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Teatro na Escola: uma possibilidade para superar os desafios do futuro.
Autoras: Graciele Batista Gonzaga[1] e Lina Paula de Fátima Braga[1]; Professor colaborador: Fabrício Andrade[2].

Resumo: Este artigo discute a importância do teatro como uma disciplina, que possibilita a construção do conhecimento. Aponta-se a necessidade de determinadas mudanças acerca das percepções do teatro na escola, sendo uma disciplina e não mais como oficina e/ou atividades extracurriculares.

Palavras chave: teatro; educação; arte; disciplina.

Abstract: This article talks about the importance of play as a study subject, which enables knowledge construction. It points out the need of certain changes to be put into operation at schools, in order to treat play within the scope of a regular curriculum carrying academic credit.

Keywords: theater; education; art; subject.

Introdução

Este artigo discute a possibilidade da expressão teatral contribuir na construção do conhecimento e no desenvolvimento da formação global do aluno. Barbosa (1991, p.5) defende que:

Não é possível uma educação intelectual, formal ou informal, de elite ou popular, sem arte, porque é impossível o desenvolvimento integral da inteligência sem o desenvolvimento do pensamento visual e do conhecimento presentancional que caracterizam a arte.

Propõe-se que o teatro seja reconhecido como uma disciplina, mas o desejável seria uma discussão e uma reflexão crítica que aponte possibilidades para que essa idealização aconteça na educação. Ao defender essa proposta deparamos com a desvalorização do trabalho com as expressões artísticas, apesar das propostas da LDB[3] 9394/96 e dos PCN’s[4] avançarem a respeito deste tema e de haver ainda a necessidade de discussões e mudanças.

Por meio de pesquisas bibliográficas sobre a temática e a partir das discussões na orientação de monografia, Teatro na Educação: perspectivas e possibilidades para a formação global, orientada pelo professor Fabrício Andrade², buscou-se autores – como  Ana Mae Barbosa, Ingrid Koudela, Ricardo Otoni Vaz Japiassu, Arão Paranaguá Santana – que abordam o assunto de forma a evidenciar que as expressões teatrais são vistas equivocadamente, ou seja, só as conseqüências promovidas por essa expressão são percebidas, esquecendo-se a possibilidade de construção de conhecimento.

As Expressões Teatrais na Escola

Um avanço importante para o desenvolvimento das expressões artísticas na escola foi a atual legislação educacional brasileira – LDB 9394/96 – e o PCN de arte. O ensino de artes torna-se  obrigatório na Educação Básica. >

§ 2º O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos (Brasil, 1996, p.10).

O PCN de arte incorpora os eixos norteadores: produzir, apreciar e contextualizar associado à expressividade e à construção do conhecimento. Propõe quatro expressões artísticas (artes visuais, teatro, dança e música) para serem desenvolvidas no Ensino Fundamental.

São características desse novo marco curricular as reivindicações de identificar a área por Arte (e não mais por educação Artística) e de incluí-la na estrutura curricular como área, com conteúdos próprios ligados à cultura artística e não apenas como atividade (BRASIL, 1998, p.30).

Consideramos que as expressões artísticas são conhecimentos e não apenas atividades mecânicas ou de recreação como eram trabalhadas na escola. Arte é um saber como as outras disciplinas. Barbosa (1991, p.6) defende que:

[...] “precisamos continuar a luta política e conceitual para conseguir que arte seja não apenas exigida mas também definida como uma matéria, uma disciplina igual as outras no currículo. Como a matemática, a história e as ciências, a arte tem um domínio, uma linguagem e uma história. Se constitui, portanto, num campo de estudos especifico e não apenas em mera atividade.

