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Cordel e Tecnologias Criativas Aplicadas ao Teatro do Oprimido
Autora:Gisele Torres Martini - gigimartini@gmail.com

Resumo: Descrição da aplicação individual do Trabalho de conclusão de curso de especialização em Arte, Educação e Novas Tecnologias – ARTEDUCA, para resposta à hipótese sobre efetiva atuação da Literatura de Cordel junto com a aplicação de tecnologias contemporâneas aliadas ao fazer artístico por meio do Teatro do Oprimido, no favorecimento de avanços na aquisição das habilidades de leitura e escrita dos alunos da Educação de Jovens e Adultos numa escola da rede particular de ensino de Arapiraca/AL. A oficina aplicada aos alunos da EJA resultou numa releitura da obra da Literatura de Cordel como improvisação teatral, o que representa incremento da auto-expressão. O trabalho por meio do Teatro do Oprimido despertou nos alunos a busca por outras obras de leitura e outras formas de expressão teatral.

Palavras-chaves: Cordel. Tecnologias. Leitura. Educação. Teatro. Oprimido.

Abstract: This article tells us about a final project application at a brazilian school in the city of Arapiraca, Alagoas state, Brazil (for young adult students that are still being taught how to read in a satisfactory way) . The project was applied to get a specialist degree in Art, Education and ICT´s (called itself ARTEDUCA). Trhough this work we try to  prove that Cordel´s Literature mixed to ICT´s and artistical work done trough the Theatre of the Opressed could make the acquisition of reading and writing habilities more easy. The classes result in a new way of perceive the Cordel´s Literature works. The students did transform literature into Theatre of the Opressed, improving, that way, their self-expression. This work also awakes them to look forward to other books in diferent styles of Literature, as well as other forms of theatrical expression.

Key-Words: Cordel. ICT.  Reading. Education. Theatre. Opressed.

O presente artigo apresenta o resultado final de um Trabalho de Conclusão de Curso, ou seja, uma de quatro aplicações individuais do Projeto Interdisciplinar intitulado: "Cordel: Tecnologias Criativas", elaborado em equipe como projeto final da especialização em Arte, Educação e Tecnologias Contemporâneas, o ARTEDUCA, da Universidade de Brasília.

A idéia da abordagem do Cordel (que é feito em versos, com vocabulário acessível e estrutura rítmica cativante, escrito para ser lido e cantado) como Tecnologia Criativa, surgiu da vontade de desenvolver um trabalho envolvendo as Artes Cênicas como facilitadoras da Alfabetização na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Os pressupostos para esta facilitação seriam metodologias e atividades ligadas à Cultura Popular: o Cordel, para registrar o que pensa uma determinada comunidade, e o Teatro do Oprimido como linguagem artística utilizada para a  recriação de uma obra do Cordel, a fim de expressar os conflitos da comunidade de alunos e daí, dialogicamente, como nos ensinou Paulo Freire, partir para uma solução desses conflitos, pois a ausência de reflexão do aluno a respeito da diversidade estético/cultural presente na sua região e comunidade, pode favorecer um distanciamento  de suas raízes culturais.

Partindo do problema: a falta de compreensão dos textos trabalhados na escola impede o avanço na aquisição de habilidades de leitura e escrita e para responder a esta questão, optamos pela metodologia do Continuum Experencial de Dewey, que oportuniza as experiências reflexivas, transformadoras e criativas. Para análise das atividades realizadas fomos buscar as idéias de Paulo Freire que vê a leitura do mundo precedendo a da palavra escrita e as de Kleiman, que entende a leitura como experiência de aquisição de conhecimento, desenvolvimento do raciocínio e participação do sujeito na vida social e na interação com o mundo cultural. Consideramos, também, os pressupostos teóricos de Lajolo, que entende os processos de leitura e escrita inseridos num contexto cultural em forma de espiral sem fim, assim como o Teatro do Oprimido, que, no dizer de Augusto Boal, tem duas características fundamentais: "Transformar o espectador, ser passivo e depositário, em protagonista da ação dramática” e "Nunca se contentar em refletir sobre o passado, mas em se preparar para o futuro [1] . Assim, nossa hipótese de solução para o problema proposto seria a de que o trabalho com textos de Cordel, rimas e aliterações, poesias e fatos relacionados com a cultura popular permeados pelo fazer artístico (recriação de obra do Cordel por meio do Teatro do Oprimido), com auxílio das tecnologias contemporâneas no processo de transmissão de conhecimento, favorece o desenvolvimento das habilidades de leitura e de escrita. Nosso objetivo maior seria o de detectar incremento na capacidade de ler e interpretar textos, relacionando a experência de vida do aluno como cidadão de sua própria região com o trabalho dos Cordelistas, aprimorando a auto-expressão do aprendente por meio do fazer artístico.

