:: Filmes Comentados ::

A seção de Filmes Comentados esse número traz uma entrevista com o sociólogo Alexandre Kishimoto, coordenador do projeto Cinema e Vídeo Brasileiro nas Escolas e o comentário do filme Nascidos em Bordéis.

Editora Responsável: Profª. Ester Marçal Fér


ISSN 1806-2962

Clique aqui e veja uma lista de filmes, comentados, para uso em aula. Escolha o seu, assista, monte sua estratégia de uso e incremente suas aulas com o recurso dos filmes! Seus alunos vão adorar! Depois, conte prá gente como foi! Vamos adorar publicar seu relato de caso!

Entrevista com Alexandre Kishimoto

Ampliar o repertório cultural de educadores e alunos da rede pública a partir da interação com a produção audiovisual brasileira é um dos objetivos do projeto Cinema e Vídeo Brasileiro nas Escolas, desenvolvido desde 2001 pela Ação Educativa em parceria com o Programa Crer para Ver (Fundação Abrinq e Natura Cosméticos), em escolas e órgãos administrativos da rede escolar da Zona Leste da cidade de São Paulo.

O projeto propõe diferentes caminhos para a aproximação das comunidades escolares com a linguagem audiovisual: do acesso à diversidade da filmografia nacional por meio de videotecas escolares e mostras temáticas em vídeo, passando pela formação dos educadores para a análise dos recursos audiovisuais e sua incorporação no trabalho educativo, até o estímulo a expressão de professores e alunos por meio da produção local de vídeos. Alexandre Kishimoto, coordenador do projeto, nos explica com maiores detalhes como se dá essa relação do audiovisual na escola:

1. Como o cinema e o vídeo têm sido incorporados no dia-a-dia das escolas através do projeto?

O projeto Cinema e Vídeo Brasileiro nas Escolas propõe diferentes caminhos para a aproximação das comunidades escolares com a linguagem audiovisual: do acesso a diversidade da filmografia nacional por meio de videotecas escolares e mostras temáticas em vídeo, passando pela formação dos educadores para a análise dos recursos audiovisuais e sua incorporação no trabalho educativo, até o estímulo a expressão de professores e alunos por meio da produção local de vídeos.

Inicialmente (2001) o projeto foi implementado em 3 escolas públicas da Zona Leste de São Paulo. A partir de 2003, passa a atuar em órgãos administrativos da rede escolar – Diretorias Estaduais de Ensino Leste 1 e 2, Coordenadorias Municipais de Educação de São Miguel e Ermelino Matarazzo. Em termos quantitativos, este empenho resultou na formação de 251 professores no curso Leitura do Audiovisual, de 62 professores e 21 alunos no curso Produção em Vídeo Digital e no envolvimento de 5.801 integrantes das comunidades escolares nas vivências e mostras temáticas de vídeo. Neste conjunto de ações realizadas, 103 escolas municipais e 177 escolas estaduais foram representadas pelos educadores e alunos que delas participaram.

Em avaliações sobre os impactos das ações do projeto na prática educativa dos professores, detectamos 4 tipos de uso do vídeo no dia a dia das escolas: 1. Sensibilização dos alunos para a produção audiovisual brasileira - prática que leva à desconstrução dos preconceitos sobre o cinema brasileiro e à ampliação do repertório cultural de professores e alunos; 2. Apoio ao desenvolvimento de conteúdos curriculares - inovação do trabalho docente utilizando-se o audiovisual como recurso em aulas de Português, História etc.; 3. Apoio a projetos coletivos desenvolvidos nas escolas – trabalhos que articulam professores de diferentes matérias em torno de projetos temáticos (meio ambiente, cultura popular etc.); 4. Análise da linguagem audiovisual – leitura crítica de obras audiovisuais e meios de comunicação empreendida pelos professores com seus alunos.

Além desses usos em sala de aula, os professores vêem realizando exibições de filmes e vídeos para a comunidade escolar e moradores do entorno da escola, e discussão do audiovisual nos horários de planejamento coletivo, situação em que os educadores que passaram pelo curso de formação socializam saberes e práticas junto aos seus colegas.

2. Que influências o audiovisual propicia ao aprendizado dos alunos?

Os professores com os quais atuamos têm indicado que o aporte do projeto vem contribuindo para o processo de ensino-aprendizagem:

Como professora de História esse projeto é muito importante pois complementa minhas aulas. Criei o hábito de trabalhar com o vídeo e só obtive bons resultados. Percebí nos alunos um entusiasmo quando suas dúvidas eram esclarecidas com a ajuda do recurso audiovisual.” (Maria José da Siva - EE Padre Antão)

A contribuição mais importante do projeto Cinema e Vídeo é que os alunos perceberam que as aulas de vídeo além de serem recreativas também são excelente material de apoio no processo de aprendizagem, tanto para os professores como para os alunos.” (Solange Batista do Carmo - EE Luigi Pirandello)

Ampliou minha visão em relação aos filmes, documentários, propagandas. Na prática com a ajuda do audiovisual é mais fácil despertar o interesse do aluno.” (Sandra Mara Hossota Ribeiro - EE Prof. Milton Cruzeiro)

3. Qual a orientação e direcionamento que o projeto fornece para a questão da produção audiovisual pelos alunos e professores?

