância, duas metas fundamentais:

1) aquisição  do hábito de estudo a partir da produção pelo aluno de seu próprio material escolar;
2) desenvolvimento da autonomia de estudos, visando a preparação para a vida universitária.

O curso de Artes adapta-se bem a essa metodologia. Sendo os textos artísticos de natureza diversa, e, ainda, considerada a possibilidade de serem fixados em outros suportes (discos, vídeos, gravuras), as etapas de confecção do fichário não se limitam aos livros tradicionalmente conhecidos (manuais, livros didáticos etc.). São regularmente utilizados periódicos ou mesmo textos insólitos (relíquias de família, por exemplo). A re-elaboração de muitas aulas é muitas vezes feita por intermédio de filmes de longa metragem em vídeo e DVD, por exemplo. Sempre que possível, são realizados trabalhos de campo (estudos do meio) com o objetivo de levar o aluno a um contato direto com a produção artística, ao vivo: assistir a peças de teatro, apresentações musicais e de dança, exposições de artes plásticas, assim como convidar artistas (amadores ou profissionais, algumas vezes pais, ex-alunos ou professores) a  se apresentarem em atividades da escola.

Tendo dito isto, gostaria de concluir este relato-depoimento com uma espécie de apologia àquela que tem sido para mim a linguagem artística que me toca mais de perto, mais intimamente, a qual venho dedicando minha vida intelectual: a Música. O papel educativo desta linguagem é geralmente bem aceito no meio social, principalmente na educação infantil. Em uma escola respeitável em que lecionei, a diretora considerava-a muito importante, pois tinha a capacidade de dar felicidade à juventude reprimida. No entanto, para o adolescente, a música passa a ser um tanto perigosa: a prática do rock é misturada com drogas e atos de vandalismo.

Para o médico otorrionolaringologista e estudioso em comunicação Alfred Tomatis, a música exerce papel fundamental na evolução humana: ela “favorece a cristalização de diferentes estruturas funcionais do sistema nervoso. Ela facilita a produção de energia ligada aos estímulos do quais o cérebro necessita para pensar. Ela abre o caminho que leva à voz cantada e à expressão corporal[2]. O autor vai mais além: a música pré-existe à linguagem; é da música que nascem os ritmos e as entoações inerentes aos processos lingüísticos. Isto se deve ao fato de que o ouvido exerce outras funções, além da audição: ele é igualmente responsável pelo equilíbrio postural ; mais que isso, o ouvido é o principal gerador de energia nervosa. Ainda: centraliza, no nível vestibular, informações provenientes de todo o corpo.

Não quero, com estas afirmações, que cito laconicamente, levantar uma discussão sobre os efeitos ou as virtudes da musicoterapia. Apenas ressalto, através das palavras de Tomatis, que a Música não se limita à educação do pensamento. Antes disso, ela educa o próprio corpo, no seu nível proprioceptivo.

Sob um outro aspecto, ela é conhecimento estético que enraíza conhecimento de mundo. O professor aficcionado deve então elaborar estratégias múltiplas para desvelar todo um universo sonoro que se oculta por trás da força homogeneizante das mídias. Como levar ao adolescente o sabor do saber do canto visceral e pungente que se expressa no tango as inquietudes existenciais dos tangos resvaladas na voz de alguém como Roberto Goyeneche? A saudade da terna infância e do calor da terra natal dos napolitanos imigrantes para zonas de clima temperado, emblematizados no fôlego de Beniamino Gigli Como fazê-lo crer que Mário Reis foi um grande sucesso? Por que permanece o sucesso de Roberto Carlos, há décadas apresentando o mesmo show, sempre obtendo enorme sucesso?

