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Proposições metodológicas para um estudo envolvendo imagens, comunicação, turismo e cartões-postais.
Autor:
Felipe de Paula Souza[1] - felipedepaula81@gmail.com

Resumo: Propõe-se aqui a realização de um percurso que leve a construção de uma metodologia aplicada a um estudo que envolva imagens, cultura, turismo e cartões-postais. O presente artigo nasce, principalmente, devido aos desafios encontrados na construção da metodologia para projeto de pesquisa realizado no Mestrado em Cultura e Turismo da UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz. Percebendo que não havia como realizar a adequação perfeita de algum esquema metodológico prévio a pesquisa, se passou então a realizar uma construção exclusiva a proposta. Espera-se aqui, apresentar uma descrição de pesquisa possuidora de qualidades e afirma-se aqui a disposição em se realizar um estabelecimento de diálogos que proporcionem ganhos significativos para os envolvidos.

Palavras-Chave: Metodologia, Imagem, Comunicação, Turismo.

Abstract: The accomplishment of a passage is considered here that has taken the construction of an applied methodology to a study that involves images, culture, tourism and postcards. The present article is born, mainly, due to the challenges found in the construction of the methodology for project of research carried through in the Master’s in Culture and Tourism of the UESC - State University of Santa Cruz. The research did not have as to carry through the perfect adequacy of some previous methodological project, if it passed then to carry through an exclusive construction the proposal. One expects here, to present a description of possessing research of qualities and affirms here the disposal in if carrying through an establishment of dialogues that provide significant profits for the involved ones.

Key-words: Methodology, Image, Communication, Tourism.

1. Introdução

Propõe-se aqui a realização de um percurso que leve a construção de uma metodologia aplicada a um estudo que envolva imagens, cultura, turismo e cartões-postais. O presente artigo não se presta ao caráter de manual. Na verdade, objetiva-se aqui a tessitura de uma colaboração para aqueles que se proporem, em momento ulterior, a seguir estudos pelos campos supracitados. Os referidos estudos, apesar de antigos, ainda se encontram em relativo caráter insipiente, devido, principalmente, a multiplicidade de possibilidades proporcionada pelo caráter interdisciplinar das propostas de estudo.

O presente artigo nasce, principalmente, devido aos desafios encontrados na construção da metodologia para projeto de pesquisa realizado no Mestrado em Cultura e Turismo da UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz e denominado Imagem, Cultura e Turismo: reflexões a partir dos cartões-postais de Ilhéus - Bahia. Percebendo que não havia como realizar a adequação perfeita de algum esquema metodológico prévio a pesquisa, se passou então a realizar uma construção exclusiva a proposta. Embora a “costura” realizada se aplique ao referido projeto de pesquisa, percebeu-se a necessidade e a possibilidade de se compartilhar o material elaborado. Pois este poderia servir de princípios norteadores para outros pesquisadores que se disponham a colaborar para o enriquecimento dessas instigantes temáticas que são as imagens, a cultura e o turismo.

A estrutura deste trabalho está construída de acordo com a seguinte seqüência: inicialmente, o leitor encontrará um breve relato e reflexão a respeito da construção metodológica como um todo e em seguida tópicos que tratam especificamente sobre o método no turismo, na comunicação e nos cartões-postais.

O presente artigo é, portanto, um desdobramento do capítulo três da dissertação construída como produto final da atividade de pesquisa realizada durante o mestrado. Espera-se aqui, apresentar uma descrição de pesquisa possuidora de qualidades e afirma-se aqui a disposição em se realizar um estabelecimento de diálogos que proporcionem ganhos significativos para os envolvidos.

2. Metodologia: ponderações, princípios e execução

O presente estudo relaciona dois campos básicos da ciência contemporânea. O turismo e a comunicação. Para qualquer indivíduo que se preste a refletir sobre a contemporaneidade é fácil ter uma visão e a consciência do quanto estes campos são representativos na atualidade. Presentes no cotidiano de milhões de pessoas – de maneira direta ou indireta – o turismo e a comunicação alteram percepções, movimentam interesses, gigantescas quantias financeiras, ou seja, demandam estudos aprofundados e aplicados a fim de se obter a melhor visão e conhecimento possível a respeito destes setores.

Porém, em uma pesquisa científica séria, comprometida com o levantamento de informações compatíveis com um interesse maior – produzir conhecimento útil – se constitui como elemento fundamental a realização e a configuração de uma metodologia bem planejada a fim de se executar os trabalhos com o máximo de aproveitamento.