Visto que um dos nossos pressupostos era o trabalho com a leitura, buscamos uma definição do que seja ela em KLEIMAN (2001), que a traduz como ferramenta que caracteriza e distingue os seres humanos pois, ao dominá-la, abrimos a possibilidade de aquisição de conhecimentos, de desenvolver raciocínios, participar da vida social, interagir com o mundo. É uma interação autor-leitor, processo de múltiplas facetas, visando a compreender a matéria escrita e utilizá-la conforme suas necessidades, enfim, uma prática social. Já para Paulo Freire, ainda em relação à leitura,  é necessário que o indivíduo leia seu próprio mundo para depois decifrar as palavras, pois as mensagens que lê só têm significado quando se relacionam com o mundo a sua volta:

“A leitura do mundo precede a leitura da palavra (...) A velha casa, seus quartos, seu corredor, seu sótão, seu terraço – o sítio das avencas de minha mãe -, o quintal amplo em que se achava, tudo isso foi o meu primeiro mundo. Nele engatinhei, balbuciei, me pus de pé, andei, falei. Na verdade, aquele mundo especial se dava a mim como mundo de minha atividade perceptiva, por isso mesmo como mundo de minhas primeiras leituras. Os “textos”, as palavras”, as “letras” daquele contexto (...) se encarnavam numa série de coisas, de objetos, de sinais, cuja compreensão eu ia apreendendo no meu trato com eles nas minhas relações com meus irmãos mais velhos e com meus pais. (...) A decifração da palavra fluía naturalmente da “leitura” do mundo particular. (...) Fui alfabetizado no chão do quintal de minha casa, à sombra das mangueiras, com palavras do meu mundo e não do mundo maior dos meus pais. “O chão foi meu quadro-negro; gravetos, o meu giz”. (FREIRE, 1988 , 11)

E a escrita, que também faz parte do trabalho, posto que intimamente ligada à leitura, segundo SILVA (2001), é o método de comunicação humana realizado por sinais que constituem um sistema que pode ser completo quando expressa, graficamente, tudo o que formula oralmente. Assim, há correspondência entre os sinais gráficos e os elementos da língua que eles  transcrevem. Com a escrita, o sujeito pode projetar a sua visão de mundo, sua cultura, seus sentimentos e vivências no papel, revitalizando a memória e tecendo as páginas da História. Juntando leitura e escrita, partimos daqui para uma interrelação que forma o uso eficaz da linguagem e, segundo BRASIL, (1998) toda educação comprometida com o exercício pleno da cidadania necessita criar condições para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaça necessidades pessoais, assim como deve favorecer a reflexão crítico-imaginativa e as formas de pensamento mais elaboradas e abstratas para a participação em sociedade. A escola deve viabilizar o acesso do aluno aos textos que circulam na sociedade para interpretá-los e, a partir daí, produzir outros textos, pois que conhecer é relacionar. Aprender a ler e escrever no Brasil é lidar com falares regionais e o Cordel possibilita recriar e expressar-se artisticamente respeitando as culturas em sua diversidade.

Falando em diversidade, e transpondo este pensamento para os conteúdos dos diversos componentes curriculares, tal observação remete-nos a perceber a importância da interdisciplinaridade quando Hernandez (1998) afirma ser possível por meio dela uma relação de reciprocidade, de mutualidade, que possibilita um diálogo mais fecundo entre os vários campos do saber. A exigência interdisciplinar impõe a cada disciplina que transcenda sua especialidade, tomando consciência de seus próprios limites para acolher as contribuições de outras disciplinas. Provoca, ainda, trocas generalizadas de informações e de críticas, amplia a formação geral e questiona a acomodação dos pressupostos implícitos em cada área, fortalecendo o trabalho coletivo. Em vez de disciplinas fragmentadas, a interdisciplinaridade postula a construção de interconexões.Dessa maneira, um projeto interdisciplinar que trabalhe além da leitura e escrita, as várias formas de expressão artística, a cultura popular e ocorrências como a presença do preconceito lingüístico, respeito às diferenças e valorização da cultura nacional, faz-se necessário frente aos paradigmas educacionais existentes.