A música extrapola as dimensões do tempo-espaço: tanto denuncia a fissura histórica entre Oriente / Ocidente que eclode nos intermináveis melismas do cante jondo flamenco; a transição de fronteiras que emana das vozes dos coros femininos búlgaros - vozes ainda estranhas para nossos ouvidos, quanto o cruzamento de mundos aparentemente descontínuos. As informações que a música traz nos fazem compreender o modo de pensar dos nossos antepassados (composta de imigrantes, em sua larga maioria) e, com isso, nos ajuda a entender de onde viemos e onde estamos para, assim, sabermos onde desejamos ir.

Evidentemente, a expansão do universo musical vai bem mais além. O diálogo travado no interior da própria linguagem, cruzamento entre idioletos de uma mesma árvore germinadora, realimentam a linguagem, tal como o fizeram o jazz e as formas clássicas e vice-versa, por intermédio de um Ravel, um Stravinsky, um Gershwin ou um Porter... Isto tudo, sem ainda mencionar a sempre inesgotável fonte, as músicas de tradição oral, presentes desde a noite dos tempos.

Sendo assim, é superficial e precipitada a concepção de que o ensino da arte é desnecessário, inútil, para a vida (profissional) futura. Sobretudo, quando temos à nossa frente um grupo de alunos acuados ante a ameaça de cumprir um repertório de conhecimentos que vise a dar satisfação tão somente àquilo que exige a Fuvest. A Fuvest, de sua parte, não exige o conhecimento de arte. Quando muito, um mínimo de literatura - é claro, o futuro engenheiro ou economista precisa saber um pouco de belas letras... No entanto, arte é necessariamente desimportante. E a música, responsável direta pela orquestração do ser humano em seu sentido pleno, como o vêm demonstrando Tomatis e outros tantos estudiosos em Educação Musical. Quem sabe seja esse o fio condutor para os futuros planejamentos dos professores de música e de artes.

Valeu a pena?

Para o leitor que acompanha esta narrativa, podem surgir questões como: Que interesse poderia ter o relato de uma experiência, de certo modo, já antiga, se os alunos mudaram, os métodos de avaliação mudaram, a sociedade mudou? É certo que adaptações devem ser feitas, a medida que mudam as leis e as modas. Mas, no geral, alguns procedimentos, técnicas, idéias constituem o que gostaria de designar como clássicos. Mas a razão maior ainda não está aqui. Muitos dos meus antigos alunos, agora atuando na carreira profissional, criando seus filhos, depararam comigo, acidentalmente várias vezes, em corredores de faculdades e me diziam euforicamente que aquele assunto, que eu tinha dado em aula, estava estudando na faculdade; que na época, não via razão para tudo aquilo, mas agora entendia tudo e estava melhor que os colegas. Foi necessário cozinhar a fogo lento para obter os resultados depurados.  Valeu a pena!

As circunstâncias da vida me apontaram que, para continuar meu trabalho de formação de mentes, teria de correr para outros feudos. Afastei-me do magistério por um tempo, até retomá-lo na pós-graduação. Foi o caminho que tive de percorrer – e este tem me levado a vários cantos deste mundo. Agora trabalho na infra-estrutura daquilo que considero os fundamentos para a estruturação de programas de ensino, ou seja, naquilo que poderá contribuir para uma prática pedagógica mais eficiente. Assim, meu métier centra-se, há vários anos, no estudo de temas estreitamente atados à fundamentação teórica dos tópicos que determinam uma substancial parcela daquilo que deve ser estudado nas escolas, em todos os níveis: as relações entre produção artística, ante os meios de comunicação; o papel das mídias na cultura; a importância da música como veículo privilegiado das mídias.

Notas:

[1] SEVERINO, A.J. Métodos de Estudo no Ensino Médio. São Paulo: Cortez. Este livro é, na verdade, um filhote do livro Metodologia do Trabalho Científico, também editado pela Cortez.

[2] TOMATIS, A. Pouquoi Mozart. Paris: Fixot, 1991, p.139.

Revista Digital Art& - ISSN 1806-2962 - Ano III - Número 03 - Abril de 2005 - Webmaster - Todos os Direitos Reservados

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