Entende-se aqui que, ao estudar algum fato que se mostra presente na sociedade, parte-se de uma idéia consideravelmente exemplificada e, até mesmo reduzida, do fato observado, do objeto estudado. Contudo, ao passo que o estudo vai avançando e que conhecimentos vão sendo gerados, um número cada vez maior de elementos vai sendo considerado. Daí por diante mostra-se indispensável à idéia de possuir uma metodologia bem planejada e executada.

Estudos que relacionam as imagens e o turismo, ainda são consideravelmente insipientes – apesar de ser uma temática de fundamental importância dentro do setor. Entende-se que, habitualmente, um trecho extenso de descrição metodológica pode tender a fazer com que um trabalho torne-se maçante, porém a proposta metodológica aqui desenvolvida constitui-se num alvitre diferenciado. É uma construção processual, arregimentando colaborações de caminhos variados, os quais, longe de deixar um resultado disforme e confuso, tendem e objetivam alcançar um patamar de colaborador da temática. Daí o interesse desta pesquisa em destinar um trabalho específico a sua metodologia.

Este projeto de pesquisa nasceu de forma levemente diferente da possuída hoje. A proposta inicial era a de realizar um estudo que relacionasse as interligações entre fotografia, turismo, memória e imaginário. Mesmo sendo considerada com qualidades, esta proposição inicial, com o passar do tempo e o desenvolvimento que a ação de pesquisa proporcionou, tomou ares de incompletude. A sensação que dominava era a de que ainda faltava um foco norteador. Corria-se o risco de, durante o processo, os objetivos iniciais pudessem ficar sem a devida execução. Foi então, ainda nos primeiros passos da realização da proposta, que surgiu a idéia de se atrelar os cartões-postais à pesquisa. Os objetivos primeiros continuavam a ser cumpridos, pois o estudo continuava amarrando a fotografia, as imagens e o turismo. A pesquisa tinha então um objeto firme, consistente, fácil de ser identificado e, consequentemente, fácil de ser estudado. Este breve relato acaba por ilustrar como uma pesquisa, mesmo em seu andamento, pode – e muitas vezes deve – sofrer alterações que, longe de serem prejudiciais, acabam por ilustrar o desenvolvimento que o processo de pesquisa acaba por oferecer.

O primeiro passo que esta pesquisa se propôs a realizar foi o levantamento e fichamento de obras que fossem pertinentes à temática objetivada. Através de uma varredura através da bibliografia que estava ao alcance desta pesquisa, foram destacados autores que traziam colocações enriquecedoras ao desenvolvimento da pesquisa. Trechos foram copiados em arquivos de computador e catalogados em pastas específicas de acordo com o desdobramento da temática. Cada trecho recebia anotações sobre como ele poderia ser posteriormente aproveitado e era salvo em pastas que denominavam a área referida. Este procedimento inicial foi importante no sentido de possibilitar segurança para a pesquisa, confiando de que esta dispunha de um bom referencial para o seu desenvolvimento. Isso conseguido mesmo considerando a ressalva do parco desenvolvimento de alguns elementos da temática proposta em pesquisas anteriores. Com a pesquisa inicial se apresentando com caráter bibliográfico/documental (DENCKER. 1998, p. 125-126) e com uma organização bem planejada, o processo de construção da dissertação se mostrou extremamente facilitado. As colaborações desejadas eram facilmente localizadas, reduzindo de maneira significativa o processo de construção do trabalho.

Os passos seguintes do método adotado estão em relação mais direta com as subdivisões da temática estudada. Variáveis do método de estudo do turismo, da comunicação, das imagens e, especificamente, dos cartões-postais de Ilhéus, estarão mais bem descritos e detalhados nos tópicos subseqüentes.

Voltando a discutir o cerne desta pesquisa, encontra-se um estudo voltado ao turismo e a comunicação. Aí nasce mais uma justificativa da importância em se dar o devido valor ao processo de construção metodológico. Banducci Jr. (2005, p. 23), ao definir o turismo, afirma: “O turismo é um fenômeno extremamente complexo, mutável, que opera de múltiplas formas e nas mais diversas circunstâncias, sendo difícil apreendê-lo, em sua totalidade, por meio de uma única perspectiva teórica ou mesmo de uma única ciência”.