E nada melhor para a quebra de paradigmas do que a vivência artística dentro do processo de ensino/aprendizagem, como bem definiu Barbosa (1995,90): “a arte pode ser um poderoso auxiliar para o enriquecimento do processo de aprendizagem dos demais conteúdos cognitivos e são firmemente aceitos objetivos relacionados com a ênfase dessa função da Arte Educação”.

Entendemos ser imperativa, assim, uma educação baseada em concepção dialética, onde todos compreendam que é preciso adaptar nossas formas de educar às mudanças rápidas e aceleradas principalmente no que se refere às tecnologias contemporâneas de ensino/aprendizagem, criando ambientes dessa estirpe que favoreçam processos criativos e valorizando a arte. Fatores que abrem perspectivas para que o aluno tenha uma compreensão do mundo em que seja possível transformar continuamente a existência, mudar referências a cada momento, ser flexível. Esses ambientes de aprendizagem incluem principalmente os computadores, suas ferramentas e a internet no ambiente educacional, pois segundo BOETTCHER (2005, 161) “estes - sic -ambientes de aprendizagem - envolvem implicações epistemológicas e ontológicas importantes, uma vez que nos remetem à interdisciplinaridade e, conseqüentemente, a um novo modo de pensar e de agir”.

Agora, mais voltados à aplicação prática final em si deste trabalho, cabe acrescentar que o Teatro do Oprimido, expressão artítistica escolhida para o trabalho com os alunos da Escola Alternativa de Arapiraca, onde se aplicou o projeto,  promove uma quebra com o Teatro tradicional. É diferente paradoxalmente porque baseado em situações da nossa vida cotidiana e real, partindo-se do princípio que todos são iguais neste jogo que é a vida. Neste tipo de teatro, o contato entre o público e os atuantes é direto e ele começou a ser difundido por Augusto Boal, seu propositor, em 1970 (durante o golpe militar ocorrido no Brasil), na Europa, onde Boal encontrava-se exilado. Faz parte do Teatro do Oprimido o Teatro do Invisível, estilo que acontece quando o público espectador participa da encenação, mas não sabe que participa. Esta atividade gera o Teatro-fórum, que propõe conflitos por meio da ativa participação dos atuantes (atores) e dos sic espec(atores), na exposição de idéias, posições, visões de mundo, soluções a respeito de um conflito onde há um opressor (a) e um oprimido (a). O conflito pode ser, por exemplo, entre um pai autoritário e uma filha rebelde, ou um gari competente e um pedestre porcalhão. Os espect(atores) substituem os atuantes para solucionar o conflito na cena, e, por isto são tratados por espect(atores) , visto que o papel de espectador é, ao mesmo tempo, permeado pelo de ator. Como numa catarse, que tem sido uma das principais funções do teatro desde a “hibrys” grega, os envolvidos podem expor e trabalhar seus medos, seus desejos e indignações em qualquer lugar: na rua, na escola, na rodoviária, num parque, numa feira.

As ferramentas metodológicas utilizadas para aplicação do Projeto Interdisciplinar-Trabalho de Conclusão de Curso descrito neste trabalho na Escola Alternativa da rede particular em Arapiraca/AL, numa turma de EJA Fase II (equivalente às 3ª e 4ª série do Ensino Fundamental) foram:

1- Leitura de textos de cordel;

2- Ida à feira de Arapiraca para conhecer cordelistas;

3- Escolha de um folheto de Cordel para subsidiar estudo sobre o Rio São Francisco e a necessidade de sua preservação;

4- Oficina de Expressão Corporal e Improvisação Teatral com base nas fases propostas por Boal no livro “Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas”, sendo:

- Conhecer o corpo.

- Tornar o corpo expressivo

- Teatro como linguagem

5- Apresentação à comunidade escolar usando a forma do Teatro do Oprimido;

6- Utilização dos subsídios observados (e reescritos coletivamente) durante a apresentação à comunidade escolar, para criação de uma improvisação teatral versando sobre o equilíbrio do meio-ambiente.

A professora Ângela Maria de Araújo Leite, do componente curricular Geografia, que aplicou o projeto em parceria e sob a orientação de Gisele Torres Martini, Arte-Educadora responsável pela proposta descrita neste artigo, pretendia iniciar um debate, com seus alunos de EJA sobre a importância do Rio São Francisco e sua preservação para as comunidades próximas dele. O São Francisco distancia-se, aproximadamente, 50 kilômetros de Arapiraca, banhando a cidade de Penedo. As duas professoras conheceram-se numa sala de 'chat' para professores na internet e mantinham contato há cinco anos, sempre discutindo Educação. O convite para a aplicação do projeto foi feito e aceito com muita alegria e, para iniciar o trabalho com a Literatura de Cordel, Ângela usou uma apresentação em powerpoint, elaborada para o Projeto Interdisciplinar. Esta apresentação foi enviada para Arapiraca pela internet que segundo Ivônio Barros Nunes [2]... pode reunir num só meio de comunicação as vantagens dos diferentes modos de se comunicar informações e idéias, de forma cada vez mais interativa, reduzindo-se custos e ampliando as possibilidades de auto-descobrimento...

