:: Fala Professor! ::

Editor Responsável: Prof. Pio Santana.

1. Nome do professor e local de trabalho: Mariane Abakerli, Escola Ágora de ensino fundamental.

2. Formação do professor: Faculdade de Comunicação Visual da Universidade Mackenzie. Graduação em Desenho Industrial. Concluído em 1989. Faculdade Belas Artes de São Paulo. Pós-Graduação “Latu-sensu”, na área de Arte e Tecnologia. Concluído em abril de 2001. Curso de formação para professores. Licenciatura em artes plásticas. Faculdade de Belas Artes de São Paulo. Concluído em 2000

3. Quais as principais influências e/ou teóricos que norteiam seus trabalhos?

Não existe um único artista ou período. As escolhas são feitas pela necessidade do grupo ou pelo tema que trabalharão. Mas, existe uma grande tendência de trabalhar sempre com a arte contemporânea. Muitas vezes, começo com um clássico mas também mostro o que está acontecendo hoje, no mundo deles.  Alguns exemplos: Mira Schendell, Pollock, Will Eisner, Waltércio Caldas, Regina Silveira, Hélio Oiticica, Giacometti...

4. Experiência profissional:

Quinze anos de experiência profissional nas áreas de artes plásticas, cenografia, criação e desenvolvimento de objetos, maquetes e produtos e design gráfico (projeto e diagramação) para empresas, museus e entidades culturais; e dez anos de experiência profissional em magistério, ministrando aulas de artes plásticas, cenário e figurino para crianças, adultos e profissionais da área.

5. Dados da experiência relatada: Atividade foi realizada no primeiro bimestre de 2004 com os alunos da 7ª e 8ª série da Escola Ágora.

Para trabalhar o aniversário de São Paulo com as sétima e oitava séries, pensei em fazer o inverso: em vez de começar pelo grande, o cosmopolita, comecei pela “província” que cada um conhece bem: a própria escola. Mas não o todo, fragmentos. A partir de fotografias de detalhes da escola, os alunos foram reconhecer estes lugares e, então, desenharam todo o entorno com riqueza de detalhes. Com os desenhos em mãos, os alunos fizeram pequenas molduras e destacaram um outro fragmento. Partimos, então, do pequeno para o grande e voltamos para o pequeno novamente, para que se operasse uma mudança no olhar. Esses novos fragmentos já não têm mais características figurativas, são imagens geométricas feitas a partir da paisagem orgânica e que, por sua vez, se transformaram em uma construção mais urbana, como a fachada de um prédio.

Antes de chegar à forma final, os alunos “brincaram” com vários fragmentos retirados dos desenhos. Nesse meio tempo, vimos as fotografias do artista Cristiano Mascaro, que retrata a cidade em preto e branco e que também brinca com nosso olhar, sugerindo outras possibilidades, principalmente, quando nos deixamos ficar um pouco mais nas imagens. Ao longo da conversa, os alunos perceberam que as fotos não foram tiradas ao acaso, mas com muito planejamento e cuidado e que, por exemplo, a sombra das pessoas pode fazer muita diferença, assim como a ausência total de transeuntes também faz.

Uma das fotos, no entanto, serviu de guia para nosso trabalho. São duas fachadas, compostas de módulos: ou janelas que se repetem, ou janelas inseridas dentro de quadrados, formando, assim, a fachada (contínua) do prédio. 

Então, os fragmentos retirados dos desenhos, foram deslocados, invertidos e espelhados de modo a criar um módulo que, repetido em posições variadas, formasse a fachada, ou pelo menos a construção geométrica dos prédios da cidade de São Paulo.

Chegamos à cidade, a partir das fotos e das fachadas.

Os alunos construíram carimbos para trabalhar com a repetição dos módulos, a partir de retalhos de E.V.A. e madeira para a base.

Com a fachada pronta, fomos para a xilogravura, uma espécie de “carimbo”, mais sofisticado, pois se trata também de repetição e reprodução, assim como a fotografia que, depois de pronta, pode ser reproduzida infinitamente. Os alunos poderiam trabalhar com a imagem toda ou só um fragmento. E ainda desenvolver a percepção do cheio e do vazio: onde o aluno escava, não imprime, fica sem tinta tem, então, a opção de cavar nas linhas ou nos planos, com efeitos muito diferentes.

Essas atividades foram desenvolvidas passo a passo, sempre mantendo a idéia de que uma etapa compreende a anterior. Dessa maneira, vamos nos aprofundando no projeto, literalmente construindo o trabalho, mas baseados na percepção e não no simples fazer. Ao trabalhar dessa forma, pretendo fazer com que os alunos consigam ver além da sala de artes, que eles transportem um pouco disso para o dia-a-dia, para fora das janelas do carro, nas caminhadas pelas ruas... É, enfim, ampliar a percepção.

6. Qual a motivação para continuar “em frente” mesmo com as dificuldades? Por quê faz isso?

Acredito muito no trabalho do professor como formador de cidadãos integrados ao seu meio e à sua época. Acho também, que as experiências estéticas e sociais promovidas pela(s) arte(s) são capazes de humanizar os indivíduos e de retirá-los da anestesia consumista que estamos vivendo e, com isso, ajudá-las a tornarem-se pessoas mais felizes, éticas e produtivas.


ISSN 1806-2962

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Revista Digital Art& - ISSN 1806-2962 - Ano IV - Número 05 - Abril de 2006 - Webmaster - Todos os Direitos Reservados