Através da definição de Banducci Jr., é possível perceber que apesar de o turismo vir sendo estudado desde o final do século XIX (REJOWSKI, 1998), este ainda não se apresenta como uma ciência consideravelmente definida. Apesar disso, existe uma busca pelo desenvolvimento do conhecimento no turismo. Dencker (1998, p. 24) diz que: “No turismo, o conhecimento é fundamental para a elaboração de planos e projetos e pesquisa em todas as áreas de atuação, sendo a metodologia científica uma importante ferramenta tanto na orientação de ações em micro escala, no âmbito empresarial, quanto em macro escala, no caso do planejamento”.

Além de defender a importância de se produzir conhecimento no turismo, a autora ainda destaca a importância da metodologia nesse processo. Conforme será discutido no tópico seguinte, em detalhes pormenorizados, se poderá ver que elementos de ciências variadas surgem como potenciais colaboradores do estudo do turismo.

A Comunicação Social, outra linha de frente desta pesquisa, não surge com características muito diferentes das possibilidades apresentadas pelo turismo. A respeito deste campo de pesquisa, tem-se que: “Há hoje um consenso quase incontestável sobre o caráter híbrido da comunicação, de um lado, enquanto fenômeno comunicacional em si, que se faz presente e interfere em vários setores da vida privada e social e em várias áreas do conhecimento; de outro lado, enquanto área de conhecimento ela mesma que, cada vez mais, parece situar-se na encruzilhada de várias disciplinas e ciências já consensuais ou emergentes” (SANTAELLA, 2001, p. 75).

Considerando esse contexto, acredita-se aqui na importância de uma metodologia bem construída. Contribuindo evidentemente para o bom andamento da pesquisa a qual ela se aplica diretamente e também podendo servir de orientação e colaboração para trabalhos ulteriores. Apresentando possibilidades de maneira bem sistematizada, o pesquisador pode, ao mesmo tempo em que busca adquirir o saber, estar aperfeiçoando um método. (DENCKER, 1998, p. 20) Aperfeiçoando o método, se está colaborando com o aperfeiçoamento da ciência, pois “o método especifica o procedimento a ser seguido na busca do conhecimento.” (DENCKER, idem).

Este artigo vai então se propor a discutir a importância da metodologia como um todo. O objetivo aqui é colaborar com o desenvolvimento de novas possibilidades de observação de problemas relacionados com a temática aqui pesquisada. Passa-se então, nos tópicos seguintes, a se esmiuçar as possibilidades para cada desdobramento da temática aqui explorada. Discussões a respeito das possibilidades de estudo do turismo, da comunicação – particularmente das imagens – e especificamente, as possibilidades de estudo dos cartões-postais de Ilhéus, são seguidas por uma descrição das escolhas feitas por esta pesquisa, acompanhadas por suas respectivas justificativas. Não se formularão aqui propostas metodológicas individuais de estudo do turismo e da comunicação – essencialmente falando – na verdade, se discutirão preceitos, princípios norteadores desses campos que levarão a descrição e execução da metodologia, propriamente dita, utilizada nesse processo de pesquisa.  Como já dito anteriormente, não se busca estabelecer um caráter de manual, mas sim de colaborador para o desenvolvimento de um setor de estudos ainda carente de desdobramentos produtivos para a geração de conhecimentos.

3. Turismo: princípios metodológicos

Resgatando a definição de turismo de Banducci Jr., anteriormente citada, tem-se que o turismo é um fenômeno complexo, difícil de ser apreendido por uma única perspectiva teórica, ou mesmo de uma única ciência. Se o turismo apresenta dificuldades em ser estudado segundo uma perspectiva teórica única, outro problema se apresenta para aqueles que se propõem a estudar o referido fenômeno. Qual metodologia a se adotar para o melhor rendimento de um estudo ligado ao turismo? Barreto (2003, p.132) diz que: “A 'cientifização' do turismo está em andamento e provoca ainda discussões. Da mesma forma que se discute há décadas se o turismo é, ou não, uma indústria, discute-se se é, ou não, uma ciência. De fato o turismo é um fenômeno social abrangente”.

A dificuldade em se estudar esse fenômeno social abrangente se mostra significativa. Até mesmo teóricos consagrados do campo do turismo afirmam não existir um consenso a esse respeito. Contudo, acredita-se aqui, que tal conjuntura mostra-se não como limitadora de interesses e possibilidades, mas sim, na verdade, como propulsora de uma ação de pesquisa instigada pelo desejo de se tomar parte desse processo de confirmação e concretização da área do turismo como ciência propriamente dita.

