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PROJETO BEIJO
Autora: Patrícia Volpe – volpepatricia@ig.com.br

Resumo

Este trabalho relata uma experiência pedagógica que articula os Temas Transversais com a área Artes, realizado em um grupo de 25 alunos do Ensino Médio de uma escola pública estadual O tema transversal selecionado para o projeto foi sexualidade e foram escolhidos artistas, filmes, poesias que abordassem a temática - o ato de beijar e seus sentimentos.

A linguagem abordada foi Artes Visuais, buscando em alguns momentos a interdisciplinaridade. A metodologia do projeto baseou-se na Proposta Triangular (fazer, leitura e historia da arte) para leitura foi adotado o método de Feldman.

Palavras-chave: temas transversais, proposta triangular, história do beijo e interdisciplinaridade e arte educação.

Abstract

Este trabajo relata una experiencia pedagógica que articula los temas transversales con la disciplina de artes, realizado con uno grupo de veinticinco alumnos del  encino medio de una escuela estadual los temas transversales  escogido para el proyecto fue la sexualidad y, para eso fueran elegidos algunos artistas y películas, bien como algunos textos poéticos que presentasen la temática de lo acto de besar y sus sentimientos.

El lenguaje abordada fue las artes visuales, buscando en muchos momentos la interdisciplinaridad. La metodología del proyecto basó use en la pro posta Triangular (hacer, lectura y historia de la arte) para la lectura fue adoptado lo Método Feldman.

Palabras-llaves: Temas Transversales, Propuesta Triangular, Historia del beso, interdisciplinaridad y arte educación.

A justaposição anatômica de dois músculos orbiculares da boca em estado de contração

Dr. Henry Gibbons

Objetivo – As ações descritas referem-se a um projeto da Secretaria da Educação sobre os Temas Transversais e o ensino de Arte. O curso foi ministrado por Neide Nogueira e Luciana Mourão no ano de 2003 no Centro Universitário Maria Antonia e SME. Achei interessante, pois nunca havia conseguido equacionar os temas transversais com artes.

Outra dificuldade que eu sempre encontrava era de selecionar conteúdos que atendessem às necessidades dos PCN e o interesse dos alunos. Sempre procurei buscar conteúdos que desperte o interesse dos alunos, pelas manifestações artísticas da humanidade. O tema sexualidade dos PCN me pareceu casar perfeitamente com algumas obras de artes

Sempre adotei em minha prática a Proposta Triangular de Ana Mae [1], e todas às vezes que eu levava a obra do Klimt nós discutíamos a imagem, mas não conseguia que eles compreendessem a intensidade da emoção daquela imagem. Só foi capaz de que eles vissem a estética (cor, movimento e textura). Mas toda a bagagem emocional por de trás de um beijo, isto eles não conseguiam colocar em seus trabalhos, a importância do ato de beijar.

Quando fiz o curso sobre os Temas Transversais e a Arte conseguir descobrir o que faltava na minha metodologia – a discussão da temática – o ato de beijar. Então, resolvi aplicar o projeto em uma turma do noturno do Ensino Médio, de uma escola pública. Fiz uma vasta pesquisa na internet sobre a origem do beijo, desde o significado da palavra, seu significado nas diversas cultural e nas artes [2], para depois abordar as obras de artes. Tinha como objetivo levar o aluno a compreender o lirismo e os sentimentos expressos nessas obras de arte, tanto imagem como poesia. Para, desta maneira, desenvolver sua sensibilidade perante a obra. Se a temática não tocar o aluno de alguma forma, como poderá ele produzir algo?

O projeto foi denominado BEIJO e sua estrutura foi dividida em 4 etapas, na primeira etapa, a investigação sobre o significado do beijo para o aluno, segunda etapa contextualização - conhecimentos históricos e biológicos sobre o beijo além de curiosidades sobre o assunto; na terceira a leitura de várias imagens numa abordagem metodológica do Feldman, como comparação com outras linguagens (poemas, canções etc), na quarta etapa, o fazer artístico do aluno referente ao tema. Além da divisão de conteúdos o projeto traz sugestões de atividades e dicas de interdisciplinaridade.

1ª Parte – Investigação do tema

É fundamental sabermos o que o beijo significa para o adolescente, verificar que importância o beijo tem na vida deles. Pois podemos nos enganar se pensamos que os adolescentes não dão importância ao ato de beijar. Alguns encaram como um passo muito importante nesta nova fase da sua vida, onde eles deixam a fase infantil e passam para fase da adolescência[3]. Alguns alunos não beijam simplesmente por beijar, consideram isto “um ato muito íntimo, que deve ser dado em alguém especial, na hora especial”, pois através do beijo é que conhecemos o outro. Para alguns isto é tão importante quanto primeira transa.

