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Percussão e Interpretação Mediada
Autores: Cesar Traldi e Jônatas Manzolli - ctraldi@nics.unicamp.br

Resumo: Com o objetivo de observar a postura interpretativa em obras contemporâneas que se utilizam de processamento e eletrônicos ao vivo, este trabalho estuda a interpretação musical e a interação do músico em processos de mediação tecnológica. A utilização de interfaces tecnológicas que interage com elementos da técnica tradicional dos instrumentos de percussão, é pesquisada através da realização de oficinas de interação. Como resultado é apresentado um conjunto de estudos interpretativos que utilizam a marimba como instrumento principal e neles utilizam-se baquetas interativas, captação por microfone, improvisação com multipercussão e processamento digital ao vivo.

Palavras-chave: interação, percussão, interface, improvisação, processamento digital.

Abstract: To observe the interpretative perspective in contemporary works with live electronics and real time processing, this paper studies musical interpretation and musician’s interaction within processes related to technological mediation. The use of technological interfaces with elements of the percussion instruments traditional technique is researched through the accomplishment of interactive workshops. As a result, we present a set of interpretative studies that use marimba as main instrument and also interactive sticks, caption by microphone, improvisation based on multi-percussion instruments and live digital sound processing.

Key Words: interaction, percussion, interface, improvisation, digital sound processing.

Introdução

Mesmo com indícios de que os instrumentos de percussão foram os primeiros a surgirem, no contexto da História da Música Ocidental, eles somente foram amplamente explorados no século XX. O desenvolvimento dos processos de construção dos instrumentos, o amadurecimento técnico dos instrumentistas, a grande variedade de timbres e a presença marcante do gesto do músico na interpretação possibilitaram o surgimento de estratégias composicionais e recursos técnicos inovadores como novas técnicas interpretativas, dispositivos eletrônicos e processamento digital de sinais ao vivo.

Esse processo gerou grande interesse por parte de muitos compositores e fez com que a percussão assumisse a posição de uma das principais fontes de novas sonoridades instrumentais no contexto da música contemporânea. O percussionista, ao interagir com o ineditismo, necessita buscar novas fontes de conhecimento musical. Para o percussionista Kumor (2002), a performance de obras contemporâneas exige do intérprete conhecimentos que vão além do padrão curricular.

A possibilidade de interagir com meios sonoros e computacionais surge no final do século passado e, rapidamente, torna-se uma das principais linhas de composição e interpretação do início deste século. A interação de músicos com eletrônicos foi preconizada por Boulez (1977) que menciona que tais dispositivos não foram inventados para aplicações musicais, mas que sua utilização levaria a mutações que poderiam engendrar soluções inovadoras.  Este ponto de vista é reforçado em Boulez & Gerzso (1988), no que concerne a interação com recursos digitais mediados pelo computador.

A reflexão que apresentamos iniciou-se com o desenvolvimento do Laboratório de Interfaces Gestuais (LIGA) no Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora (NICS/Unicamp), como apresentado por Manzolli (1996). Esta pesquisa demonstrou que a interação do intérprete com dispositivos eletrônicos e processamento digital passou a ser um ponto chave na interpretação contemporânea no que tange ao ineditismo deste tipo de tratamento sonoro. Atualmente, meios como a computação musical e processo digital voltado à interatividade se entrelaçam. Neste contexto, é necessário que haja um esforço de pesquisa que leve o intérprete a integrar tais processos ao seu conhecimento e à sua prática musical.

A pesquisa que aqui se apresenta tem como objetivo ampliar as possibilidades interpretativas dos instrumentos de percussão, observando práticas de interação com a marimba para desenvolver uma visão musical no processo de performance co-criativa. Pesquisamos a interação da marimba com dipositivos digitais de modo a ampliar o escopo da mediação entre a marimba e a tecnologia. Através da construção de novos dispositivos e interfaces digitais, observamos parâmetros que levam a mudanças na visão interpretativa do músico. Essa nova postura é denominada neste trabalho de Interpretação Mediada.

Inúmeros equipamentos, dispositivos mediáticos e posturas interpretativas podem ser utilizados na construção de performances para percussão e dispositivos tecnológicos. Um dos objetivos desta pesquisa foi o de estudar essas possibilidades de interação para analisar a postura do intérprete frente a essa nova linguagem, entender e descrever as possibilidades e a importância da construção de uma nova visão interpretativa para obras que dialogam com a tecnologia digital.

É oportuno salientar que a aqui denominada “interpretação mediada”, exige do intérprete um conhecimento que não faz parte da grade curricular das escolas de música e universidades brasileiras no que tange ao ensino de percussão. Daí o interesse deste trabalho pelo estudo de uma nova postura interpretativa na qual o músico utilizando-se das técnicas instrumentais tradicionais e dos conhecimentos já adquiridos, amplia os horizontes da sua linguagem musical.