Mais adiante, Barreto (2003, p.135) acrescenta: “A ciência do turismo ainda está em formação. Parte dela consiste na elaboração de teorias sobre o funcionamento do fenômeno turístico e de modelos explicativos.” A idéia desta pesquisa não é a de constituir este trabalho como apenas um modelo explicativo, descritivo de um caso específico, mas de iluminar um caminho a ser desenvolvido para, com isso, possuir um caráter de integrante do desenvolvimento da ciência do turismo, da consolidação deste como ciência.

Outro axioma que se toma aqui é a idéia da importância de se dar o devido destaque ao processo metodológico da pesquisa. Não querendo tomar ares de “receita”, de demonstrar como fazer um estudo no campo do turismo, mas apresentar uma possibilidade desenvolvida, descrita com riqueza de detalhes para que se possa, em estudos ulteriores, tomar como referência para o desenvolvimento de possibilidades até mesmo mais amplas e que venha, cada vez mais, colaborar com a solidificação dos estudos neste campo tão interessante.

O objetivo principal deste trabalho não é, e nem poderia ser, o de apresentar todas as possibilidades de opções metodológicas do turismo. Estas são diversas, como já ditas. Objetiva-se aqui realizar uma discussão a partir exatamente das dificuldades de determinação do método mais adequado. Espera-se com isso, obter um panorama, dentro das possibilidades desta pesquisa, que venha a colaborar com um melhor entendimento dos estudos do turismo.

Ada Dencker (1998, p. 23 – 24) afirma: “No caso do turismo, a simples observação dos fatos não é suficiente para o conhecimento científico deles”. Segundo a autora, para que o conhecimento possa ser considerado científico, é necessária a presença de três pontos chave. São eles:

a) uma técnica para registrar e quantificar os dados observados, ordená-los e classificá-los;

b) uma teoria que permita interpretar os dados, dotando-os de significação, ou, na falta desta, uma hipótese sobre o sentido da ação para se chegar à elaboração da teoria, e;

c) o método científico.

E, ainda segundo a autora, obter o conhecimento científico é de fundamental importância para o desenvolvimento de planos, projetos e pesquisas em todos os setores da atividade – levando ao desenvolvimento do setor. Sendo que, dentro desta conjuntura, a metodologia científica surge como “uma importante ferramenta tanto na orientação de ações em micro escala, no âmbito empresarial, quanto em macro escala, no caso do planejamento” (DENCKER. 1998, p. 24).

Ou seja, o método no turismo é de basal posicionamento no processo de desenvolvimento do turismo. Esta pesquisa não visa, e nem poderia fazê-lo, alcançar o desenvolvimento da metodologia do turismo como um todo, porém explorando uma vertente da temática acredita-se na possibilidade de colaboração para aquela que é definida pela OMT da seguinte forma: “Conjunto de métodos empíricos experimentais, seus procedimentos, técnicas e táticas para ter um conhecimento científico, técnico ou prático dos fatos turísticos”.[2].

Para a observação do turismo nesta pesquisa se entenderá a atividade da seguinte forma: assim como seu método mostra-se fragmentado entre diversas ciências, o turismo também se divide em blocos constituintes. É preciso entender que o turismo existe através de um sistema formador. Amplas e múltiplas interconexões fazem do turismo uma associação entre uma superestrutura organizacional e conceitual, além da demanda, atrativos, equipamentos, infra-estrutura e outros componentes os quais, cada um, têm responsabilidades constitutivas no turismo.

O que se pretende dizer aqui é que se faz necessário, em um estudo do turismo, perceber que este é composto por particularidades que devem ser observadas em conjunto com um todo, mais amplo.

Rejowski (1998, p. 45) apresenta três formas de se observar o turismo:

a) visão reducionista: analisa minuciosamente o todo dentro do qual estão inseridos objetos particulares. O foco de estudo é sobre os elementos, não sobre as inter-relações.

b) visão holística: considera todas as partes como inseparáveis e, portanto, não-analisáveis isoladamente.

c) visão sistêmica: emerge em função das limitações das aproximações reducionista e holística; segundo essa visão, a análise do turismo deve ser realizada entendendo a atividade como um sistema de fortes relações entre seus constituintes. O objetivo então, através da visão sistêmica, é aproveitar as todas as possibilidades de se obter informações e de gerar conhecimento através da observação do setor turístico – tanto nas particularidades quanto no todo.