A produção de vídeos pelas comunidades escolares foi uma demanda apresentada pelos professores participantes das formações iniciais que colocou um desafio novo para o projeto: como contribuir para o aperfeiçoamento técnico e expressivo de professores e alunos com a linguagem audiovisual, tendo como meta a autonomia das escolas como núcleos de produção audiovisual?

A estratégia em andamento consiste em realizar cursos práticos de produção em vídeo digital envolvendo professores e alunos, dotar as escolas de equipamento de filmagem (câmera de vídeo digital, microfones e equipamento de luz), tornar disponível uma ilha de edição digital para a finalização dos vídeos realizados nas escolas e contribuir para a visibilidade destes trabalhos.

Desde 2003 (ano de primeiro curso Produção em Vídeo Digital), 7 documentários produzidos por professores e alunos já foram finalizados: Sarará – a trajetória de uma b-girl (dançarina de RAP) do bairro de Sapopemba; Vida – a relação entre o desenvolvimento econômico e o desequilíbrio ambiental; Ex-cola – a mobilização de uma comunidade escolar pela manutenção de seus cursos técnicos; Fiquei – a gravidez na adolescência abordada em depoimentos de alunos da escola; Mais que um número – a vida de quatro alunos da EMEF Antonio Carlos de Andrada e Silva fora da escola; Quimo Memória – memória de ex-trabalhadores sobre a Companhia Nitro Química, indústria que exerceu importante papel no desenvolvimento de São Miguel Paulista a partir da década de 30.

Dessas experiências, duas características se destacam: a realização de vídeos na escola como possibilidade de produção de conhecimento com a participação dos alunos, ao invés da mera reprodução de dados e saberes consolidados; o registro e valorização da memória local.

4. Quais são os principais desafios que o projeto tem para o futuro?

A fase atual do projeto, que conta com o apoio do Programa Crer para Ver (Fundação Abrinq e Natura Cosméticos), será finalizada em dezembro de 2006. Neste âmbito, o projeto tem pela frente dois grandes desafios: realização cursos de formação para formadores e elaboração de material pedagógico específico, tendo em vista a multiplicação dos saberes e práticas relacionados ao ensino com o audiovisual nas redes escolares.

No plano geral, os desafios do projeto são: a criação de um banco digital de matrizes em vídeo, tendo em vista facilitar o acesso de escolas e bibliotecas públicas de todo o país a formatos e títulos da filmografia nacional não disponíveis comercialmente (curta-metragens, documentários etc.) e o intercâmbio, entre os projetos de educação audiovisual desenvolvidos no país, para que as diferentes metodologias de formação possam ser sistematizadas e difundidas, com o propósito de influenciar tanto o currículo da formação inicial de educadores, a cargo das faculdades de educação, quanto o dos cursos de aperfeiçoamento oferecidos pelas secretarias públicas de educação.   

 

Nascidos em Bordéis

(Born Into Brothels: Calcutta's Red Light Kids)

Diretor: Zana Briski, Ross Kauffman
Produção: Zana Briski, Ross Kauffman
Roteiro: Zana Briski, Ross Kauffman
Fotografia: Zana Briski, Ross Kauffman
Trilha Sonora : John McDowell
Duração: 85 min.
Ano: 2004
País: EUA/ Índia
Cor: Cor
Distribuidora: Focus Filmes
Site Oficial: http://kids-with-cameras.org/bornintobrothels/film.php

Ganhador do Oscar de Melhor Documentário em 2004, este documentário é o retrato do trabalho realizado pela diretora Zana Briski com crianças nascidas nos bordéis do bairro da luz vermelha em Calcutá, Índia.

Zana pretendia fotografar as crianças que vivem neste ambiente violento e miserável. Para isso, decide viver nos cortiços e conviver dia-a-dia com os filhos e filhas das prostitutas. Porém, em vez de tirar fotos, a diretora prefere dar as câmeras para que as próprias crianças registrem a sua realidade. A partir daí, inicia-se um processo de recuperação da auto-estima e do destino de cada criança.

A partir dessa experiência, os diretores criaram a fundação Kids with Câmeras (Crianças com Câmeras), uma organização que ensina a arte da fotografia para crianças marginalizadas ao redor do mundo.

Ester Marçal Fér 
Editora Filmes Comentados 

 

Revista Digital Art& - ISSN 1806-2962 - Ano IV - Número 05 - Abril de 2006 - Webmaster - Todos os Direitos Reservados