Na última década, um novo campo de pesquisa consolidou-se com o objetivo de estudar e criar novos dispositivos digitais e instrumentos musicais para interação ao vivo. Em 2001, iniciou-se uma série de conferências anuais denominadas de NIME (New Interfaces for Musical Expression), onde intérpretes e pesquisadores apresentavam os últimos avanços na construção de novas interfaces musicais. Neste sentido, a pesquisa aqui apresentada descreve a construção de uma nova interface. Esse novo dispositivo será apresentado na seção que discute a primeira oficina de interação. São baquetas interativas que foram criadas durante a realização das oficinas e demonstraram um bom desempenho.

Vibrafone com captadores MIDI e Interação Computacional em Névoas e Cristais

No contexto de composições brasileiras, Névoas e Cristais[1] (1995), do compositor Jônatas Manzolli, aparece como a primeira obra para instrumento de percussão de teclado (vibrafone) e dipositivos digitais ao vivo (computador). Dedicada ao percussionista André Juarez, esta obra é baseada em um diálogo homem-máquina entre computador e vibrafone que executado por um músico gera eventos MIDI em tempo real. A peça utiliza várias estratégias interativas, possibilitando ao intérprete a liberdade de se relacionar de diferentes modos de acordo com as ações geradas pelo computador. Os sons produzidos pelo computador são similares aos do vibrafone, oportunizando ao ouvinte uma ampliação do espectro sonoro deste instrumento. Essa peça se organiza em duas estruturas básicas: · Névoas: nuvens de material baseado em classes de altura que giram ao redor das notas tocadas pelo vibrafone acústico. Há sempre um processamento de adensamento e pulverização entre os eventos controlados pelo intérprete; e, · Cristais: blocos ou clusters de sons que produzem rupturas na obra. Neste caso, o compositor utiliza o processo inverso do anterior com o objetivo de criar um discurso com texturas. O resultado sonoro que essa estrutura desencadeia é percebido como um timbre de vibrafone muito complexo. A estratégia composicional pode ser descrita como um instrumento expandido a partir da interferência do computador no processo de interação homem-máquina.

Obras como esta, levam ao estudo de uma nova área do conhecimento. Na qual se constrói um campo interdisciplinar que engloba o desenvolvimento de dispositivos digitais, a construção de ambientes interativos e o estudo interpretativo mediático. Assim, esta utilização de interfaces tecnológicas fomenta o surgimento de novos paradigmas de criação e interpretação musical. Wanderley (2006) ao tratar esta problemática apresenta como principal questão: “como utilizar esta capacidade de geração sonora em tempo real? Ou, como tocar um computador?” Inscrevendo-nos neste lugar de reflexão, que exige como ferramenta de trabalho o novo, apontamos três questões:

· Como integrar o mecanismo interpretativo de um músico com formação tradicional, no processo das novas linguagens digitais?

· Quais os aspectos importantes para desenvolver esta nova postura?

· Qual a relação entre o controle feito através de dispositivos digitais num contexto totalmente livre e a interpretação advinda de uma interação com a técnica do instrumento?

Na busca por esse entendimento, realizamos três oficinas que são apresentadas a seguir. Na primeira, as baquetas interativas são estudadas como uma nova interface que se utiliza de um módulo digital para geração de eventos MIDI com sons de percussão. Na segunda e terceira empreendemos a utilização de microfones como interface e verificamos as possibilidades criativas do uso de improvisação e processamento digital. Na segunda oficina foram realizadas experiências com a marimba e o software Max/MSP e na terceira oficina apresentamos uma série de experiências realizadas em conjunto com o percussionista Cleber Campos e o compositor Gilson Beck, em que foi utilizado um set up de percussão múltipla em interação com o computador utilizando-se também o software Max/MSP. Como resultado desta última oficina criou-se a obra “Sinergética”.

Oficinas de Interação

A metodologia utilizada na pesquisa apoiou-se em três elementos fundamentais:

· Construção de um novo dispositivo digital;

· Mediação através de processo computacional; e,

· Oficinas de performance em que foram realizadas as validações do processo bem como as medidas de desempenho do sistema e a avaliação da reação do músico.

Através da realização de oficinas, o intérprete-pesquisador vinculou o conteúdo teórico e tecnológico com a sua prática instrumental. O objetivo foi observar sua postura interpretativa em obras contemporâneas com processamento computacional ao vivo.

Para a realização de algumas oficinas foi necessário construir ou modificar alguns dispositivos e equipamentos para serem utilizados em situações de interação em tempo real.  Em virtude da grande quantidade e diversidade de dispositivos eletrônicos selecionamos apenas dois tipos de sensores (piezoeléctrico e microfone).

Os piezoeléctricos permitiram o desenvolvimento original de uma baqueta interativa. Isso se deu por já haver referência de seu uso no Laboratório de Interfaces Gestuais (LIGA) do NICS, como explicitado por Manzolli (1996). O segundo método empregado trabalha com o microfone e a utilização de software de processamento para adaptar o modo de interação musical.

