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Resenha do livro ‘A Formação do Professor e o Ensino das Artes Visuais’ de Marilda de Oliveira e Oliveira & Fernando Hernandez (Orgs.) Santa Maria: UFSM, 2005.
Autora: Teresa Eça - teresatorreseca@sapo.pt

A formação inicial de professores de artes é uma matéria muito importante na área da educação

Este livro conta com artigos de vários autores de representação no cenário nacional e internacional. Profissionais que trabalham com Educação e Arte e que se propuseram a discutir a formação do professor na atualidade. São artigos ricos em experiências, que contemplam as particularidades de cada estado ou região. Aqueles que percorrerem os textos deste livro perceberão que os fios condutores são o pluralismo e a diversidade na formação do professor. As temáticas são bastante amplas e abordam as questões da formação inicial, da formação continuada, a docência e as novas tecnologias, propostas de ensino/aprendizagem referenciadas pelos estudos culturais, educação visual e currículo, a formação do professor de artes visuais e as implicações no Brasil, o estágio curricular como campo de conhecimento, deslocamentos perceptivos e conceituais da cultura visual, entre outros. Este livro é extremamente interessante e útil para todos aqueles que trabalham em universidades e escolas que fazem cursos de formação de professores. Tanto para o Brasil, contexto do livro, como para outros países onde se fala português. É escassa a literatura em português sobre este tema e este livro vem trazer uma mais valia para a educação artística no circuito lusófono. Marilda de Oliveira e Oliveira e Fernando Hernandez ao organizar o livro ‘ A Formação do Professor e o Ensino das Artes Visuais’ tiveram em conta aspectos essenciais à formação inicial do professor de artes visuais incluindo visões diferentes que enriquecem o leque de questões abrangentes que o livro vai colocando capítulo a capítulo. 

A formação inicial de professores de artes é uma matéria muito importante na área da educação artística e os vários autores que colaboraram neste livro apontam caminhos de exploração novos e ousados. Na introdução escrita por Ana Mae Barbosa  salienta-se a sua importância. Ana Mae descreve um relato muito especial dos Cursos de Aperfeiçoamento em Arte/Educação que coordenou de 2000 a 2002 no NACE-NUPAE da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de S. Paulo, foi um curso pioneiro e as reflexões de Ana Mae sobre ele são extremamente marcantes. Como aliás é marcante a posição de Ana Mae na arte educação, não só no Brasil como noutros países, com o seu conceito bem fundamentado da ‘abordagem triangular’ ela influenciou inúmeros investigadores e arte educadores abrindo horizontes mais vastos para a educação artística.

Os vários autores adoptaram uma narrativa pessoal o que torna o livro fácil de ler, Fernando Hernández parte da descrição da sua trajectória na formação inicial de professores, descrevendo os cursos da Universidade de Barcelona que ajudou a criar, justificando as suas opções e a razão de ser dos cursos que se baseiam na construção de uma identidade docente para apetrechar os futuros professores das ferramentas essenciais para responder a um mundo em constante mudança através da reflexão pessoal sobre experiências vivenciais importantes para os alunos. Fernando Hernández advoga uma perspectiva de educação para a compreensão crítica da cultura visual e para isso pensa a formação inicial como parte de um projecto emancipador que irá continuar ao longo da vida do professor.

Ivone Mendes Richter, descreve algumas tendências da formação do professor de artes visuais na Alemanha, Inglaterra e Canadá partindo de questões filosóficas subjacentes ao ensino da arte. Marilda Oliveira de Oliveira foca aspectos do estágio curricular, da sua importância estratégica como campo de conhecimento dos futuros professores e sobretudo sobre a sua importância para formar profissionais reflexivos, aponta sugestões e possibilidades para estruturar os estágios e descreve  um exemplo de sucesso que a leva a propor o estágio como um trabalho colectivo,  ‘um momento de superação de obstáculos, de diálogo e de lições em seus fundamentos teóricos e práticos’. O estágio curricular dos futuros professores é pela segunda vez  abordado no livro por Jociele Lampert, para ela é importante a valorização da vivência em arte para a docência em arte para se poder construir a poética de ser professor de Artes Visuais. 

Maria Beatriz de Medeiros escreve um pequeno ensaio sobre a Estética do focando objectos visuais quotidianos que são veiculados pelos mass media, para ela é necessário conhecer a técnica que está por detrás desses objectos visuais Para poder compreender e criticar. Elisa Lop escreve um artigo muito interessante abordando um exemplo de multiculturalismo no ensino das artes visuais, através dos trabalhos realizados por três alunas suas. Gostei muito deste artigo porque as narrativas pessoais das alunas eram muito sensíveis e a forma como o curso deu valor a elas veio de encontro à minha opinião de que as vivências pessoais, as memórias e as expectativas são matéria-prima para desenvolver aprendizagens.

