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Coordenação da Profª. Drdª. Núria Pons Vilardell Camas

Editorial de Outubro

No último editorial dialogava sobre a necessidade de conhecermos a história das publicações científicas para podermos passar da prensa metálica de Gutenberg à navegação interativa da WEB 3.0.

Francis Bacon (1561-1626) disse certa vez que "alguns livros devem ser saboreados, outros engolidos, e alguns poucos devem ser mastigados e digeridos" [i]. Minha orientadora de Leitura Crítica da Literatura, la pelos idos de 1999, certa vez olhou-me e perguntou se eu já havia me deitado com o poeta? Muitas poderiam ser as respostas, porém preferi a mais sensata: Seria impossível, ele está morto faz mais de 30 anos.

Não, não fora a mais sensata das respostas, pois conhecer é penetrar, é dar-se, é doar-se num ato de amor. A escrita assim como a leitura não são atos espontâneos e fáceis a nós, por mais que possamos carregar geneticamente  esta intenção de conhecer, temos de aprender e apreender continuamente a arquitetura do livro, do artigo, da autoria, do autor e do leitor, entregarmo-nos sem destino prévio na maior parte das vezes.

Com Johan G. zum Gutenberg, em 1450, não se obteve apenas o que conhecemos até hoje: o livro impresso. Obteve-se a revolução da localidade, a marca lingüística que até hoje se assume, em cada país, demarcando a mátria do conhecimento.

A evolução e a necessidade de passar-se de uma sociedade oral para uma sociedade escrita, gerou também nos cientistas e Homens das Letras, a desistência do Latim como língua do conhecimento científico da época ao uso das línguas locais e maior diálogo com os pesquisadores da própria origem.

Em pleno 2007, países como o Brasil, ainda tentamos alfabetizar cidadãos, tenta-se unir à tradição oral à tradição escrita que impulsionou-se no século XV.

Do livro, de um design da leitura impressa, passamos para as possibilidades da WEB 2.0[ii] que  Tim O'Reilly, sabidamente o precursor do uso do termo em seu artigo de conceitualização (e também de defesa) do termo Web 2.0. define:

"Web 2.0 é a mudança para uma internet como plataforma, e um entendimento das regras para obter sucesso nesta nova plataforma. Entre outras, a regra mais importante é desenvolver aplicativos que aproveitem os efeitos de rede para se tornarem melhores quanto mais são usados pelas pessoas, aproveitando a inteligência coletiva" (ii).

A WEB melhora conforme é usada, significada coletivamente, esta era a idéia da WEB 2.0, é a realidade também. A WEB 3.0  é a evolução do uso coletivo na organização dos dados inseridos na WEB 2.0, é a evolução "semântica da Rede", não entendo como hierarquizar, muito pelo contrário, é organizar em um dos maiores bancos de dados já pensados na história do homem todas as informações, sem desvios daquilo que se busca saber, penetrar, conhecer.

Mas toda esta evolução que eu festejo todos os dias de nada adiantará se não soubermos ler, mesmo que letrados sejamos, qual será o design da leitura que deveremos entender, conhecer e penetrar daqui dez anos? Como a ciência será disponibilizada nestas interfaces? Que língua mátria será necessária para significarmos a evolução inicial?

Em 1860, Walt Whitman[iii], na terceira edição do livro Folhas da relva solicitava-nos:

Isto não é um livro,
Quem o toca, toca um homem,
(Já é noite? Estamos sós aqui?)
Sou eu quem você tem em mãos, e quem o tem em mãos,
Lanço-me das páginas para teus braços...

Quantos não souberam gozar as palavras-sentimentos de Whitman? Quantos saberão sentir o que representa esta revista digital, outras revistas digitais, todos os open course ware que se abrem e se abrirão daqui para frente.

Saberás abrir as janelas deste visor e receber-me-ás em teus braços?

[i] BACON, F. Of Studies. The Essayers or Counsels. Londres, 1625. Disponível: http://www.authorama.com/essays-of-francis-bacon-50.html, acessado em 29/08/2007.

[ii] WEB 2.0, pode-se obter variadas informações confiáveis, assim como tão confiáveis são outras trabalhos impressos e digitalizados em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Web_2.0 , último acesso antes desta publicação em 29/08/2007.

[iii] WHITMAN, W. Folhas da Relva. Editora Iluminárias, 2005.


ISSN 1806-2962

Revista Digital Art& - ISSN 1806-2962 - Ano V - Número 08 - Outubro de 2007 - Webmaster - Todos os Direitos Reservado