Primeira Oficina: Baqueta interativa com piezoeléctrico e Módulo de Percussão Digital

Para observar a utilização da técnica tradicional de instrumentos de percussão no contexto de interação com processamento digital, pareceu-nos natural explorar, como primeiro passo da pesquisa, a utilização de baquetas por terem grande importância na performance dos instrumentos de percussão e, em especial, na marimba. A criação e o estudo de uma nova baqueta com piezoeléctrico foi importante principalmente porque o controle e o uso de baquetas é um dos princípios fundamentais da técnica dos instrumentos de percussão.

Foram construídas doze baquetas do tipo mallets, baquetas normalmente utilizadas nos instrumentos de percussão de teclado como a marimba e que também podem ser utilizadas para tocar outros tipos de instrumentos de percussão como tambores, tímpanos, caixas, pratos, etc.

A baqueta foi conectada a um conversor analógico-digital para transformar cada pulso elétrico em um evento MIDI. Assim, o sinal produzido pelo percussionista poderia ser processado pelo computador ou produzir som diretamente através de um módulo de percussão digital.

O módulo de percussão digital utilizado na pesquisa possui doze diferentes canais para a conexão dos sensores piezoeléctricos e por volta de 256 sons diferentes de instrumentos de percussão, que podem ser programados para responderem a qualquer um dos 12 sensores.

Descrição da Primeira Oficina

A principal preocupação na construção das baquetas, para a realização das oficinas, era que elas fossem as mais parecidas possíveis com as baquetas tradicionais. Esse cuidado foi de grande importância para aproximar a performance das baquetas interativas com a das baquetas tradicionais. O objetivo foi minimizar as diferenças entre elas, buscando assim não criar mudanças radicais no controle do instrumentista. Se o peso ou o tamanho dessas baquetas fossem muito diferentes das tradicionais, certamente um intérprete teria dificuldade em utilizá-las.

O processo de construção da baqueta seguiu três etapas:

· Na cabeça das baquetas foram colocados os sensores piezoeléctricos, neles foram soldados dois fios com dois metros e cinqüenta centímetros de comprimento (2,50 m).

· O sensor piezoeléctrico foi envolvido com um pequeno pedaço de plástico bolha para evitar a produção de ruídos metálicos causado pelo contato direto do corpo metálico do sensor com a esfera de borracha.

· Após serem envolvidos, os sensores foram colocados no interior de esferas de borracha. Estas, por sua vez, foram cortadas ao meio e posteriormente coladas novamente com o sensor piezoeléctrico no seu interior.

Resultados da Primeira Oficina

De uma maneira geral, a performance desta interface foi considerada satisfatória, dada a simplicidade dos dispositivos envolvidos. O módulo de percussão utilizado foi um D4 da Alesis que possui entrada para 12 sensores piezoeléctricos. Os parâmetros de controle do módulo D4 foram alvo de estudo e serão apresentados a seguir.

O único problema foi um ruído no cabo da baqueta que solucionamos utilizando cabos de madeira para substituir os de alumínio adotados nas primeiras experiências. Há, ainda, um interesse futuro em utilizar as baquetas com o software “Rabisco[2]” desenvolvido no NICS e apresentado por Manzolli (2002).

Durante as oficinas, com as baquetas interativas, foram analisados e estudados três aspectos da produção sonora: a reação do músico, sua postura interpretativa e as novas sonoridades geradas pela marimba e pelo módulo de percussão.

  • Parâmetros de Controle: configuração do módulo de percussão digital utilizado para gerar sons percussivos juntamente com o som da marimba;
  • Gesto Sonoro (GS): rulos[3], staccatos, glissandos, arpejos, acordes, etc;
  • Gesto Incidental: toque simples, dead strokes[4], variações de dinâmicas e articulações.
  • O primeiro aspecto da análise voltou-se aos efeitos sonoros causados pela interação entre o som da marimba e do módulo de percussão D4. O objetivo foi observar a interação com diferentes sons dentro das inúmeras possibilidades que o módulo pode gerar e assim analisar a postura do intérprete para cada configuração sonora diferente.

    Os dois outros aspectos constituem-se no que denominamos de Gesto Sonoro (um conjunto de mecanismos de interpretação da marimba que tem características mais globais) e Gesto Incidental (aspectos voltados mais ao acionamento de cada tecla da marimba individualmente). Os três aspectos, isto é, parâmetros de controle, gesto sonoro e gesto incidental, constituíram pontos de partida para análise. Apesar de estarem dispostos separadamente não foram dissociados. Empreendemos isso para atingir os seguintes objetivos:

    a) criar um processo onde o instrumentista pudesse reiterar diferentes aspectos de sua postura interpretativa;

    b) combinar e explorar os elementos de (a) com as sonoridades resultantes da interação do som da marimba com o módulo de percussão.

    Variação de Gesto Sonoro para obter diferentes sonoridades

    As baquetas interativas possibilitaram ao intérprete a geração e controle de diferentes estruturas entre o som acústico da marimba e os sons eletrônicos. Assim foram observadas as seguintes situações:

    a) Utilização de notas staccato na marimba e obtenção de notas longas nos eletrônicos (vide figura 04);

    b) Execução de rulos na marimba com geração de ataques curtos nos eletrônicos (vide figura 05); e,

    c) Realização de ataques espaçados na marimba e obtenção de sons contínuos nos eletrônicos (vide figura 06).

