voltar ao menu de textos

O processo de Concepção de um Material Gráfico Educativo
Autora: Christiane de Souza Coutinho Orloski[1] - chriscoutinho@uol.com.br

Resumo: O texto apresenta um relato sobre o processo de criação do material gráfico (folder) educativo produzido para a exposição Rosana Palazyan: O lugar do sonho, realizada em 2004 no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo. A partir desse relato, busco refletir sobre a possibilidade de uma concepção coletiva, entre os profissionais de arte-educação e design gráfico. Desenvolvo também uma reflexão sobre os resultados obtidos no material, que buscou uma identificação com o universo da exposição e atentou-se igualmente para as questões informativas, educacionais e visuais presentes no mesmo.

Palavras-chaves: arte-educação; material educativo; design gráfico; instituição cultural.

Abstract: The text Reflections about the conception of educative folders presents the process of the creation of an educative folder produced for the exhibition Rosana Palazyan: The place of dreams, that took part in 2004 in the no Centro Cultural Banco do Brasil in São Paulo. With this repart, I examine the possibility of a combined work of art-educatores and graphic designers in the creation of the folder. I also develop a reflection on the use of this material and it’s results, which offers an apreach of the exhibition’s theme as well as visual and educational concerns.

Keywords: art-education; educative folder; graphic design; cultural institution.

Ao ter um contato direto com uma obra de arte em uma visita a uma exposição, cada indivíduo leva consigo marcas dessa experiência. São muitos os desdobramentos que uma obra de arte pode causar: sensações, pensamentos, reflexões, atitudes, pode indicar respostas ou causar mais indagações. Tudo depende de como foi tal experiência, pois a percepção de uma obra de arte envolve mais do que o ato de observação: envolve uma atitude do espectador, que relaciona os questionamentos surgidos com suas experiências anteriores. “A experiência ocorre continuamente, porque a interação da criatura viva com as condições que a rodeiam está implicada no próprio processo de vida” (DEWEY, 1994, p. 247).

Quando me recordo de minhas experiências estéticas, meus pensamentos voam, mesclando lembranças visuais a sensações e reflexões advindas deste processo. E, naturalmente, essas recordações voltam à minha memória cercadas pelo contexto em que cada experiência foi vivida. Para acessar essas recordações, que muitas vezes são antigas e ficam escondidas em pontos misteriosos de nosso cérebro, recorro às lembranças materiais que guardei dessas experiências. Esse é um dos principais motivos pelos quais eu busco, nas exposições que freqüento, materiais gráficos que me propiciem esse exercício no futuro. Cada um desses materiais, adquiridos ao longo de alguns anos de convívio com a arte, contém valor tanto documental como emotivo, que me possibilitam a reconstrução de meu próprio percurso com a arte. Reitero que, neste caso, trata-se de uma reflexão sobre a minha própria experiência.

Além desta relação afetiva com os materiais gráficos que recolho e guardo, nos últimos anos tenho também produzido profissionalmente materiais educativos, o que tem me despertado um interesse ainda maior pelo tema. Por essas razões, os materiais gráficos educativos são o foco de meu projeto de mestrado, que teve início neste ano de 2006.

Meu objetivo com este texto é desenvolver uma reflexão sobre o processo de concepção e produção dos materiais gráficos educativos produzidos pela equipe do Arteducação Produções, da qual sou integrante e que presta serviços na área de arte-educação a diversas instituições culturais. Para justificar tal escolha, faço uso das palavras de Rejane Coutinho (2004, p.152): “Para o educador, todo o processo de apropriação de sua história de vida tem como objetivo a ampliação de sua capacidade de autonomia e, portanto, de iniciativa e de consciência nas suas decisões e escolhas profissionais”.