Mesmo entendendo que “o turismo possa ser estudado sob diferentes visões e em várias direções” (REJOWSKI. Idem, p. 50), entende-se que é necessária à escolha bem definida por uma forma de entendimento do objeto estudado. Não se faz aqui, ao menos nesse ponto, referência a definições técnicas de turismo, mas sim de suas possibilidades e formas de observação.

Acredita-se, pois, que a visão sistêmica seja aquela que mais se aproxima do entendimento desta pesquisa a respeito do turismo. O motivo pela escolha da abordagem já está explicitado na sua própria definição, fugindo das limitações das outras visões, a sistêmica permite que sejam observadas particularidades do todo e propriedades específicas das partes desse todo. Além disso, esta pesquisa se propõe a observar uma parte específica do turismo: as variantes e possibilidades da exploração imagética de uma cidade através de um suporte específico, os cartões-postais. Pretende-se aqui não apenas esmiuçar as características da referida particularidade, mas entender como esta acaba por influir no todo do turismo.

Tal como Molina[3] apud Barreto (2003, p. 137 – 142) defende através de seu modelo fenomenológico de observação do turismo, este não pode ser entendido apenas sob uma ótica. Seria reducionista encarar o turismo apenas através da possibilidade do consumo. Cada particularidade do todo acaba por exercer papel significativo na constituição. Ignorar particularidades em detrimento do todo, ou seu inverso, seria ignorar o desenvolvimento de conhecimento.

O tópico seguinte se propõe a realizar uma breve reflexão a respeito da pesquisa m comunicação. Tendo objetivo semelhante, pretende-se estabelecer as bases de entendimento desta pesquisa a respeito dos assuntos que competem à referida ciência.

4. Comunicação: deliberações metodológicas

Esta pesquisa, ao trabalhar com as imagens e seus impactos na cultura contemporânea e no turismo, acaba por se constituir como integrante do campo da comunicação social. E, conforme pensamento de Santaella (2001, p. 75) já citado neste texto, a comunicação “parece situar-se na encruzilhada de várias disciplinas e ciências já consensuais.”

Por esta definição, percebe-se facilmente a formação de um link com os estudos do turismo. Tal como este, a comunicação também se constitui em um estudo interdisciplinar. Sendo assim, não há a afirmação de uma metodologia preponderante, de objetiva aplicação. E, “a falta de metodologias hegemônicas acaba por acentuar a necessidade [...] do desenvolvimento da capacidade criativa de escolhas e julgamentos, da ousadia na aplicação de metodologias mistas, integradas, complexas, metodologias estas que vêm se acentuando como uma tendência”. (SANTAELLA. 2001, p. 134)

A tendência que a citação se refere é no campo da comunicação, porém esta tendência se justifica devido ao caráter interdisciplinar da mesma. Portanto este estudo, relacionando dois campos essencialmente interdisciplinares, se encaixa com perfeição a proposta de elaboração de um caminho próprio, com particularidades que acabam por atuar como expansoras das possibilidades cognitivas. Pois, “além do referencial teórico indispensável, é também indispensável o embasamento metodológico.” (IANNI. 2001, p. 11) Justificando a linha de raciocínio aqui tomada, Lopes (2001, p. 105 – 106) afirma: “Nas condições atuais de produção científica no campo das Ciências Sociais e Humanas, trabalhar por uma teoria abstrata e genérica não parece ser o caminho mais apropriado. Diferentemente, achamos que no campo da Comunicação deve-se firmar com urgência um espaço de investigação sobre as investigações que se têm feito; é o estudo do uso das teorias, métodos e técnicas nas pesquisas; é a reflexão sobre o modo como as teorias têm sido construídas. A essa reflexão demos o nome genérico de “trabalho metodológico”, o mesmo que já foi identificado como de necessidade vital para as ciências imaturas ou em crise teórica”.

A reflexão proposta pela professora Maria Immacolata Lopes mostra que o caminho para uma pesquisa em comunicação – e também no caso do turismo, como constatado aqui – passa, por entre outras etapas, pela necessidade de se construir de maneira aplicada a circunstância um trabalho metodológico.

Diante disso, se faz necessária a apresentação de qual modelo esta pesquisa segue. Considerando as observações a serem feitas no campo da comunicação – e, consequentemente, em todo o estudo, pois os preceitos abaixo apresentados também se aplicam ao turismo – se tomam os princípios básicos propostos por Lopes (2001, p. 92 - grifos da autora).