Nessa perspectiva, com uma mudança de percepção de arte, o aluno poderá pesquisar, conhecer, ver, sentir e escolher formas artísticas que lhe agrade e construir conhecimentos significativos com uma visão crítica e reflexiva. Busca-se uma proposta de artes que possibilite ao educando tornar-se um sujeito mais autônomo e, conseqüentemente, mudar certas idéias já existentes na área, como a crença de que arte é para um determinado grupo social ou mitos difundidos como o de que apenas aqueles que possuem talento podem ser artistas e terem acesso a conhecimentos de artes. Spolin (2001, p.3) adverte que “ ‘Talento’ ou  ‘falta de talento’ tem muito pouco a ver com isso”.

Acredita-se, também, que na produção de arte não apenas há a presença da emoção, mas também da racionalidade. Maturana afirma que “pertencemos, no entanto, a uma cultura que dá ao racional uma validade transcendente e ao que provém de nossas emoções, um caráter arbitrário” (MATURANA, 2002, p.52). As expressões artísticas estão interligadas à emoção, será que por isso a sociedade desvaloriza seu conhecimento? Estas são vistas como algo supérfluo, não valorizadas. O homem está inserido no mundo cultural, não valorizar esses conhecimentos seria negar sua própria existência.  Não é possível o desenvolvimento de uma cultura sem o desenvolvimento de formas artísticas (BARBOSA, p.5). A cultura marca fortemente os elementos teatrais devido também aos costumes, crenças e ideais presentes em cada povo. Sendo uma maneira de o homem se encontrar como ser humano, possuidor de racionalidade e emoção que são características que o distingue dos outros animais. Para Morin:

O homem somente se realiza plenamente como ser humano pela cultura e na cultura. Não há cultura sem cérebro humano (aparelho biológico dotado de competência para agir, perceber, saber, aprender), mas não há mente (mind), isto é, capacidade de consciência e pensamento, sem cultura. (MORIN, 2004, p.52).

A arte integra a cultura que está em constantes transformações. Isto possibilita a ampliação da produção e da ressignificação do conhecimento. Por isso, o desenvolvimento de conhecimentos artísticos, integrados aos já existentes na grade curricular da escola, é primordial para uma formação global que visa todas as áreas dos saberes.

A pretensão da proposta dos conteúdos de arte, segundo o PCN, é valorizar a diversidade cultural do aluno, perceber, assim, a arte como manifestação ideológica cultural. Dessa forma, a contextualização é relevante no processo de construção do conhecimento. Morin afirma que “todo conhecimento, para ser pertinente, deve contextualizar o seu objeto” (MORIN, 2004, p.37). O trabalho de arte é, muitas vezes, desarticulado, ou seja, sem conexão com os outros saberes. Dessa forma, percebe-se presente nas escolas um trabalho ainda de maneira insuficiente nas artes visuais, deixando as outras expressões com um tempo menor ou nem são desenvolvidas.

Nas artes visuais ainda domina a sala de aula o ensino de desenho geométrico, o laissez-faire, temas banais, as folhas para colorir, a variação de técnicas e o desenho de observação, os mesmos métodos, procedimentos e princípios ideológicas” [...] (BARBOSA, 1991, p.12).

Nos PCN de arte cada expressão artística é considerada como conteúdo a ser desenvolvido na disciplina de Artes. Assim, o teatro é percebido apenas como um conteúdo de arte. No entanto, essa expressão pode ser uma disciplina, já que é um conhecimento como qualquer outro saber existente na escola. Segundo Koudela (2001), a área carece de caracterização de conteúdos específicos substituídos na maioria das vezes por objetivos educacionais amplos, que poderiam ser atingidos por qualquer outro campo de estudo. Não sendo uma disciplina obrigatória pela legislação educacional brasileira, o teatro, então, poderá ser uma disciplina optativa nos currículos escolares.

O aluno possui o direito de conhecer diversas manifestações culturais. Porém, percebe-se que o acesso às múltiplas expressões artísticas, é privilégio de uma minoria. Uma das propostas de trabalho com arte é à valorização da diversidade cultural. Assim, é importante que os educandos tenham a possibilidade de conhecer diferentes expressões artísticas. Dessa forma, haverá um diálogo entre as diversas proposições ideológicas e culturais ao explorar as especificidades, as semelhanças e os contrastes existentes nessas expressões artísticas.