O trabalho da equipe é fundamentado pela Proposta Triangular do ensino de arte, teorizada pela professora Ana Mae Barbosa, em que o processo de ensino/aprendizagem da arte compreende três esferas intercomunicantes: contextualização; leitura da obra de arte e/ou apreciação; e fazer artístico e/ou produção. Portanto, além da experiência junto às obras de arte na exposição, onde a contextualização e a leitura da obra estão mais diretamente presentes, todos os trabalhos em ações educativas desenvolvidos pelo Arteducação Produções têm como parte integrante e fundamental o fazer artístico e/ou produção, que denominamos oficina. Outra característica marcante dos trabalhos realizados pela equipe é a produção de uma peça gráfica, o folder educativo, desenvolvido especialmente para os estudantes e o público em geral, atendidos por educadores em suas visitas às exposições.

Em 2004, realizamos um projeto junto ao Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo (CCBB-SP), que consistiu na formação e acompanhamento do trabalho desenvolvido por educadores na exposição, criação de uma proposta educativa para o atendimento aos grupos – incluindo a oficina – e criação de material gráfico. E é neste último ponto que centro o presente texto: na análise do folder educativo, focando tanto o processo de criação da equipe, que se dá em diversas etapas, quanto a participação do designer e os resultados obtidos com esse trabalho conjunto.

A equipe vem realizando trabalhos desta natureza junto ao CCBB-SP desde 2001, constituindo o que a instituição denomina como ação educativa. No período a ser relatado, a equipe tinha a coordenação da Profª Drª Rejane Coutinho e uma equipe de cinco educadores responsáveis pela concepção das oficinas e das peças gráficas: Alberto Tembo, Camila Serino Lia, Erick Orloski, Fábio Tremonte e eu, Christiane Coutinho, além de outros profissionais responsáveis pela produção e por outros projetos desenvolvidos pela equipe.

A equipe sempre contou com profissionais que possuem experiência com educação em museus e também na educação formal, visando a elaboração de propostas que foquem tanto a experiência vivenciada pelo aluno na exposição quanto o seu desdobramento em sala de aula. Esta característica traz à tona as idéias colocadas por Rosa Iavelberg, em seu texto Material didático como meio de formação – criação e utilização (2004), que para a elaboração de um material didático de qualidade é imprescindível que o especialista ou o profissional envolvido em sua produção conheça bem a sala de aula.

No processo de concepção de um material gráfico educativo, o Arteducação Produções tem como preocupação inicial a sua finalidade, ou seja, pensamos sobre o público a quem ele se destina, os objetivos que queremos atingir e sua importância diante de um contexto maior de uma visita à exposição. Geralmente, as instituições oferecem outros materiais gráficos ao público visitante, como o folder da própria exposição – contendo informações sobre a curadoria e reproduções de obras expostas – e também materiais gráficos feitos especialmente para os professores – com reproduções de algumas obras e reflexões sobre a exposição, a serem utilizados em sala de aula. No caso do CCBB-SP, existe em sua programação um programa de encontros voltado para professores denominado Diálogos e Reflexões com Educadores, idealizado e produzido pelo Arteducação Produções, onde os professores têm a oportunidade de trocar experiências e refletir sobre as possibilidades de ensino a partir do tema da mostra vigente. Afinal, diante destes materiais que já trazem tantas informações e contribuições para o público, por que produzir mais um material gráfico?

Os materiais gráficos que concebemos são destinados às pessoas que, por terem vivenciado a exposição através de um processo de mediação com um educador, já estão sensibilizadas pelas obras e trazem consigo diversas informações contextuais. Por isso, geralmente estes materiais visam ampliar as questões tratadas na visita e, assim sendo, os mesmos não têm o objetivo de serem apenas fonte de informação, mas prioritariamente de reflexão, com propostas que fazem uma relação direta com o que foi visto na exposição ou buscam encaminhamentos para reflexões suscitadas nas visitas pelos educadores. Durante uma visita orientada, uma série de conceitos e percepções é discutida e vivenciada coletivamente, e cada indivíduo que participa desse diálogo com os educadores, tem a possibilidade de ter o seu olhar enriquecido com as experiências do outro. “O olhar de cada um está impregnado com experiências anteriores, associações, lembranças, fantasias, interpretações, etc” (PILLAR, 1999, p. 15) e cabe aos educadores/mediadores proporcionar/estimular trocas desses olhares pessoais, que são enriquecidos com informações e contextualizações a respeito de cada obra.