Esta apresentação ilustrou a explanação de Ângela aos alunos sobre a origem da Literatura de Cordel e sua importância em nossa cultura. A professora Gisele, em conujunto com a professora Ângela (por meio da ferramenta Messenger), discutiram sobre sites que pudessem ajudar os alunos na pesquisa sobre Cordel e eles pesquisaram sobre o assunto em nos sites sugeridos e fizeram uma visita à feira da cidade, onde puderam observar alguns folhetos de Cordel e conversar com alguns autores in loco.

O folheto de Cordel a ser trabalhado foi escolhido pelos alunos: “São Francisco, nosso rio, nossa vida”, escrito por Zé da Feira.

A professora Ângela, concomitantemente, seguia as etapas sugeridas por Boal, orientada via web, sempre  em contato com a professora Gisele, por e-mail, Messenger e telefone. As etapas eram explicadas e todas as dúvidas, esclarecidas.

Na primeira delas, “Conhecimento do corpo”, foram realizadas atividades de expressão corporal a fim de que os alunos adquirissem um conhecimento e um domínio maior sobre seu corpo e suas reações, desfazendo possíveis couraças musculares adquiridas. Para isto, citamos como exemplo as corridas em diferentes velocidades “estéticas”, quando o aluno corre muito devagar ou excessivamente rápido; também o exercício do espelho, onde o objetivo é que o aluno imite todos os movimentos de seu parceiro, tal qual um espelho.

Finda a primeira etapa foi feito contato telefônico entre as professoras envolvidas para avaliação das atividades e de como estavam os alunos envolvidos, assim como a professora Ângela enviou o registro das imagens colhidas durante o trabalho para a professora Gisele através da internet. Assim, para a segunda etapa, a de “Tornar o corpo expressivo”, exercícios foram realizados com o uso de objetos e sentimentos.

Por exemplo: carregar uma cadeira sentindo raiva. Depois, carregar uma cadeira devagar, sentindo raiva. Após, repetir o mesmo gesto sem a cadeira, mas com o sentimento. 

É importante salientar que, sempre, após cada exercício de cada etapa, os alunos e a professora, sentados em círculo, abriram debate sobre os exercícios, seu significado para cada um, dificuldades e facilidades, sendo este o objetivo primeiro da avaliação em Teatro-Educação, e não a simples absorção de “conhecimentos” e testes conteúdistas como bem define Olga Reverbel (1989, P. 155):

Ao final de um conjunto de atividades, desenvolve-se uma avaliação cooperativa entre professor-aluno e aluno-aluno. Reavaliação e proposição de novas atividades de expressão se necessário. A proposição de atividades é feita pelo professor ou pelos próprios alunos”.

Na terceira etapa, Teatro como linguagem, existe a busca de uma aproximação entre os “fazedores” da cena (atores) e a platéia, de forma que a platéia venha a participar da cena, não necessariamente com uma entrada “física”, mas que pode ocorrer. Assim, no pátio da escola, na hora do recreio, os alunos improvisaram uma cena onde uma dona-de-casa jogava lixo diretamente da janela de sua casa para o rio.

Por decisão tomada entre os próprios alunos, eles congelaram a cena neste exato momento, quando então, a professora interveio e perguntou a um “espectador” (podemos dizer que, neste ponto, a professora representou o papel de Coringa, no sentido que Boal dá a este termo:

O Coringa é uma personagem do Teatro do Oprimido onisciente que altera, inverte, recoloca, pede para ser refeita sob outra perspectiva uma cena, sempre que sinta necessidade de alertar a platéia para algo significativo, concentrando a função crítica e distanciada[3]) o que ele faria na cena, caso entrasse nela. O aluno (espectador) disse que poderia fazer a passagem de um guarda municipal que chamasse a atenção da dona-de-casa pela falta de bom senso em atirar lixo para poluir o rio. Foi convidado pela professora a entrar em cena e improvisar e surgiu em na cena como guarda - municipal. Outras soluções foram apontadas pela platéia, como: um peixe enorme que joga o lixo de volta na dona-de-casa, Deus que fala do céu com voz poderosa sobre o assunto assustando a mulher, um dono de fábrica que chama a atenção da mulher e depois se vê que a fábrica polui mais gravemente o mesmo rio. Com base em todas as sugestões dadas no decorrer da cena, que depois foram escritas coletivamente pelos alunos e também com base na história do cordel de Zé da Feira, os alunos improvisaram uma criação coletiva, um libelo pela preservação do meio-ambiente, com o uso de expressão corporal, música e ruídos, sem voz, também com uso de máscaras confeccionadas com papel cartão e estrutura externa de arame, desenhadas por eles. Atingiu-se, assim, o objetivo primevo da professora Ângela: provocar o debate sobre o Rio São Francisco e a importância da sua preservação, transmitir o conteúdo e facilitar sua apreensão por meio do Cordel e dos exercícios e estrutura dramática do Teatro do Oprimido.

Houve um claro aumento da capacidade de auto expressão e a educadora pôde observar que, após o desenvolvimento das atividades de expressão corporal e interpretação teatral, os alunos demonstraram maior facilidade de expressão oral em sala de aula, colocando verbalmente o desejo de levar as atividades com o Teatro do Oprimido para outros trabalhos dos demais componentes curriculares. O interesse pela Literatura de Cordel foi incrementado e o interesse pela leitura de modo geral aumentou, tendo os alunos consultado a professora sobre a possibilidade de efetuarem outras apresentações subsidiadas por adaptações de obras literárias encontradas na biblioteca da escola (aqui, fazemos uma pausa para identificar claramente a Proposta Triangular, elaborada por Ana Mae Barbosa, que nos diz o seguinte[4]):

“E existe uma outra que é a linguagem presentacional, que é a linguagem que se apresenta e que você tem que ler e exprimir através do seu corpo, da sua gestualidade, do visual, do desenho, da pintura, da instalação. Você pode ter equivalentes na linguagem discursiva mas não é passível de tradução, ou seja, ela não se reduzir ao verbal, da mesma maneira que o verbal não pode se reduzir ao visual. Pode-se encontrar equivalências, usar o visual para ilustrar o verbal, o verbal para estender o visual, mas elas não são equivalentes, elas têm sua maneira de expressão e de conhecimento, explorando o conhecimento de uma maneira que se você não usa-las, terá o seu conhecimento do mundo menos estendido porque não atua nesta fatia de linguagem“,

e que é fundamental para a concretização plena do objetivo do Arte-educador em seu trabalho. Os autores citados como exemplo pelos alunos para futuras recriações teatrais foram: Martins Penna e Machado de Assis. Em relação à escrita, foi observado pela professora Ângela Leite um interesse em participar da redação do que foi selecionado na apresentação para a platéia na hora do recreio a fim de subsidiar a  criação coletiva, sendo que, antes, era muito difícil que os alunos se propusessem a uma tarefa que envolvesse o ato de escrever com tanto entusiasmo.

Acreditamos que o problema proposto pela pesquisa foi resolvido pois, observamos e comprovamos que o trabalho com as poesias do Cordel, a improvisação teatral, o Teatro do Oprimido (fazer artístico) e as tecnologias contemporâneas, favoreceu a apreensão do conteúdo do componente curricular Geografia por meio da interdisciplinaridade, a auto-expressão dos alunos não somente por meio da linguagem teatral, objetivo da professora Gisele, mas também no cotidiano escolar, o progresso no desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita, podendo isto ser comprovado pela observação do resultado da oficina, conforme aplicação descrita neste artigo.

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Notas:

[1] BEZERRA, A.P. "O Teatro do Oprimido e a noção de espectador-ator: Pessoa e Personagem”. In: http://hemi.nyu.edu/por/seminar/brazil/antonia.html Cconsultado em 28/02/2007.

[2] NUNES, I.B. Noções de educação a distância. In: http://www.rau-tu.unicamp.br/nou-rau/ead/document/?code=3. Capturado em 08 de janeiro de 2006.

[3] ITAU CULTURAL – enciclopédia de teatro, disponível na internet via www em url http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?fuseaction=conceitos_biografia&cd_verbete=620 Capturado em 20/04/2006.

[4] PEIXE, R.I.P “Conversando com Ana Mae”. Entrevista. In: http://www.pg.cdr.unc.br/revistavirtual/numerosete/Entrevista.htm Consultado em 10/01/2006.

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