O capítulo escrito por Irene Tourinho  é bastante estranho, estranho e inquietador , no sentido em que a inquietação tem de força positiva,  ela basicamente refere questões, perguntas feitas sobre arte educação no contexto de um programa de televisão. E aqui dou os parabéns à televisão do Brasil ( TV Educativa) que se preocupa com a educação artística, os canais de televisão portuguesa nunca se deram a esse trabalho,  a educação artística não é um tema de interesse público para Portugal. Irene Tourinho acredita que o questionamento é importante para a consciência mas que muitas questões levantadas têm a ver com o saber fazer, e poucas com o porquê, com a essência da educação artística. Ela acredita que é necessária a teorização como factor de invenção e de transformação de identidades. Laudete Vani Balestreri escreve um relato saboroso num contexto de ensino não formal com três meninas e sua experiência num parque e como essa experiência as ajudou a crescer. Adorei este relato porque ele me lembrou de como é importante não deixarmos morrer nunca o deslumbramento da infância que existe em nós.

Raimundo Martins escreve um capítulo mais ‘pesado’ no sentido em que aborda educação e poder, visualidade e poder, visualidade e educação, focando interacções, causas e efeitos e chamando á atenção do leitor para a importância da abordagem da cultura visual, apelando para que os educadores e as universidades enfrentem o desafio da condição da visualidade contemporânea

Teresinha Sueli Franz no seu capitulo aborda o tema educar para uma compreensão crítica da arte, ela descreve um projecto que me pareceu muito interessante porque ilustra os diferentes âmbitos de compreensão da obra de arte, trata-se de uma série de entrevistas sobre a leitura da obra: ‘ Primeira Missa’ de Victor Meirelles, Teresinha tem-se debruçado sobre a obra deste pintor á vários anos, a amostra dos entrevistados incluía alunos da faculdade de Belas Artes de Barcelona, educadores e profissionais do museu Victor Meirelles e um grupo de indígenas da tribo Paraxó de Coroa Vermelha, os resultados da pesquisa foram já publicados num livro, mas neste texto Teresinha faz um resumo deles e, para mim, que não li o livro foi muito bem ver  como diferentes olhares fazem diferentes leituras e segundo como se podem fazer revisões críticas do colonialismo a partir desses olhares e terceiro  como é difícil alguém, mesmo  perito em arte, ter uma compreensão completa da obra.  Ainda sobre obras de arte, mas desta vez história da arte, Edir Lúcia Bisognin reflecte sobre abordagens metodológicas em educação artística e no ensino da história de arte, que é parte integrante da primeira. Para Edir uma abordagem possível para o professor de história da arte é a de trabalhar com espírito crítico, reflexivo e avaliativo.

O livro inclui também o tema das novas tecnologias na arte educação. Nageli Raguzzoni Teixeira aborda a educação e mídia na sala de aula, como espaço de significações, ela salienta a carência de metodologias para trabalhar a leitura de imagens na formação de professores, sobretudo as imagens provenientes dos mídia, refere as possibilidades educativas dessas imagens e a dificuldade que existe em interpretá-las. Ayrton Dutra Corrêa e Simone Witt Matté abordam o universo das tecnologias digitais e o ensino das artes e de como as novas tecnologias da comunicação criam novos espaços topológicos de amostragem.

O livro termina com o capítulo escrito por Ivana Maria Nicola Lopes e Victor Hugo Guimarães Rodrigues sobre o despertar das sensibilidades na formação de professores de artes, este artigo tocou-me muito porque os autores focaram aspectos da educação e da ‘boa educação’ que nós professores portugueses sentimos particularmente ao vermos cada vez mais indisciplina e falta de respeito nos jovens, as pequenas sensibilidades são feitas de palavras também, de ‘faz favor’, de ‘desculpe’ e essas palavras são cada vez menos usadas pelos nossos alunos. O artigo foca o papel das artes como um caminho entre outros para despertar sensibilidades e apela para visões plurais, respeito pela diferença que podem ser conseguidas através da educação estética. 

Acredito que vale a pena ler o livro e pensar sobre o que os autores propõem ou ilustram, ele apresenta o professor como alguém criativo e reflexivo, alguém capaz de levantar questões e de se adaptar às mudanças do seu tempo. Algumas questões aqui levantadas são um bom ponto de partida para todos nós. 

 

Revista Digital Art& - ISSN 1806-2962 - Ano IV - Número 06 - Outubro de 2006 - Webmaster - Todos os Direitos Reservados

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