A inserção de imagens de obras da exposição nos materiais gráficos educativos é outra preocupação entre os membros da equipe e é um assunto muito discutido ao iniciarmos um trabalho de concepção de materiais. Sabemos que estar diante de uma obra de arte original é uma experiência singular e insubstituível, pois nesse momento é possível perceber aspectos estéticos, especialmente elementos formais da composição, que podem influenciar a interpretação. Acreditamos que a presença das reproduções das obras no material gráfico educativo é algo importante, pois nunca visa a substituição da obra original, e sim o estímulo à memória visual e à reflexão sobre a experiência vivida na exposição.

Os critérios que adotamos para a escolha das imagens a serem inseridas no folder, são:

- aspectos conceituais: pensamos naquelas imagens que melhor expressem os conceitos primordiais da exposição e/ou as questões que consideramos mais importantes para serem refletidas a partir da visita. No entanto, há casos em que optamos por não utilizar imagens em função da proposta conceitual do material gráfico.

- aspectos burocráticos: escolhemos as imagens que possuem autorização para a reprodução, já que existem restrições à veiculação de muitas imagens em virtude dos direitos autorais. Existem ainda as restrições orçamentárias, que influenciam diretamente numa série de recursos a serem utilizados nestes materiais. No caso do folder da exposição Rosana Palazyan: o lugar do sonho, especificamente, optamos por não utilizar imagens das obras, por priorizar os espaços para a interação.

Outra questão com que nos preocupamos é com a visualidade desses materiais, ou seja, com o seu design. Muitas vezes, durante a elaboração conceitual do folder, ou seja, durante o momento em que estamos escrevendo um texto ou escolhendo imagens, em suma, elaborando o conteúdo a ser abordado no material, surgem idéias de formatos, cores, tamanho, papéis, cortes ou vincos. Os conteúdos informativos/reflexivos e educacionais integram-se com elementos da visualidade, pois essas escolhas geralmente estão associadas aos conceitos que estão sendo trabalhados. Entendemos que a forma também é conteúdo, pois “ambos são inseparáveis, um não vive sem o outro, são processos simultâneos” (MARTINS, 1999, p. 57). Por isso, quando encaminhamos uma proposta aos designers, que complementam nosso trabalho de criação, sugerimos uma visualidade para o material gráfico. Trata-se assim de uma criação coletiva, havendo um compartilhamento de idéias entre esses dois profissionais, que buscam uma integração harmoniosa.

Em diversas instituições, entre elas o CCBB-SP, existe uma padronização das peças gráficas, ou seja, existe uma série de normas a serem respeitadas pelo designer para a produção das peças gráficas, visando uma identidade visual do conjunto de materiais produzidos pela instituição. Nessas normas constam a inserção de textos institucionais, de informações sobre o serviço educativo e padronizações para a estrutura de capas e contra-capas. Portanto, os designers têm o desafio de criar a partir das nossas concepções, em conjunto com o cumprimento dessas determinações.

A concepção do material gráfico educativo da exposição Rosana Palazyan: o lugar do sonho

O processo de criação para a ação educativa de uma exposição, normalmente inicia-se cerca de dois meses antes da exposição ser inaugurada, portanto partimos das informações previamente fornecidas pela produção da exposição, contendo o conceito da curadoria e algumas obras que estarão presentes. Nesse momento a equipe mergulha no universo da exposição, iniciando um processo de pesquisa, com leituras individuais e discussões coletivas sobre o tema.

O desenvolvimento da ação educativa compreende a seleção e a formação dos educadores da exposição, a elaboração de um material gráfico educativo – que cada participante recebe ao fim da visita com o educador – e de uma proposta educativa de visita – contemplando leitura, contextualização e produção. A concepção do material gráfico ocorre integradamente à concepção da proposta educativa, pois ambos complementam-se num processo educativo que tem inicio na exposição, mas visa uma continuidade na sala de aula.