1) a reflexão metodológica não se faz de modo abstrato porque o saber de uma disciplina não é destacável de sua implementação na investigação. Comte já afirmava que o método não é suscetível de ser estudado separadamente das investigações em que é empregado, o que implica negarmos-nos a dissociar o método da prática de sua aplicação.

2) a reflexão metodológica não só é importante como necessária para criar uma atitude consciente e crítica por parte do investigador quanto às operações científicas que realiza na investigação e quanto ao questionamento constante a que deve submeter os métodos ante as exigências que lhe impõe a realidade”.

Como se pode notar, as colocações não são no sentido de se estabelecer uma metodologia para o estudo da comunicação. O objetivo não é esse, pois a presente pesquisa não é eminentemente da área, apenas transpassa a mesma. A idéia aqui é no sentido de se estabelecer – como dito – princípios. Estes norteadores aparecem como balizadores para esta pesquisa e, possivelmente, para outras que se proponham a seguir temática semelhante.

A discussão neste artigo seguiu até agora muito mais nesse sentido. A idéia foi de construir um percurso pontuado por reflexões a respeito de princípios norteadores da metodologia de estudo em turismo e comunicação. Estas reflexões atuam como fundação para o desenvolvimento da metodologia propriamente dita, aplicada ao processo de pesquisa aqui proposto e realizado. As deliberações a respeito da metodologia deste trabalho estão descritas no próximo tópico.

5. Cartões–postais: método de estudo

Logo que a proposta de estudar os cartões-postais da cidade de Ilhéus tomou o corpo devido, se iniciou o questionamento de qual metodologia adotar para abordá-los adequadamente.

Talvez a primeira preocupação tomada fosse a de tentar se estabelecer um “grupo” de estudo. Quais postais seriam observados? Foi feita então a escolha de considerar para esta pesquisa apenas cartões-postais vendidos atualmente. Incluir cartões-postais antigos, pertencentes a colecionadores, dificultaria a pesquisa e fugiria do foco objetivado, que é notar a relação destes cartões com o turismo.

O passo seguinte foi restringir espacialmente os cartões-postais estudados. Foram selecionados para observação, apenas aqueles cartões-postais que se encontram a venda no centro histórico da cidade de Ilhéus. Este recorte de modo algum possui intenções reducionistas.

A razão para tal determinação vem das seguintes questões: O centro histórico concentra um variado número de pontos de venda de cartões-postais. Isto permitiu observar uma variedade de cartões consideravelmente satisfatória para a proposta aqui realizada. Além disso, o centro histórico também concentra a movimentação dos turistas que visitam a cidade. Praticamente a totalidade dos visitantes de Ilhéus passa de alguma forma pelo centro histórico, já que diversos pontos turísticos da cidade estão ali localizados. Nas cercanias do Bataclan, Catedral, Bar Vesúvio, Casa dos Artistas, Teatro Municipal, Casa de Cultura Jorge Amado e outros pontos de visita, estão à venda os cartões-postais observados por esta pesquisa.

No pensamento de obter a visão mais ampla possível dos cartões-postais da cidade de Ilhéus, se intencionou aqui alcançar resultados quantitativos e qualitativos. Nas questões ligadas a resultados quantitativos, as ações foram tomadas no seguinte sentido: a princípio, antes de qualquer análise dos conteúdos das imagens, esta pesquisa se propôs a realizar um levantamento dos pontos de venda da cidade – considerado o recorte espacial supracitado. Localização do ponto, forma de exposição dos postais, preço praticado e outros detalhes foram considerados.

Seguindo essa linha de ação e raciocínio, buscou-se criar para estes postais inventariados uma tipologia. Classificá-los por categorias é de grande valia para compreender que tipo de imagem de Ilhéus está sendo vendida. Aqui também se mostra conveniente destacar que tal tipologia foi aplicada apenas para os postais expostos de maneira mais visível nas lojas. Todos os pontos de venda apresentam um expositor bem destacado, visível a todo aquele que visita a loja e geralmente mantém mais cartões depositados ou atrás de balcões, em caixas ou no fundo das lojas. Portanto, quando este texto se referir à tipologias, considerar que a referência está sempre feita aqueles cartões expostos diretamente ao visitante. Esta situação pode refletir a opção – inconsciente ou não – por parte daquele que oferece o produto de qual faceta da cidade expor.