Atividade realizada

Nesta primeira etapa foi feito um questionário diagnóstico para descobrir a opinião do aluno sobre o ato de beijar.

Verificando que tínhamos opiniões diferentes dentro do grupo, o tema foi aberto para debate, e foi possível ter uma visão global da opinião de todos e todos puderam se posicionar. Após o debate, os alunos se reuniram em grupos de cinco pessoas e tiveram que elaborar frases que definissem a importância de beijar e os sentimentos que isto nos causa. Um grupo de meninas resolvera criar uma ‘receita de como beijar’, este foi o trabalho mais criativo da turma. Como segunda tarefa, os grupos fizeram um dicionário sobre tipos de beijos e os significados, criando assim um dicionário do beijo. Os trabalhos desta primeira etapa foram feitos em forma de cartaz e ficaram expostos na sala de aula.

2ª Parte – Contextualização do tema

Nesta fase foram apresentadas aos alunos todas as informações recolhidas sobre o beijo. O significado da palavra, das diferenças nas culturais Segue abaixo o material didático exposto em aula.

ORIGEM DO BEIJO NA HISTÓRIA

Nenhum historiador ou antropólogo sabe ao certo sobre a origem e data do primeiro beijo, mas alguns se arriscam a dizer que o osculo – nome latino para o beijo - pode ter cerca de três mil anos aC como registro cultural no Ocidente e era o gesto mais comum de adoração de deuses e deusas, como na Suméria, região da antiga Mesopotâmia, conhecida hoje como Ásia. Entre os Persas, na antigüidade, os homens trocavam beijos na boca, mas só valia para pessoas do mesmo nível social. Se um dos homens fosse considerado hierarquicamente inferior, o beijo deveria ser dado no rosto.

Apesar dos gregos adorarem beijar, até a metade do século IV aC os beijos na boca só eram permitidos entre os pais e filhos, irmãos ou amigos muito próximos. O filósofo Platão já declarava sentir gozo ao beijar. E talvez por isso sejam os romanos os responsáveis pela difusão do beijo na cultural ocidental.

Os romanos tinham três tipos de beijos: o basium, trocado entre conhecidos, o osculum, dado apenas em amigos íntimos; e o suavium, que era o beijo dos amantes. Os Imperadores permitiam que os nobres mais influentes beijassem seus lábios, enquanto os menos importantes tinham de beijar suas mãos. Os súditos podiam apenas beijar seus pés.

Na Idade Média, o beijo era uma forma de selar acordos. Com a boca fechada, os beijos eram dados com firmeza, do contrário, demonstravam traição. Mas foi um hábito que se perdeu com a chegada da Peste. O medo de pegar essa doença fatal de um vizinho, ou amigo, fez com que as pessoas começassem a tirar o chapéu, curvar-se, fazendo reverências e apertar as mãos como novos gestos populares de cumprimento.

Nessa mesma época, a Igreja Católica proíbe o beijo que possuísse qualquer conotação libidinosa, dando origem ao beijo da paz. Este era a saudação entre os religiosos cristãos que simbolizava a caridade e unia os cristãos durante a missa.

O BEIJO NO CINEMA

Já no Oriente, o beijo é considerado um ato intimo demais para ser dado em público, mas a China foi o primeiro país oriental a permitir a exibição de um beijo na tela. O filme em questão se chamava Two womem in the house (Duas Mulheres na casa) e era estrelado por Mamie Lee. No Japão, por causa do chefe de polícia de Tóquio, que achava o ato de beijar sujo e indecoroso, foram apagados dos filmes norte-americanos mais de 243.840 metros de cenas de beijos. Mas o primeiro beijo na historia do cinema foi dado por John C. Rice e Mary Irwin no filme The Kiss (O beijo), em 1896. E a partir daí o beijo fez muitas histórias e tornou-se até mesmo uma forma de autógrafo entre as estrelas. Em 1979 David Bowie inventou o lipograph, que consiste em imprimir a marca dos lábios de uma pessoa no papel, simbolizando um autógrafo íntimo. Um leilão de lipographs famoso, realizado na América, para levantar fundos para a fundação Save the Children, arrecadou US$ 16,000. Só um beijo de Mick Jagger foi arrematado por US$ 1,600.