A exposição Rosana Palazyan: o lugar do sonho foi realizada no CCBB-SP, de julho a setembro de 2004, e apresentou ao público uma grande parte da produção dessa artista carioca. A exposição continha obras que abordavam a questão da violência doméstica utilizando o bordado e fitas de cetim, a violência urbana utilizando objetos religiosos, brinquedos e travesseiros com bonecos e depoimentos de jovens infratores, utilizando desenhos feitos com lápis de cor e uma sala com luz negra e balões de ar com cor néon. Eram trabalhos geralmente de pequenas dimensões, com riqueza de detalhes e bastante narrativos, que surgiram das histórias vivenciadas pela própria artista ou de histórias verídicas vivenciadas por terceiros. Os títulos dos seus trabalhos exemplificam essa característica marcante da narração: “... uma história que você nunca mais esqueceu?” (2000/2004), “O que você quer ser quando crescer?” (1998), “... um pedido para estrela cadente...”, “Um dia, em 1998, eu tive um sonho... uma pessoa querida se foi... e durante a viagem encontrou uma lembrança para mim. Um pedaço do céu – uma estrela” (1998/2004).

 Sendo assim, identificamos como conceitos importantes a serem explorados na ação educativa, o sonho, a memória, a narrativa e a experiência pessoal. Como linguagem para a produção, optamos pelo desenho, já que era uma técnica utilizada pela artista e, de certa forma, a linguagem possivelmente mais presente na história das pessoas, por sua utilização no meio escolar. Ressalto aqui que a ênfase não era na qualidade do desenho e sim no processo, ou seja, a linguagem era explorada enquanto um recurso para o registro, como depoimento visual.

 O momento da produção na visita acontecia numa sala ambientada, de pequenas dimensões – cabiam aproximadamente 15 pessoas – com uma lousa que preenchia o chão e uma das paredes. Em outra parede colocamos alguns cartões com pequenos textos (trechos de poesias, músicas ou contos) que visavam estimular a imaginação e a memória do visitante. A partir de recordações ou imaginações suscitadas pelos textos, os visitantes eram convidados pelo educador a desenhar com giz na grande lousa e, após uma conversa sobre essas produções, eram convidados a apagar seus desenhos. Era uma atividade individual, intimista e efêmera, para a qual demos o nome de Tecendo linhas, costurando histórias.

Fig. 1 e 2 - Lousa com desenhos representados entre parede e chão da sala de oficina.

 Desde os primeiros contatos com as obras de Rosana Palazyan, ficamos apreensivos quanto à reação do público diante da exposição. Por abordarem o tema da violência doméstica, sexual e urbana, as obras poderiam remeter o público a recordações indesejáveis, já que muitos visitantes poderiam ter vivenciado as situações ali explicitadas. E de fato, os relatos de violência surgidos nos grupos durante as visitas foram recorrentes. E atentando-se para essas situações, procuramos explorar na visita e no material gráfico os elementos estéticos das obras com mais ênfase, tentando diluir as possíveis recordações das situações fatídicas.

Especificamente para o material gráfico, desenvolvemos uma proposta de desenhos e/ou intervenções gráficas individuais, baseada nos nomes das obras de Palazyan. Esses nomes muitas vezes eram trechos de depoimentos das pessoas que haviam se tornado o tema principal da obra. E nós nos apropriamos dessas frases, buscando assim uma proximidade entre o universo da exposição e o universo de cada participante, que também era estimulado a pensar sobre seus sonhos e suas lembranças. Convidávamos o visitante a interagir através de um texto de apresentação do folder.

 

 

Fig.3 - Capa e face de apresentação do folder educativo da exposição Rosana Palazyan: O lugar do sonho

Sabendo da importância de informações contextuais, trouxemos também um depoimento da artista.

Quanto ao formato, buscamos um tamanho que possibilitasse a interação e ao mesmo tempo fosse pequeno, relacionando-se com a dimensão dos trabalhos da artista e com o caráter intimista da oficina. Sugerimos ao designer que usasse um formato alongado, com várias dobras, como uma sanfona, que gerassem muitas faces para serem desenhadas.