    Para elucidar o processo estudado utilizamos um pequeno trecho musical formado por apenas uma frase rítmica executada em uma única tecla da marimba (vide figura 02). A utilização de diferentes baquetas resultará na presença de uma nota fixa com quatro sonoridades variantes. Na figura 01 apresentamos o sonograma do som da marimba sem a utilização da baqueta interativa e nas figuras 03 a 06 com a baqueta.

    O uso do sonograma fez-se necessário somente no sentido ilustrativo. Não fizemos uma análise com ferramentas como o Matlab, pois fugiria ao escopo da pesquisa. Este procedimento poderá ser explorado em pesquisa futura. Todavia, para exemplificar que ocorreu um incremento de conteúdo espectral advindo do uso das baquetas, a figura 01 foi estruturada como referência e em cada uma das figuras (de 03 a 06) há um sonograma diferente que apresenta as modificações ocasionadas na interação entre os dois sons como apresentado acima.

    figura 01

    Figura 01: Sonograma da marimba quando executada a frase apresentada na Figura 02 (amostra de referência).

    figura 02

    Figura 02: frase rítmica executada sobre a nota sol da marimba. A numeração na parte inferior das notas na linha da marimba significa a baqueta utilizada na execução[5]. O som digital gerado por cada uma das quatro diferentes baquetas é simbolizado na linha superior.

    figura 03

    Figura 03: Sonograma da frase realizada com baquetas interativas (amostra 1).

    figura 04

    Figura 04: Dead Stroke na marimba mais som eletrônicos (amostra 2).

    figura 05

    Figura 05: Som contínuo produzido por rulo na marimba (amostra 3).

    figura 06

    Figura 06: Som contínuo produzido com o uso de ostinato na marimba (amostra 4).

    figura 07

    Figura 07: Ilustração do sistema de interação entre marimba, baquetas eletrônicas e computador utilizado na Primeira Oficina.

    Discussão da Primeira Oficina

    Dentro das inúmeras possibilidades de resultados selecionamos as quatro amostras acima, pois as mesmas geraram processos sonoros em que o som da marimba esteve em contraposição ao som do módulo sonoro. Tal procedimento não é único, mas foi adotado com o intuito de contrastar e segregar os elementos analisados.

    Comparando a Amostra de referência apresentada na figura 01 com a Amostra 1 (figura 03), observamos que a utilização das baquetas interativas acarretou o acionamento de sons no módulo de percussão que continham componentes espectrais de freqüência alta que não são características da marimba.

    Na Amostra 2 (figura 04), utilizaram-se sons eletrônicos que produzissem notas com duração longa e, em contrapartida, a marimba foi executada com o uso do dead stroke. Neste caso, pudemos observar o entrelaçamento de uma técnica de produção de sons curtos com a interação entre a baqueta e o módulo modificando o decaimento do som resultante.

    Nas Amostras 3 (figura 05) e 4 (figura 06), observamos a utilização de rulos. Na Amostra 3 foi executado um rulo na marimba com a utilização de sons curtos no módulo de percussão digital, em que observamos que nas freqüências altas do espectro podem ser identificados os ataques realizados pelo intérprete enquanto que nas freqüências baixas, provenientes da marimba, esses ataques não são destacados. Na Amostra 4, invertemos os papéis: na marimba é executado um ostinato espaçado e o som programado possui duração longa, assim com a regularidade de disparos temos a sensação de um som contínuo produzido pelos eletrônicos.

    A qualidade sonora resultante depende fortemente da qualidade do módulo de som digital empregado e este mecanismo pode ser explorado de diferentes formas. No entanto, durante as oficinas procuramos utilizar um repertório fixo de sons programados no módulo digital, pois o nosso interesse foi estudar as diferentes possibilidades de acionamento sonoro frente às variações de baquetas, gesto sonoro e incidental. Ficou claro durante a oficina que existem muitas outras possibilidades de combinação. É possível ainda utilizar as baquetas e o módulo como input para outros sistemas que interpretem o protocolo MIDI e o som resultante daí advindo pode ser processado em tempo real.

    Segunda Oficina: Captação por Microfones e Max/MSP

    Na segunda Oficina utilizamos microfones como meio de captação e o software de computador Max/MSP para o tratamento sonoro. Contamos com a colaboração do compositor Gilson Beck, que desenvolveu a programação e pesquisa com a utilização desse software como ferramenta de composição.

    Descrição da Segunda Oficina

    Foram utilizados dois microfones dinâmicos Shure SM57 colocados em pedestais cerca de 5 (cinco) centímetros à frente da marimba e com uma distância de aproximadamente 50 (cinqüenta) centímetros das teclas da marimba. Os microfones foram dispostos de maneira que um captasse a região média grave da marimba e o outro a região média aguda. O computador utilizado foi um Pentium AMD Athlon, 1.26 Ghz, 512 MB de RAM, com o sistema operacional Windows XP Professional. O software empregado foi o MAX.MSP 4.5.1.