O BEIJO E AS REAÇÕES DO ORGANISMO

Calorias

O ato em si é capaz de movimentar 29 músculos, sendo 12 dos lábios e 17 da língua. Durante um beijo, a pulsação cardíaca pode subir para algo em torno de 150 batimentos por minutos. Também ajuda a queimar calorias, de 3 a 15, num beijo intenso. Mas certamente não foi pensando em queimar calorias que um soldado fez do seu beijo inusitado uma das cenas mais marcantes em meio às comemorações pelo fim da 2ª Guerra Mundial. Emocionado com o fim do conflito, o soldado beijou a primeira mulher que encontrou na rua, era uma enfermeira, Oportunamente, o fotografo Alfred Eisenstaedt clicou o momento exato da cena, A foto foi publica na revista Life, e rodou os quatro cantos do mundo.

Cientificamente o beijo apresenta números interessantes. Quando você beija, esta trocando, além de carinho cerca de 250 bactérias na saliva, nove miligramas de água, 18 substâncias orgânicas, sete decigramas de albumina (proteína solúvel em água), 711 miligramas de materiais gordurosos e 45 miligramas de sais minerais. Melhor do que isso é saber que um beijo desencadeia a libertação de substancias neurotransmissoras que provocam sensações de bem-estar e excitação como a adrenalina, a dopamina e a serotonina.

Atividade realizada

As atividades desta etapa foram simples. O mesmo grupo optou por uma parte da história do beijo criando assim painel, organizando as informações de forma esquemática.

3ª Parte – Leitura das imagens.

Para esta etapa as obras escolhidas foram, Picasso, Klimt, Rodin e Di Calmanti, cenas de filme (“Homem Aranha”, “E o Vento Levou” e “Casablanca”), todas imagens retiradas da internet.

Para leitura das imagens foi escolhida a metodologia de Edmund Feldman que busca exercitar a atenção para a leitura da imagem através de quatro operações essenciais, a saber: 1) Descrição, 2) Análise, 3) Interpretação e 4) Julgamento.

Descrição – neste estágio sugere-se fazer uma lista detalhada de objetos e formas contidas na obra; descrevendo tudo o que vê. Esse exercício ajuda o observador a se deter mais longamente a observar a obra e ao mesmo tempo descobrir coisas ou detalhes que não haviam sido capitados à primeira vista.

Analise – É a observação do procedimento daquilo que vemos na obra de arte. Estuda-se a relação de tamanho, localização das formas no espaço, a relação cor e textura, enfim os elementos estéticos da obras.

Interpretação – É o estágio em que, baseado nos elementos descritos e analisados da obra, o observador vai dar significado ao trabalho de arte. Usam –se palavras para descrever idéias que explicam as sensações e sentimentos que temos diante do objeto de arte.

Julgamento - Decide-se sobre o valor estético da obra. É o momento de explicitar as razões porque o trabalho em estudo é bom ou ruim.

Primeiramente as imagens foram projetadas e discutidas em grupo. Fui indagando os alunos sobre as imagens seguindo a estratégia de Feldman. Na leitura oral busquei levar questões que já havíamos discutido em sala anteriormente como: O que a imagem nos lembrava? Que emoções há nela? O que o artista quis transmitir com aquele beijo? Discutimos a questão da afetividade (carinho e amor).

Também foi contextualizado o período em que cada artista concebeu a sua obra, as diferenças históricas, dando ênfase nos motivos das diferenças estéticas. Os alunos foram capazes de observar que, apesar das mudanças na representação do tema, desde o figurativo até a visão modernista, o significado foi mantido.

Após as leituras das obras de arte, interagi com imagens do cotidiano, fotos de revistas e imagens de homossexuais. Um outro ponto indiretamente relacionado ao assunto e que poderá ser explorado é a questão da pornografia e o erotismo. Qual a diferença entre ambos?

Atividade realizada

Após a leitura coletiva, os alunos deveriam escolher duas imagens e compará-las criando assim uma dissertação sobre as imagens, ou criar um artigo de jornal sobre a obra que mais gostou. Nesta parte poderá ocorrer uma interação com a disciplina de Língua Portuguesa.

Como sugestão pode-se criar um jornal ou artigos para ser colocado no mural da escola. É fundamental que o aluno saiba expressar a sua opinião sobre as imagens de maneira formal, linguagem escrita. Pois com isso estamos estimulando a escrita e familiarizando-o com o vocabulário próprio da estética.

A outra disciplina que pudemos também interagir foi a Matemática. A partir das discussões em aula, os alunos puderam elaborar uma pesquisa de opinião pública.