Nossa proposta ao designer também envolvia a escolha do tipo de papel, pois queríamos que o material utilizado possibilitasse ao leitor uma intervenção/produção com lápis preto ou de cor, materiais do universo escolar, que faziam referência às obras de Rosana Palazyan.

A solução encontrada pelo designer à todas as nossas sugestões e pedidos, resultou num material compacto, medindo 10,5 x 10,5 cm fechado e 10,5 x 63 cm aberto. As dobras proporcionaram um total de 12 faces (frente e verso) para a interação com desenhos, que se organizaram da seguinte maneira: capa, texto institucional (ocupando 2 faces), texto convidando à participação, proposta ...uma história que você nunca mais esqueceu?, proposta o que você quer ser quando crescer?, Depoimento da artista, contra-capa com informações sobre o programa educativo, proposta ...um pedido para estrela cadente..., proposta um dia (...) eu tive um sonho..., proposta como foi sua visita à exposição?, proposta retrato.

Visualmente, o designer optou por um papel couché fosco e usou as cores: branca, nos locais para interação; rosê para os locais com textos; e ocre para o local destinado ao texto institucional. Criou uma trama suave ao fundo – linhas tracejadas, de fina espessura, verticais e horizontais que se cruzavam formando pequenos quadrados. A opção por cores como o branco e o rosê relacionou-se muito bem com a atmosfera da exposição, pois as obras de Palazyan possuem uma estética limpa, com muito uso de brancos e rosas (referência ao universo infantil) e elementos visuais muito bem organizados. Utilizou também alguns recursos gráficos, como linhas de espessura bem fina, pretas tracejadas, com um pequenino avião na extremidade, indicando um caminho que foi desenhado no papel, como um convite ao desenho com o lápis do participante. Ícones de uma mão segurando um lápis indicavam os locais para a interação.

Fig.4 e 5 - Duas faces de interação do folder educativo.

Esclareço aqui, que neste período de trabalho, por razões burocráticas, todo esse processo de criação envolvendo educadores e designers, não contou com reuniões entre as partes. As recomendações da equipe foram comunicadas ao designer através de um informativo impresso e de uma reunião com a produtora da equipe, que não participava da concepção do material. E a equipe que concebia o material gráfico não teve acesso às provas e/ou bonecos encaminhados pelo designer à instituição. Ao meu ver, essa estratégia poderia ter sido mais integrada, a fim de que a criação fosse realmente coletiva e vale a pena ressaltar que a equipe tem buscado ampliar cada vez mais esta integração.

Avaliando os resultados obtidos pelo designer, as soluções encontradas foram interessantes, bem sucedidas, pois conseguiram atingir nosso objetivo de aproximar o público do trabalho da artista e a interação também possibilitou ao público uma reflexão sobre a experiência que vivenciaram na exposição. Segundo uma pesquisa realizada junto aos professores que levaram suas escolas às exposições do CCBB em 2004, este folder foi um dos mais utilizados, possivelmente por permitir uma interação e um trabalho individual. Essa pesquisa foi publicada em 2005, sob o título de Artes visuais, da exposição à sala de aula, com textos das professoras Ana Mae Barbosa, Heloísa Margarido Sales e Rejane Coutinho.

Outro fator que possivelmente estimulou o uso do material junto aos alunos, foi o tema da exposição, que remetia às histórias de vida de cada sujeito. Percebemos durante as visitas que o público se identificava com as narrativas e com a estética das obras, havendo por isso um envolvimento e uma identificação imediata com as questões abordadas na produção de Rosana Palazyan.

Considerações finais

No decorrer do ano de 2004 e 2005 estive envolvida com a concepção de outros materiais gráficos educativos, junto ao Arteducação Produções. Ao longo desse período, desenvolvemos materiais com características bastante diversas, alguns de pequenos formatos, outros de grandes dimensões, ora voltado para um trabalho coletivo, ora explorando trabalhos individuais, mas sempre com o objetivo de proporcionarem uma ampliação das discussões trabalhadas durante as visitas. Todos os processo de criação envolveram proposições aos designers, pois sempre consideramos a visualidade como um conteúdo tão importante quanto os conteúdos informativos/reflexivos.