Ao desenvolver a expressão teatral é relevante perceber o contexto e, principalmente, articular com outras perspectivas, com a possibilidade de comparar, analisar, e fazer outras leituras dessa expressão artística. No teatro moderno, vários elementos influenciam na construção de uma peça teatral. No inicio do século XX, Brook (1999, p.43) acreditava que, “o local, o contexto social e político, o pensamento e a cultura dominantes têm que influir na criação de uma ponte entre o tema e o público, na determinação do que afeta as pessoas”.  Nessa perspectiva, os elementos culturais são importantes na construção de conhecimento e no desenvolvimento do teatro.

Logo, percebe-se que o teatro pode ser um encontro cultural e social. Esses elementos estão presentes nas encenações teatrais, que se apropriam de ideais para simular e/ou criar situações para serem representadas. O teatro é uma maneira de expressar opiniões e ideais, logo, não é apenas para divertimento, mas um manifestador de pensamentos sociais e culturais. Teatro tem uma grande importância que, geralmente, é ignorada pela sociedade. O teatro é político. Permite analisar o contexto social através de um processo reflexivo em que, por meio da abstração, do distanciamento ou da identificação, na representação, permite-se a denúncia, o confronto de idéias, de perspectivas, o rompimento com a rotina de uma aceitação passiva do que é transmitido pelo cinema e televisão, nos quais tudo que está pronto e acabado. No teatro, em contrapartida, o espectador é arrancado do seu conforto, da sua passividade. Ele participa, influi no desenvolvimento de uma peça, interpreta à luz de suas vivencias, da sua emoção, do contexto em que está inserido.

Quando se pensa teatro na escola pretende-se desconstruir a idéia de que acontece apenas de uma forma, ou seja, espetáculo e platéia e que a encenação seja aquelas obras que não permita o público criar junto com o espetáculo. Percebe-se, muitas vezes, nas escolas encenação de peças infantis. A criança possui a capacidade de assistir espetáculos que não sejam as famosas obras de contos infantis. Por isso, é importante que os educadores percebam o teatro além daqueles que eles conhecem.

Teatro é Conhecimento

O teatro pode ser considerado um conhecimento, integrador de diferentes saberes, não sendo uma expressão apenas teórica ou executora de técnicas. Dessa forma, surgem infinitas possibilidades de estruturação de um trabalho voltado para o teatro. A partir do momento em que a escola dispor de recursos materiais adequados, profissionais formados satisfatoriamente e um reconhecimento do teatro como integrante do currículo escolar com espaço e tempo devidamente estipulados, a expressão teatral, acredita-se, desenvolverá de maneira efetiva. Não se pode justificar o teatro pensando nas suas contribuições globais para a formação de personalidade. O teatro é um conhecimento transdiciplinar, ou seja, pode circular em outros conhecimentos. Mas, muitas vezes, é visto como possibilitador de desenvolvimento da criatividade.

O teatro na educação, ainda hoje, é pensado exclusivamente como um meio eficaz para alcançar conteúdos disciplinares extrateatrais ou objetivos pedagógicos muito amplos como, por exemplo, o desenvolvimento da “criatividade” (JAPIASSU, 2003, p.23)

O teatro  talvez não seja  apenas uma saída para os problemas da educação, por desenvolver habilidades de interpretação, improvisação e de escrever ou por trazer alguns benefícios, como saber trabalhar em grupo, superação da timidez e de alguns limites, troca de experiências, responsabilidade, comprometimento, respeito, saber ouvir o outro, compreender melhor as pessoas, ter um pensamento solidário, interação, enfrentar os problemas, compartilhar, participação, resgate da auto-estima e da autoconfiança. Essas contribuições sozinhas, também, não justificariam o teatro como disciplina. Considera-se a necessidade de destacar a possibilidade de construir conhecimento e propiciar ao aluno também uma formação global, crítica e reflexiva.