4ª Parte – Representação gráfica do tema

Para finalizar o projeto veio a parte mais importante, a representação visual sobre tudo o que foi visto e discutido. A maneira de representação poderia ser variada; de música, poema, teatro, vídeo (com depoimentos de pessoas sobre o tema, entrevista ou um documentário) instalações, pintura, colagem. Enfim qualquer representação dentro das quatro linguagens que os grupos quisessem utilizar. O mais importante era expressar a essência da temática – a importância do ato de beijar, que as informações levantadas nas discussões (como a emoção que as imagens transmitiram) deveriam estar explicita em seus trabalhos, independentemente da linguagem utilizada. Apesar de ter permitido os trabalhos nas outras modalidades das Artes, só tivemos trabalhos dentro da linguagem de Artes Visuais.

Atividade realizada

Como era uma turma de 25 alunos freqüentes, creio que isso facilitou a organização da sala. Logo elaboram o trabalho final que iriam apresentar na Semana Cultural[4]. Os trabalhos ficaram divididos em grupos de, no máximo, três pessoas e deveriam abordar qualquer uma das discussões feitas em sala.

Um grupo fez um painel com vários beijos-autógrafos, conseguiram mais de 100 cartões entre beijos de meninas e meninos, que não se incomodaram de passar batom.

Outro grupo preferiu criar um documentário sobre o primeiro beijo. Saíram com uma câmera de vídeo e entrevistaram todos na escola, entre professores, funcionários e colegas.

Os mais íntimos com o computador elaboraram uma apresentação no Power Point, com as imagens e frases pesquisadas.

Outro grupo optou por releitura da obra de Klimt. Feita sobre cartolina com guache.

Outro grupo fez uma pintura de duas mulheres se beijando, cartolina sobre guache.

A montagem final da sala para exposição na Semana Cultural ficou por conta do grupo-líder da sala, uma equipe que planejou, dividiu e supervisionou o trabalho. Na sala de exposição, haviam releituras das obras apresentadas, bocas enormes dependuradas no teto; mapa mundi, com os tipos de beijo de cada continente. Um banner com um dicionário de tipos de beijos (material este que já havia sido confeccionado). Um computador para que os visitantes vissem o trabalho feito no Power Point. Uma televisão com o documentário e um painel contando a origem do beijo e suas curiosidades.

Confesso a todos que pela primeira vez em 10 anos de magistério consegui motivar tanto os meus alunos e colegas de escola. Pois os alunos acabaram envolvendo todos, sem exceção Tudo que os professores viam sobre o beijo traziam para os alunos.

Temas abordados

Gerais

Homossexualismo
Discriminação
Sexualidade
Pornografia e erotismo
Valores morais e sociais

Em artes

Expressionismo
Modernismo
Biografia de artistas
Diferentes representações, escultura e pintura.
Textura
Leitura de obra de arte

Referências:

BARBOSA, A.M. Imagem no ensino de artes. Perspectivas, 2002.
BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria da Educação Médio e Tecnológico. Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Médio. In. Linguagens e seus códigos e tecnologia - Artes – pág 169 a 183. Brasília, MEC/SEF 1999.

_______, Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais –Arte – Ensino Fundamental Ciclo – 3º e 4º - In – Temas Transversais, Brasília: MEC/SEF. 1998.

BUORO, A.B. Olhos que pintam. A leitura da imagem e o ensino da arte. São Paulo:Cortez, 2002.

PAREYSON, L. Os problemas da Estética. São Paulo:Martins Fontes, 1989.

PEDROSA, S.G. Empatia ou dificuldade com a Arte Contemporânea. In: Anais do IX Encontro Nacional da ANPAP. V.1 PP.111-120.

Notas:

[1] Proposta triangular fazer – Através da produção a criança pensa inteligentemente acerca da criação de imagens visuais. Leitura – a necessidade de alfabetizar visualmente os nossos alunos, preparando-os para uma decodificação da gramática visual. A história da arte (contextualizar) ajuda a entender algo do lugar e tempo nos quais as obras de arte são situadas.

[2] Nas artes entende-se cinema, literatura, artes visuais.

[3] O filme O PETER PAN, retrata essa fase de transição.

[4] A semana cultural é sempre realizada na 2ª semana de dezembro. A temática sempre fica á critério da classe.

 

 

Revista Digital Art& - ISSN 1806-2962 - Ano III - Número 03 - Abril de 2005 - Webmaster - Todos os Direitos Reservados

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