O mergulho no universo da exposição nos permite uma visão mais complexa sobre as múltiplas questões que podem ser exploradas no material, possibilitando também um trabalho mais focado. Acredito que este tenha sido um dos motivos pelos quais obtivemos bons resultados conceituais em nossos trabalhos.

Quanto aos resultados obtidos graficamente, ao meu ver, foram muito bons, no entanto, acredito que a presença de um designer trabalhando conjuntamente conosco neste processo de concepção seria fundamental.  Percebo que esses profissionais têm um bom trabalho de criação e procuram envolver-se com o universo da exposição, mas talvez não com o aprofundamento conceitual buscado pelos educadores. Por isso acredito que as reuniões conjuntas entre educadores e designers proporcionariam a ambas as partes uma troca de informações que geraria um trabalho mais consistente e com maiores e mútuas contribuições.

Diversas instituições culturais da cidade de São Paulo produzem folders informativos, que considero de extrema importância por serem uma possibilidade de mediação das obras de arte. No entanto, o visitante pode ler o material e não refletir sobre seu conteúdo, atitude fundamental para a apreensão de uma obra de arte.

Carregamos nossas vivências em nossa memória, mas elas só passam a compor uma história e tornam-se experiências no momento em que nos dispomos a refletir, a relacionar e tecer singularidades. (COUTINHO, 2004, p. 145) 

Essa reflexão pode se dar de diversas formas, com ou sem a ajuda de um dispositivo mediador, mas acreditamos que, especialmente com o público escolar, esses materiais gráficos podem estimular esse processo.

A experiência aqui relatada sobre a concepção do material gráfico educativo da exposição Rosana Palazyan: o lugar do sonho, bem como as reflexões sobre a criação de outros materiais educativos com a possível atuação do designer juntamente com os educadores, foram o ponto de partida minha pesquisa de mestrado que está em andamento. Com o tema Educação, visualidade e informação em materiais gráficos educativos, a pesquisa fará um levantamento sobre os materiais que são produzidos pelas instituições culturais da cidade de São Paulo e investigará como algumas dessas instituições concebem seus materiais. Ao fim da pesquisa, pretendo ter uma melhor compreensão sobre a relação entre educadores e designers.

Bibliografia Consultada

BARBOSA, A.M.; COUTINHO, Rejane; SALES, Heloisa Margarido. Artes visuais: da exposição à sala de aula. São Paulo: Edusp, 2005.

CENTRO CULTURAL DO BANCO DO BRASIL. Rosana Palazyan: O lugar do sonho. São Paulo: Centro Cultural do Banco do Brasil, 2004.

COUTINHO, R. Vivências e experiências a partir do contato com a arte. In: TOZI, D., COSTA, M.M, HONÓRIO, T. (orgs). Educação com Arte. São Paulo: FDE, Diretoria de Projetos Especiais, 2004. (Série Idéias; nº 31)

DEWEY, John. Tendo uma experiência. In: Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1994, v. XL, p. 245-263.

IAVELBERG, R. Material didático como meio de formação – criação, e utilização. In: TOZI, Devanil, Marta M. Costa, Thiago Honório (orgs). Educação com Arte. São Paulo: FDE, Diretoria de Projetos Especiais, 2004. (Série Idéias; nº 31)

MARTINS, M.C., PICOSQUE, G. e GUERRA, M.T.T. Didática do ensino de arte: a língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998.

PILAR, A.D. (org). A educação do olhar no ensino das artes. Porto Alegre: Mediação, 1999.

Notas:

[1] Mestranda em Artes no Instituto de Artes da UNESP sob a orientação da Profª. Dra. Rejane Galvão Coutinho.

 

Revista Digital Art& - ISSN 1806-2962 - Ano IV - Número 06 - Outubro de 2006 - Webmaster - Todos os Direitos Reservados

OBS: Os textos publicados na Revista Art& só podem ser reproduzidos com autorização POR ESCRITO dos editores.