Passando a pensar na análise qualitativa, é conveniente ressaltar aqui que se objetivou realizar uma desmontagem[4] do elemento fotográfico. O que se chama aqui de desmontagem, nada mais é que – embasada por um conjunto de colocações teóricas – a realização de uma verificação conduzida de maneira sistematizada segundo métodos adequados de análise e interpretação.

Para realizar essa desmontagem, houve um questionamento inicial: qual seria o melhor caminho a se seguir? Qual método seria o mais adequado? Pensou-se a princípio na fenomenologia, pois esta trata de descrever, compreender e interpretar os fenômenos que se apresentam à percepção. Apesar de a definição básica do método cumprir em boa parte com os interesses da pesquisa, ainda parecia faltar algo.

No período destinado ao fichamento de livros que fundamentassem a proposta de maneira conveniente, foi percebida a grande quantidade de referências que estudiosos faziam a Erwin Panofsky. Este autor, com sua obra, Significado nas artes visuais, vem a propor um método de estudo das imagens: a iconografia.

Com uma definição bem esclarecedora, Panofsky (1991, p. 53) explica a iconografia: “A iconografia é a descrição e classificação das imagens, assim como a etnografia é a descrição e classificação das raças humanas.

Mesmo parecendo, a princípio, simplista, esta definição de Panofsky passa uma boa noção do que se trata a iconografia. A partir de uma observação técnica, as imagens são descritas e classificadas, possibilitando uma visão ampla em possibilidades. Inicia aí a aproximação com os objetivos desta pesquisa.

Outro autor que surge como grande colaborador no sentido de se estabelecer uma proposta metodológica condizente com os anseios desta pesquisa é Boris Kossoy (1999, 2001).

Numa ação que parece ser um desdobramento das idéias de Panofsky, Kossoy propõe uma dupla linha de investigações.

No senso comum, quando alguém se refere a uma fotografia, na realidade refere-se à sua expressão: à imagem, ao assunto nela representado. A fotografia, porém, não é apenas um documento por aquilo que mostra da cena passada, irreversível e congelada na imagem; faz saber também de seu autor, o fotógrafo, e da tecnologia que lhe proporcionou uma configuração característica e viabilizou seu conteúdo”. (KOSSOY. 2001, p. 75)

E, trazendo a afirmativa de Kossoy para o interesse dessa pesquisa, as imagens dos cartões-postais fazem saber também a respeito da configuração do turismo local. Para dar conta das possibilidades de observação e análise de uma imagem fotográfica, Kossoy apresenta o seguinte caminho: a análise iconográfica associada à interpretação iconológica. A análise iconográfica segue através de dois caminhos de ação básicos. São os seguintes:

a) Determinação do processo de criação do produto fotográfico: delimitação dos elementos constitutivos da fotografia. (assunto, fotógrafo, tecnologia utilizada, etc.) Importante levar em consideração também o local e a época de produção;

b) Recuperação da lista de informações contidas na imagem fotográfica. Para tal, é necessária a realização de uma esmiuçada apreciação dos detalhes icônicos existentes na fotografia.

Com a análise iconográfica, visa-se obter a decodificação da realidade exterior do assunto registrado na representação fotográfica. É o que Kossoy (1999) chama de segunda realidade.

Existe a consciência nesta pesquisa de que, nem sempre, existe a possibilidade de se aplicar a totalidade da proposta de observação em todas as imagens. Nem sempre é possível a delimitação exata de alguns elementos constitutivos. Além disso, algumas adaptações puderam – e deviam – ser feitas, por se tratar de um estudo destinado ao turismo. Contudo, o roteiro proposto faz com que a observação fique sistematizada e se obtenha o melhor do estudo.

O outro caminho é a interpretação iconológica. Aqui, a idéia é obter a realidade interior da imagem – segundo Kossoy (1999), a primeira realidade. Nesta, também são dois os caminhos básicos:

a) Tentar resgatar, na medida do possível, a história do assunto. Tentar determinar o período de produção, de registro daquela imagem e estabelecer a história por trás daquela imagem representada;

b) Buscar obter uma desmontagem das condições de produção da imagem estudada.