    Resultados da Segunda Oficina

    Através da realização das oficinas o intérprete buscou adaptar sua postura interpretativa às necessidades da interação com os dispositivos digitais e a improvisação foi elemento principal desta Oficina. Assim, o intérprete procurou executar efeitos e técnicas que criassem e possibilitassem a geração de sonoridades que eventualmente fugissem dos sons tradicionais da marimba.

    Observamos que a utilização de baquetas com texturas diferentes criaram variantes sonoras que se acentuaram mais no som tratado digitalmente do que no som produzido no instrumento. Se o intérprete empregar uma mesma técnica instrumental, com baquetas com texturas diferentes, há uma pequena diferença na geração sonora do instrumento acústico, mas se este som for captado e tratado pelo computador em tempo real esta diferença será mais acentuada e melhor percebida pelo ouvido humano.

    Ocorre algo semelhante quando são utilizados diferentes tipos de ataques. Também podemos observar que a diferença sonora é mais acentuada no som processado pelo computador do que no som acústico do instrumento, ou seja, o processamento e o computador podem funcionar como uma espécie de microscópio das filigranas do som.

    Desta forma, no contexto da improvisação com interação com eletrônicos em tempo real, em que o intérprete assume uma postura de co-criador da obra, é necessário que ele esteja atento à geração sonora do instrumento acústico e às sonoridades criadas pelo processamento eletrônico.

    Discussão da Segunda Oficina

    Observamos que o emprego de microfones como interface demonstrou uma menor precisão no que tange a determinação exata da nota executada quando comparado com as baquetas interativas apresentadas na primeira Oficina. Para possibilitar esta precisão da nota executada são necessários programas adicionais como pitch followers, que podem também ser implementados no Max/MSP. Da maneira que o sistema foi utilizado, captou-se o resultado sonoro de uma série de eventos e não eventos isolados como no caso das baquetas interativas.

    A patch desenvolvida com o programa Max/MSP processava o som em tempo real, gerando determinados sons e estruturas sonoras. Assim, o intérprete, ao ser estimulado pelo som processado pelo computador, foi capaz de reagir e improvisar novas sonoridades.

    A improvisação foi o elemento principal de desenvolvimento sonoro. Desta forma, notamos que a técnica instrumental do intérprete possibilitou a geração de um conjunto maior de estruturas acústicas musicais e sonoridades, ou seja, o repertório técnico do músico está diretamente ligado à capacidade de inserir diversidade no sistema.

    Terceira Oficina: Sinergética (Percussão Múltipla, Captação por Microfones e Max/MSP)

    Aproveitando nosso trabalho de performance no duo de percussão “Paticumpá”, com o percussionista Cleber Campos, desenvolvemos uma série de oficinas com a utilização de uma configuração de percussão múltipla. Apesar de destacarmos inicialmente a interação da marimba com dispositivos eletrônicos, a terceira Oficina foi importante para observar a postura interpretativa frente à interação com dispositivos eletrônicos e com outro intérprete ao mesmo tempo.

    Realizamos nesta oficina, novamente em parceria com o compositor Gilson Beck, um estudo sobre a interação entre a sonoridade dos instrumentos de percussão, improvisação e o processo composicional. O objetivo foi estabelecer uma cooperação entre os participantes do processo e buscar novas sonoridades através da interação entre instrumentos de percussão e tratamento computacional em tempo real. Este processo de interação levou à composição da obra “Sinergética”. O título dessa composição foi escolhido por expressar o conceito de colaboração presente na obra.

    Descrição da Terceira Oficina

    A figura 08 apresenta a descrição da instrumentação empregada na obra. Esta configuração de percussão múltipla foi executada e compartilhada por dois percussionistas. O conjunto instrumental é formado por oito tom-toms, um bumbo sinfônico, quatro tambores de freio, um temple bell, cinco tubos de alumínio de diferentes tamanhos e espessuras, quatro latas de diferentes tamanhos, quatro wood-blocks, um apito e um roem-roem[6].

    figura 08

    Figura 08: Configuração de percussão múltipla utilizada nas oficinas e na obra Sinergética.

    Como já mencionamos, a improvisação foi o principal elemento do processo criativo. Nas primeiras experiências partimos de um guia de improvisação em forma de partitura gráfica (figura 09).

    Após a realização de uma série de oficinas chegou-se a uma estrutura subdividida em três grandes seções:

    Seção 1: Breve início com efeitos de apito e roem-roem, indo rapidamente para instrumentos de pele / dinâmica iniciando em forte e decrescendo / utilização de notas espaçadas.

    Seção 2: Instrumentos de metal e madeira / dinâmica meio forte / maior número de notas em relação à primeira parte.

    Seção 3: Instrumentos de pele / dinâmica iniciando em fraco e crescendo até fortíssimo / início com notas espaçadas e aumento da densidade até o clímax da obra.