Ao mesmo tempo em que se propõe uma disciplina de teatro na escola, a formação dos profissionais da educação poderia ser discutida para reformulação do currículo de maneira que atenda às necessidades do trabalho de Artes na educação. Se os PCN de Arte apresentam quatro expressões para serem desenvolvidas no Ensino Fundamental, o professor que atuará nestas deveria ser um profissional capaz de promover interlocuções entre os conhecimentos artísticos. Contudo, não é o que se percebe no Ensino Fundamental, ou seja, o professor não conhecedor de todas essas áreas.

Arte, como área de conhecimento, apresenta-se ampla e engloba para fins de estudo, segundo os PCN, cinco áreas específicas: Artes Visuais, Dança, Música, Teatro – para o ensino fundamental – e também Artes Audiovisuais – para o ensino médio. Para cada uma delas, é necessário um professor especialista e condições mínimas de infra-estrutura, para que seu ensino seja significativo. A implantação do ensino de Arte nas escolas, como regulamenta a LDB/96 e indicam os PCN, é um grande desafio que se apresenta para este momento, uma vez que sua presença como área de conhecimento nem sempre é suficientemente compreendida nas escolas. Em muitas ocasiões e para muitos professores de outras disciplinas ou especialistas, a arte é entendida como lazer, relaxamento, momento de passagem e decoração. Há, porém, aspectos formativos que são deixados de lado por desconhecimento ou falta de compromisso com uma formação humanística plena das nossas crianças e jovens (PIMENTEL E ARAUJO, 2004).

É necessário discutir essa problemática, já que o Parecer do CNE/CP[5] 9/2001 apresenta considerações sobre a formação do professor que ministrará as aulas de arte, já que são propostas mais de uma expressão artística.

Há ainda a necessidade de se discutir a formação de professores para algumas áreas de conhecimento desenvolvidas no ensino fundamental, como Ciências Naturais ou Artes, que pressupõem uma abordagem equilibrada e articulada de diferentes disciplinas [...] e diferentes linguagens (da Música, da Dança, das Artes Visuais, do Teatro, no caso de Arte), que, atualmente, são ministradas por professores preparados para ensinar apenas uma dessas disciplinas ou linguagens. A questão a ser enfrentada é a da definição de qual é a formação necessária para que os professores dessas áreas possam efetivar as propostas contidas nas diretrizes curriculares (Brasil, 2001, p.21).

Ao propor uma disciplina de teatro, o ideal é que o profissional que a desenvolva nas primeiras séries do Ensino Fundamental tenha uma formação que possibilitasse desenvolver a expressão teatral de forma significativa e propicie ao aluno a possibilidade de construir conhecimento e uma formação global, que é a pretensão da educação do futuro[6]. Então, é necessário que os cursos de Pedagogia discutam essas questões e principalmente reflitam sobre o espaço e o tempo destinado às expressões artísticas. Japiassu adverte que:

Atualmente, a maioria dos cursos de pedagogia oferece apenas uma disciplina obrigatória (geralmente denominada educação artística ou arte e recreação etc.), com carga horária limitada (em media 60 h) e que suas ementas” (JAPIASSU, 2003, p.54).

Alguns profissionais da educação acreditam que as expressões artísticas são formas que possibilitam ao aluno manifestar seus sentimentos, não considerando, assim, a arte como um saber. Dessa forma, vários questionamentos podem ser feitos em relação à arte na educação. Pensar que há grandes escritores e/ou artistas que contribuíram para a sociedade em diferentes contextos históricos e culturais e que não são valorizados e muitas vezes são desconhecidos. Por que não se pode abordar e contextualizar objetos teatrais de grandes dramaturgos e encenadores que foram e ainda possibilitam um senso critico de situações políticas, sociais e culturais de determinados contextos? Será que o teatro seria um meio de engajamento e de apresentação de novas possibilidades de leitura de percepções de diferentes contextos?