Aquele que observar detalhadamente os caminhos descritos por Kossoy, pode ficar com a sensação que estes se constituem em caminhos complementares. A idéia é justamente essa. A análise iconográfica e a interpretação iconológica devem ser observadas como ações complementares que permitem uma visão mais ampla sobre o objeto de estudo. O seguinte gráfico traduz adequadamente:

Figura 1: Análise iconográfica e interpretação iconológica.[5]

Percebe-se pelo gráfico acima, que os dois caminhos de ação do estudo da imagem competem por trajetórias separadas que, confluentes, trazem a mais ampla visão possível a respeito do objeto estudado.

Sobre o tema ou significado da imagem, Panofsky (1991, p. 50 – 53) a entende em três níveis:

I. Tema primário ou natural: é apreendido pela identificação das formas puras;

II. Tema secundário ou convencional: é apreendido pela percepção. Ligamos os motivos visuais e suas composições com assuntos ou conceitos;

III. Significado intrínseco ou conteúdo: é apreendido pela determinação daqueles princípios subjacentes que revelam a atitude básica de uma nação, um período, classe, crença, etc. – qualificados por uma personalidade e condensados numa imagem.

E, ao realizar um estudo que trate de imagens, Panofsky (1991, p. 64) entende que o pesquisador deve tomar como referência a seguinte lógica:

OBJETO DA INTERPRETAÇÃO

ATO DA INTERPRETAÇÃO

I – Tema Primário ou Natural

Descrição pré-iconográfica

II – Tema Secundário ou Convencional

Análise iconográfica

III – Significado Intrínseco ou conteúdo

Interpretação iconológica

Através dessa breve explanação metodológica, se apresentou qual caminho esta pesquisa optou por seguir. A proposta aqui utilizada se configura como a união das duas teorias dos autores. As duas se tratam praticamente da mesma metodologia, porém uma acaba por preencher pontos vazios da outra. O objetivo aqui foi obter o melhor das duas para que se aplicasse um método eficiente na observação das imagens aqui estudadas.

Longe de querer ignorar as contribuições possíveis de alternativas metodológicas, foi feita, aqui, a opção por um método que se mostrou dono de uma poli aptidão no sentido de se obter a mais ampla visão a respeito da análise das imagens. Passando uma sensação de cobertura a proposta consegue se constituir em eficiente colaboração no alcance dos objetivos iniciais.

6. Considerações

O presente artigo espera ter alcançado seus objetivos. Acredita-se aqui que, apresentar reflexões a respeito de um processo de pesquisa pode ser enriquecedor – tanto para aquele que divulga, quanto para o que tem acesso as informações. A troca, o debate, o diálogo, deve ser sempre princípio básico das ações daqueles que pesquisam. Através desse contato é que se alcança a plenitude do desenvolvimento científico.

Entende-se perfeitamente aqui, que possa ter ficado alguma inquietação no leitor a respeito de mais detalhes a respeito da pesquisa desenvolvida. Falta aqui, por exemplo, uma maior explanação a respeito da aplicação da metodologia descrita. Convém destacar que a pesquisa, durante a construção desse artigo, ainda está em curso, contudo em plena disposição daqueles que desejarem iniciar um diálogo a fim de ganhos multilaterais.

7. Referências Bibliográficas

BANDUCCI Jr., A. e BARRETTO, M. (orgs.) Turismo e identidade local: uma visão antropológica. s, SP: Papirus, 2005.

BARRETTO, M. Manual de iniciação ao estudo do turismo. 13. ed. Campinas, SP: Papirus, 2003.

DENCKER, A. Métodos e técnicas de pesquisa em turismo. 2 ed. São Paulo: Futura, 1998.

IANNI, O. Apresentação. In: LOPES, Maria Immacolata. Pesquisa em comunicação. 6 ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001.

JOLY, M. Introdução à análise da imagem. 9 ed. Campinas, SP: Papirus Editora, 2005.

KOSSOY, B. Realidades e ficções na trama fotográfica. São Paulo: Ateliê Editorial, 1999.

________. Fotografia e história. 2 ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.

LOPES, M.I. Pesquisa em comunicação. 6 ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001.

PANOFSKY, E. Significado nas artes visuais. 3 ed. São Paulo: Perspectiva, 1991.

REJOWSKI, M. Turismo e pesquisa científica. 2 ed. Campinas, SP: Papirus, 1998.

SANTAELLA, L. Comunicação e pesquisa. São Paulo: Hacker Editores, 2001.

Revista Digital Art& - ISSN 1806-2962 - Ano V - Número 08 - Outubro de 2007 - Webmaster - Todos os Direitos Reservado

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