    As seções são interligadas por pequenas pontes/intersecções em que os elementos e os timbres utilizados são uma mescla da seção anterior e da próxima.

    figura 09

    Figura 09: Trecho da partitura gráfica utilizada nas primeiras oficinas, onde há um crescendo que parte de instrumentos de tubo de metal, evolui para instrumentos de madeira e converge na dinâmica ff para os tambores de freio. A densidade e a regularidade das linhas indicam a mudança de instrumento de percussão.

    A metodologia utilizada nesse estudo fundamentasse nas experiências adquiridas pelos pesquisadores/intérpretes e baseadas em três etapas:

    - Construir, selecionar e executar os modelos sonoros a serem utilizados na obra, observando as peculiaridades entre cada instrumento na realização das oficinas;

    - Desenvolver habilidade com as interfaces e processamentos sonoros envolvidos na mediação dos processos tecnológicos utilizados; e,

    - Ampliar o escopo das sonoridades desses instrumentos e adequá-las ao processo de composição, enriquecendo assim a paleta timbrica utilizada no processo de improvisação.

    Cinco microfones foram utilizados como interfaces, que captavam o material sonoro produzido pelos instrumentos de percussão e enviavam para um computador onde o som foi processado através do software Max/MSP. Os microfones utilizados foram: 3 (três) unidirecionais (cardióide) e 2 (dois) omnidirecionais.

    A interação entre intérpretes e eletrônicos nessa obra tem um fluxo recorrente em que os intérpretes geram sinal para o computador e reagem às sonoridades produzidas pelo mesmo. Este processo é potencializado, pois há também uma interação entre os dois percussionistas estimulada pelas respostas do computador.

    figura 10

    Figura 10: Ilustração do sistema de interação entre percussão múltipla e computador utilizado.

    Resultados da Terceira Oficina

    A realização da terceira Oficina, que buscou um processo sinérgico de experimentação/composição, pode ser concretizada pelas diversas peculiaridades timbricas encontradas pelos três agentes do processo, ampliando-se, assim, as possibilidades sonoras de cada instrumento que foi modificado por diferentes técnicas de execução e pelo processamento sonoro em tempo real.

    Na realização dessa oficina observamos a necessidade dos intérpretes conhecerem a tecnologia digital envolvida e suas possibilidades. Esse conhecimento e a familiarização com os dispositivos e a linguagem musical foram obtidos através da própria pesquisa individual de cada um durante a realização das oficinas.

    Os intérpretes buscaram desenvolver a sua capacidade de prever a reação do computador aos seus estímulos sonoros. No momento da performance, ao antecipar a ação do outro instrumentista ou do computador, desenvolveram uma paleta de sonoridades vinculada à adaptação a determinados gestos do outro instrumentista ou às respostas sonoras do computador.

    Uma grande diversidade de timbres de percussão foi obtida explorando os seguintes aspectos:

    - Experimentação de diversas técnicas de execução, como: dead stroke, toque simples, toque duplo, rulos;

    - Utilização de baquetas com diferentes densidades;

    - Execução em partes não convencionais dos instrumentos como corpo, suporte, mesa de apoio entre outros; e,

    - Disposição dos microfones na configuração de percussão e utilização de recursos como a aproximação ou afastamento deles, modificando assim a captação.

    Foram selecionados pelos intérpretes juntamente com o compositor durante as oficinas, elementos como: padrões de manipulação, instrumentação, técnicas de execução e disposição da configuração. Estes elementos foram organizados na estrutura da obra de maneira a criarem um diálogo entre os sons acústicos e os eletrônicos buscando uma coesão sonora ao discurso musical.

    Observamos que após adquirirem, através da realização de uma série de oficinas de experimentação, familiarização com a linguagem e as inúmeras possibilidades de interação e tratamento sonoro proporcionados pela interação tecnológica, os intérpretes passaram a reagir de maneira similar em cenários interativos semelhantes, pois buscavam referências sonoras memorizadas anteriormente. Desta forma, a obra adquiriu gradativamente uma estrutura musical própria, que pode ser notada nas diversas performances já realizadas pelo Duo Paticumpá.

    Este senso de equilíbrio musical, por parte dos intérpretes e compositor, é único. Assim, a realização da mesma obra por outros instrumentistas resultará em uma nova estruturação e, conseqüentemente, em novas sonoridades, diretamente vinculadas às experiências assimiladas nas oficinas de preparação e relacionadas ao conhecimento e à vivência musical de cada um.

    Discussão da Terceira Oficina

    Verificamos que através da realização das oficinas, os intérpretes desenvolveram uma nova visão interpretativa frente à mediação tecnológica por processos em tempo real e a utilização da improvisação como elemento de coesão estrutural. A utilização de técnicas interpretativas mediadas num contexto vinculado à utilização de elementos de improvisação exigiu dos intérpretes o controle de diferentes estruturas sonoras e a habilidade de percepção e de reação aos eventos e às sonoridades geradas pelo computador.