Assim, vários autores do teatro propuseram tentativas de romper com questões políticas e sociais. Podemos citar teóricos do teatro que foram relevantes na sua história, como Brecht acreditava que por meio do teatro era possível criticar a situação social. “Brecht acreditava que era possível levar o público a refletir sobre o caráter histórico-social das personagens e de suas ações numa perspectiva crítica, conscientemente elaborada” (JAPIASSU, 2003, p.31). Outros exemplos relevantes nesse processo de possibilidades de releitura são: Artaud, Brook, Grotowski, Beckett, Boal, etc.

Por que esses teóricos são importantes no desenvolvimento do teatro na escola? Eles buscaram romper com estruturas já pré-estabelecidas, ou seja, tinham um ideal que tentavam alcançar. Dessa forma, cada um buscou uma nova maneira de realizar as expressões teatrais. Se quisermos que o teatro não seja visto apenas como um entretenimento, podemos mostrar por meio da história e da literatura dramaturgos que tentaram de algum modo mudar a concepção teatral de determinada época.

A leitura e o estudo das obras teatrais são relevantes, bem como o trabalho do ator, as formas de estruturação da cena e do espetáculo. É importante buscar na história elementos que contribuiriam no contexto atual. Uma temática surgida na atualidade pode ser discutida por alguma corrente de pensamento de alguma época. Por isso, seria importante que os profissionais, que desenvolvem a expressão teatral na escola, conheçam teóricos do teatro. O teatro não pode ser percebido apenas como um passatempo. Os profissionais da educação possuem uma visão equivocada sobre as expressões artísticas, não as percebendo como um campo de conhecimento.

Ao defender essa idéia de teatro como disciplina, deparamos com alguns desafios, como a formação dos profissionais da educação e do teatro que atuam no Ensino Fundamental e a necessidade de ruptura com as concepções teatrais existentes na escola.>

Reforma do Pensamento Educacional: ruptura das concepções teatrais no âmbito escolar:

O teatro pode ser um apontamento para a superação dos desafios enfrentados pela educação: os conhecimentos fragmentados, a complexidade, a contextualização do objeto, etc. Mas é necessário romper com a concepção de teatro existente na escola, do “teatrinho” apenas como entretenimento ou instrumento pedagógico. Além disso, é necessário trazer para a realidade escolar a percepção da relevância de estudar alguns teóricos dessa expressão.

A inclusão do teatro no currículo da escola fundamental e de educação infantil pressupõe uma concepção de teatro e uma perspectiva sobre a finalidade de seu ensino. (...) Ao ensinar teatro para o leigo, o que deve ser priorizado? Essas indagações levantam questões de ordem epistemológica que têm, evidentemente, mais de uma resposta (Koudela, citada por Santana).

Quando se pensa teatro na escola pretende-se desconstruir a idéia de que esse acontece apenas de uma forma, ou seja, espetáculo e platéia e que a encenação seja de obras que não permitam reflexão durante o processo de criação do espetáculo. Percebe-se, muitas vezes, nas escolas a encenação de peças infantis. A criança possui a capacidade de assistir espetáculos que não sejam as famosas obras de contos infantis. Por isso, é importante que os educadores percebam o teatro além da representação mimética de obras consagradas. É preciso se abrir pra o amplo universo das artes. "Precisamos levar a arte que hoje está circunscrita a um mundo socialmente limitado a se expandir, tornando-se patrimônio da maioria e elevando o nível de qualidade de vida da população” (Barbosa ,1991, p. 6).

