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Os textos escolhidos (garimpados como ouro e publicados na íntegra) tratam de temas variados que vão da relação entre arte e política à definição do próprio termo "arte", passando pelas intenções dos artistas e seus processos de produção. E o resultado? Talvez seja o que Glória Ferreira identifica no prefácio: artistas se arriscando no terreno da crítica e a revelação do embate dos produtores com outros agentes do circuito. Talvez seja o registro histórico do pensamento artístico de uma época. Talvez seja a História da Arte escrita pela ótica do artista... Mas talvez seja o complemento que faltava para a arte ser entendida como atividade revolucionária, capaz de provocar mudanças de comportamento. No item 6 do "Esquema geral da nova objetividade", texto publicado na coletânea, Hélio Oiticicca conclama essa mudança de costumes, e, para isso, ele diz que não basta "apenas martelar contra a arte do passado ou contra os conceitos antigos (...), mas criar novas condições experimentais, em que o artista assume o papel de proposicionista ou empresário ou mesmo educador". John Cage vai por um caminho próximo: em "O futuro da musica", diz que não é mais possível discriminar o "barulho", e que "tudo é válido. Entretanto, nem tudo é tentado". E se a especulação de Cage e as proposições de Hélio Oiticica não forem de todo convincentes, o titulo do texto transcrito da palestra que Beyus fez na Itália indica a confirmação da última hipótese. Para Beuys, "A revolução somos nós"!, e ele afirma que quando o homem quer "mudar as condições de seu mal-estar" começa a mudar pela esfera cultural, pelo modo de pensar, e que "só a partir desse momento, (...) será possível pensar em mudar o resto". Mas que ordem de afinidades poderíamos eleger entre a experiência da escrita desenvolvida por artistas que trabalharam no período delineado pela grade histórica dos anos 60/70 e as proposições atuais? A pergunta é feita no posfácio por Cecília Cotrim, a partir do enunciado de Antonio Manuel, quando este explicava que o "...bode é de 'bode', e também de 'body arte'". Se tentasse responder esse questionamento aqui daria bode, poderia estar sendo reducionista, e são os artistas da nossa geração que provavelmente responderão. Mas aproveito a liberdade poética que Cecília demonstra na sua análise para dizer que "as palavras dão carne à imagem-tempo", dão carne ao bode e à (ao?) body, e também uso as palavras de Antonio Manuel para dar titulo a este texto, de um depoimento sobre as "Urnas quentes", em outubro de 1968, e bem que as autoras também poderiam colocá-las como sub-título dessa obra...
Notas: FERREIRA, GLORIA - Glória Ferreira, doutora em história da arte pela Sorbonne, é professora da Escola de Belas Artes da UFRJ. Foi coordenadora do Espaço Arte Brasileira Contemporânea do Inap-Funarte e curadora, entre outras exposições, de 'Hélio Oiticica e a cena americana'. Diretora da coleção Arte+, publicada por esta editora, organizou diversos livros, como 'Trilogias. Conversas entre Nelson Felix e Glória Ferreira'. É co-editora da revista Arte&Ensaios. COTRIM, CECILIA - Cecpilia Cotrim de Mello, doutora pela Sorbonne, é pesquisadora e professora de história da arte moderna e contemporânea no Programa de Pós-graduação em História Social da Cultura da PUC-Rio. Junto com Glória Ferreira, organizou o livro Clement Greenberg e o debate crítico (Jorge Zahar, 1997).
Revista Digital Art& - ISSN 1806-2962 - Ano IV - Número 06 - Outubro de 2006 - Webmaster - Todos os Direitos Reservados OBS: Os textos publicados na Revista Art& só podem ser reproduzidos com autorização POR ESCRITO dos editores. |