    No século XX a improvisação tornou-se uma prática comum de grupos instrumentais e elemento composicional de diversos estilos. Segundo Eco (1965), a característica principal da música instrumental está relacionada à liberdade de interpretação atribuída pelo intérprete à performance de uma obra. Assim, o intérprete assume o papel de co-autor da obra ao executar estruturas improvisadas dando, portanto, uma nova perspectiva para a estrutura musical, utilizando novos parâmetros estruturais como: densidade e trajetória de notas, padrões rítmicos regulares e irregulares, escolha de timbres, etc.

    Na terceira Oficina e na subseqüente obra Sinergética, a improvisação é utilizada como elemento estruturador do discurso musical. Através deste dispositivo foi possível a criação e a execução de rítmos complexos, elaborando assim novas sonoridades que não seriam possíveis de serem grafadas através da notação tradicional.

    Através da improvisação na oficina os intérpretes puderam dedicar maior atenção para as diversas interações que estavam ocorrendo durante o processo. Primeiramente, ambos os intérpretes interagiam entre si, através do diálogo estabelecido entre a execução dos instrumentos disponíveis no set-up e as respostas obtidas pela geração de estímulos entre ambos. Por outro lado, ao interagirem em tempo real com o computador, ampliaram-se as possibilidades sonoras gerando-se assim novos estímulos e novas interações estabelecidas nos dois sentidos do fluxo informacional, a saber:

    • Busca de determinadas sonoridades encontradas e pré-estabelecidas nas oficinas, definidas como interessantes ao serem executadas, relacionando-as com determinados efeitos gerados pelo computador; e,
    • Resposta às novas sonoridades resultantes do tratamento eletrônico dos sons.

    As oficinas de preparo da obra ganharam uma grande e vital importância, pois foi através delas que se formou uma linguagem que proporcionou o desenvolvimento e a coesão da obra. Foi durante as oficinas que os dois percussionistas, juntamente com o compositor/programador, selecionaram os caminhos e as sonoridades que, ao critério deles, melhor representaram o desenvolvimento musical da obra. Assim, os intérpretes assumem a posição de co-criadores, pois é através da experiência musical de cada um que os elementos principais da obra foram selecionados.

    Conclusão

    Como mencionamos na introdução deste artigo, a utilização de interfaces tecnológicas para controle e geração de sons através da mediação de dispositivos eletrônicos com processamento digital fomenta o surgimento de novos paradigmas de criação e interpretação musical. Para Wanderley (2006) é preciso decidir quais os tipos de controles que serão postos à disposição dos possíveis músicos. Desse modo podem-se criar dispositivos (normalmente à base de sensores eletrônicos) que serão conectados ao computador para controlar a geração sonora. Na literatura da área, estes dispositivos são denominados de “gestual controllers”, termo que foi incorporado nesta reflexão (estudo) como interfaces ou controladores gestuais. E, por extensão, a utilização e o controle dos mesmos podem ou não estar vinculada à técnica tradicional.

    Ao visar à compreensão da relação técnica, do gesto e da interface, como apontado no parágrafo anterior, nós realizamos neste trabalho uma série de oficinas com a utilização de interfaces diretamente ligadas à técnica tradicional de instrumentos de percussão. Desta forma foram observadas as mudanças necessárias na técnica e na postura musical do instrumentista.

    A integração de um intérprete com formação tradicional nesse processo exige uma postura de mutação e adaptação do músico, possibilitando assim a modelagem de sua técnica e conhecimento já adquiridos com as novas informações e as possibilidades que a interação com os meios eletrônicos proporcionam.

    Do ponto de vista deste trabalho, a técnica tradicional de um instrumentista (percussionista) possibilita um maior controle na interação com os dispositivos digitais, pois através do alto nível técnico ele é capaz de gerar e reproduzir frases, sonoridades e outros parâmetros que, utilizados conscientemente, podem possibilitar a premeditação de efeitos e respostas do computador.

    Por outro lado, todo o conhecimento técnico e de linguagem musical tradicional podem possivelmente influenciar o instrumentista em situações de contexto livre. Dessa forma, é provável que um conjunto de práticas interpretativas calcadas numa experiência prévia exerça força na performance musical em contexto de improvisação ou interpretação livre.

    No entanto, se colocarmos uma pessoa comum, ou seja, não músico profissional, para interagir com uma interface desconhecida, intuitivamente ela relacionará e procurará padrões que são reconhecíveis em um contexto musical individual (ou coletivo). O que pode se tornar algo repetitivo e sem maiores implicações musical.

    No estudo que realizamos, entendemos que nos processos de interpretação mediada deve haver uma busca de equilíbrio interpretativo entre a técnica tradicional e a liberdade e espontaneidade proporcionada por novas interfaces.  O intérprete é levado a utilizar sua técnica instrumental de maneira ampla, potencializando aspectos da linguagem musical contemporânea, explorando novas sonoridades e adquirindo conhecimento e a experiência sobre a utilização de dispositivos digitais em performances interativas em tempo real.