Possibilitar ao aluno construir significados a partir das encenações é mais que proporcionar a eles teatrinhos na escola. Nestas situações, é o professor quem escolhe, ordena, confecciona os elementos do espaço cênico. Ao aluno, costuma-se designar papéis (personagens), funções auxiliares, bem como executar movimentos previamente treinados para a apresentação. A construção é obra do professor, não do aluno. É como se o aluno fosse uma marionete manipulada pelo professor, pela escola e pelo público. Sua criatividade e autonomia se perdem nesse processo que costuma ser considerado apenas um elo de integração escola-comunidade, à medida que coage os pais a irem à escola para assistir seu filho “interpretando” “grandes personagens”. Isto, além da diferenciação que costuma ocorrer no que tange ao status do personagem representado. As crianças, muitas vezes, não têm autonomia para experimentar diferentes “papéis” e vivenciar diferentes pontos de vista na representação. Geralmente, o professor atribui aos alunos à representação dos personagens de acordo com critérios subjetivos completamente desvinculados de uma perspectiva pedagógica. Estes costumam ser empatia, aspectos físicos, rendimento nas demais disciplinas, etc.

Assim, o principal de todo esse trabalho com expressão teatral se perde por razões alheias ao processo educacional em si. Aspectos como qualificação profissional, preconceitos quanto à importância da disciplina teatro e dos profissionais da área, investimentos financeiros tanto na acessibilidade de espaço e recursos materiais necessários como para a formação de professores, pesquisas, projetos, dentre outros, reduzem o real significado dessa arte para a formação global do aluno.>

Considerações Finais

Precisamos discutir sobre a questão das expressões artísticas na escola, para que possamos desenvolvê-las de maneira significativa para o aluno. Ao propor a disciplina de teatro deparamos com a questão da formação dos profissionais que atuam no Ensino Fundamental. Apresentamos considerações sobre essa questão e a possibilidade de reformulação curricular da escola e, conseqüentemente, do curso de Pedagogia. Apontamos, também, a necessidade de valorização cultural, que é a essência do ser humano, e da ruptura com a concepção de teatro existente na escola. Se mudarmos a visão dos educadores a respeito da expressão teatral e também sobre as outras, poderíamos desenvolver um trabalho relevante para o aluno. Seria possível trabalhar com dramaturgos e encenadores do teatro, pois poderíamos ter um avanço, mudando a percepção dessa expressão no âmbito escolar, já que teríamos contato com o universo cênico. Assim, podemos refletir criticamente sobre a situação em que a arte se encontra na escola e buscar um ideal que possibilitasse a superação dos desafios deparados pela educação.

Agradecimentos

Gostaríamos de salientar a valorosa contribuição de Fabrício Andrade – orientador da nossa monografia – no sentido da organização de idéias que possibilitou uma visão diferenciada do tema, na indicação de bibliografias e, principalmente, na crença em nosso trabalho.

Referências:

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BROOK, P. A porta aberta: reflexões sobre a interpretação e o teatro. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1999.

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JAPIASSU, R.O. Vaz. Jogos teatrais na escola pública. Revista Faculdade de Educação, São Paulo, v. 2, Dezembro 2001.

________.  Metodologia do ensino de teatro. Campinas: Papirus,  2003.

KOUDELA, I.D. Jogos teatrais. 2 ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 1984.

MATURANA R., Humberto. Emoções e linguagem na educação e na política. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.

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SPOLIN, V. Improvisação para o teatro. São Paulo: Perspectiva, 2001. 349p.

Notas:

[1] Alunas do oitavo período do curso de Pedagogia da Faculdade de Educação /CBH/ UEMG.

[2] Professor da Faculdade de Educação/CBH/ UEMG.

[3] Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

[4] Parâmetros Curriculares Nacionais.

[5] Conselho Nacional de Educação/ Conselho Pleno.

[6] Termo empregado por Edgar Morin em Os sete saberes necessários para educação do futuro.

Revista Digital Art& - ISSN 1806-2962 - Ano IV - Número 05 - Abril de 2006 - Webmaster - Todos os Direitos Reservados

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