    Demonstramos nas oficinas que, em situações nas quais o intérprete antecipa alguma espécie de controle através da utilização de interfaces que adotam elementos performáticos tradicionais (como a baqueta aqui desenvolvida), facilita-se a mediação, amplia-se o número de interações e proporciona-se um alto nível de controle.

    No desenvolvimento da pesquisa buscou-se este ponto de equilíbrio entre aspectos da técnica ampliada e o ineditismo da linguagem musical contemporânea.

    Em síntese, este trabalho aponta que a utilização de interfaces tecnológicas direcionadas para técnicas instrumentais tradicionais, integrada a uma postura que busca um ponto de equilíbrio interpretativo, é um importante fator no contexto da linguagem musical contemporânea.

    Demonstrou-se, ainda, que um conjunto de técnicas interpretativas, dentro do contexto de um instrumento específico, tem características próprias e únicas que, sendo potencializadas pelo intérprete e associadas a uma escrita musical adequada, podem receber um tratamento específico, do ponto de vista tecnológico, levando a avanços no contexto da linguagem musical.

    Neste sentido, exploramos técnicas diversificadas nas oficinas. As baquetas interativas digitais, criação original deste trabalho, possibilitaram a utilização de uma série de elementos do idioma do instrumento (glissandos, arpejos, etc.) que foram empregados como parâmetros de controle. Verificou-se um controle mais apurado por parte do intérprete das entradas que foram processados no computador. Apesar da limitação de sonoridades observadas nessa oficina, as baquetas possuem uma precisão de captação muito grande de eventos pontuais, o que é reforçado pela natureza digital da interface.

    Na segunda e terceira oficinas, em que a interface utilizada foi o microfone conectado ao programa Max/MSP, observamos que estas situações comparadas à Oficina com as baquetas interativas demonstraram-se com menor precisão no que tange a determinação exata da nota executada. Com a segunda e terceira oficinas, as técnicas ampliadas pelos intérpretes proporcionaram à geração de um conjunto maior de estruturas acústicas musicais e sonoridades, pois o estudo foi associado à improvisação. A patch desenvolvida com o software Max/MSP foi capaz de, ao processar o som em tempo real, gerar determinados sons e estruturas sonoras.

    Assim, os intérpretes, ao serem estimulados pelo som gerado pelo computador, foram capazes de reagir e improvisar novas sonoridades. Na obra Sinergética, apresentada na terceira Oficina, com o conhecimento e experiência adquiridos nesta oficina, os intérpretes escolheram determinados padrões de reação e as sonoridades do computador que foram tomadas como referência.

    A utilização da técnica ampliada possibilitou a exploração de uma grande variedade de timbres de um mesmo instrumento ou uma paleta variada deles, a execução de estruturas rítmicas complexas e a reprodutibilidade de gestos pré-selecionados.

    Dentro da linguagem musical das oficinas, na qual buscamos um ponto de equilíbrio entre aspectos da técnica ampliada e o ineditismo da linguagem musical contemporânea, observamos que o intérprete começa a adquirir uma posição de co-criador, deixando a postura de ser apenas um meio de execução para assumir a posição de elemento de coesão da obra. Assim, na busca deste ponto de equilíbrio interpretativo, o instrumentista deve deixar a postura de especialista, substituindo-a por uma visão interacionista na qual, através da adaptação, o intérprete molda-se a cada obra. O intérprete capaz de sofrer essa “mutação” em diferentes contextos utiliza a técnica ampliada para melhor interagir com os eletrônicos.

    Entendemos que o equilíbrio interpretativo é adquirido através da vivência do intérprete com os dispositivos eletrônicos com os quais trabalha, buscando, através da adaptação de sua técnica tradicional, enriquecer a linguagem musical contemporânea ao explorar novas sonoridades e ampliar o uso de eletrônicos.

    A utilização de técnicas ampliadas no contexto da interpretação mediada dá ao intérprete novas possibilidades e capacidade de controle de estruturas sonoras, como também, permite a ele desenvolver sua habilidade cognitiva de correlacionar eventos e sonoridades.

    Os resultados obtidos nesta pesquisa conduzem-nos a desenvolver a utilização criativa de interfaces musicais no contexto da interação multimodal. O objetivo será observar aspectos interpretativos e técnicos que possam auxiliar aos intérpretes e compositores na criação de novas obras e/ou avaliar parâmetros que auxiliem o desenvolvimento de novas interfaces. Neste sentido, queremos repensar e reelaborar o percurso já constituído analisando obras inseridas neste contexto e, eventualmente, produzir software e hardware que possibilitem a interação multimodal com outros instrumentos de percussão e dispositivos diversos, dando assim continuidade à busca de uma nova postura interpretativa em um universo de qualidades musicais inusitadas.

    Agradecimentos

    Esta pesquisa teve o apoio da Capes, FAPESP e CNPq. Agradecemos também a colaboração do compositor Gilson Beck e do percussionista Cleber Campos.

    Referências Bibliográficas

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    Revista Digital Art& - ISSN 1806-2962 - Ano V - Número 08 - Outubro de 2007 - Webmaster - Todos os Direitos Reservado

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