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Conquistas do Ensino de Arte na rede Pública de Educação
Autora: Teresa Cristina Melo da Silveira[1] - teca.ensinodearte@centershop.com.br

Resumo: Esta pesquisa objetivou conhecer características, funções e modos de funcionamento do grupo de professores de Arte da Rede Municipal de Ensino de Uberlândia; destacando seu percurso histórico, pontuando principalmente eventos, estudos, produções, momentos de resistência e conquistas mais relevantes. Enfatizamos que o grupo investigado possui trajetória de dedicação e empenho em prol do reconhecimento e consolidação de sua disciplina na Rede Municipal, meta alcançada graças ao seu percurso histórico recheado de ações, formação continuada e defesa política e pedagógica dessa área de ensino. O interesse dos professores pela busca do reconhecimento social da Arte, é demonstrando no seu posicionamento frente ao jogo conflituoso e tácito que envolve as políticas públicas. Desse modo, movendo-se insistentemente entre as respostas individuais e coletivas, reforçando a necessidade de se manter o espaço de ação e debate conquistado, o grupo investigado persiste na luta pela constante qualificação dos professores de Arte.

Palavras-chave: Ensino de Arte. Formação de professores. Saberes e práticas docentes. Grupos de estudos.

Abstract: This research aimed to know characteristics, functions and working forms of the group of teachers of Arts in the City Schools of Uberlândia. The historical aspect emphasizes events, studies, production, resistance moments, and the most relevant conquests. We emphasize that the investigated group has showed dedication and compromise in consolidating its subject in the City Schools, an aim that was reached thanks to the historical trajectory which is full of action, continuing studies and political/pedagogical defense of this teaching area.  The interest of the teachers in searching social recognition of Art is demonstrated in their positioning when facing the conflicting/ tacit game that involves public policies. In this way when insistently moving through individual and collective responses reinforcing the necessity of maintaining the conquered space of action and debate, the group insists on the fight for constant qualification of the teachers of Art. 

Keywords: Teaching of art. Teachers’ continuing studies. Knowledge and teaching practices. Fields of studies.

A nossa pesquisa trata de saberes e práticas de professores de Arte, constituídos no e sobre um grupo composto por professores de Arte da Rede Municipal de Uberlândia, enfatizando-se as diversas relações individuais e coletivas ali estabelecidas. O grupo investigado caracteriza-se como um espaço de dedicação ao desenvolvimento profissional dos professores, configurando-se como uma resposta à necessidade crescente de se investir na sua formação continuada, buscando também as condições necessárias para a realização de reflexões e discussões sobre as teorias, os métodos educacionais, a realidade histórica e sociocultural e a própria ação docente.

O assunto discutido neste artigo refere-se a um dos capítulos de nossa Dissertação de Mestrado e trata do percurso histórico do grupo investigado, pontuando principalmente seus eventos, estudos, produções, momentos de resistência e conquistas mais relevantes.

O Ensino de Arte foi instituído oficialmente na Rede Municipal de Uberlândia em 1989, a partir de um Projeto de Arte-Educação de uma das Divisões de Ensino então existentes: o Departamento de Projetos Especiais da Secretaria Municipal de Educação,

Tal Projeto de Arte-Educação iniciou-se em 1990, sob a forma de oficinas pedagógicas trabalhadas no extra turno, não se constituindo, desse modo, como uma disciplina regular dentro da grade curricular das escolas.

Ao final de 1990, o Projeto de Arte-Educação passa por uma primeira reformulação e é proposto à Secretaria Municipal de Educação como um componente curricular a ser instituído nas escolas municipais, contudo, devido ao pequeno número de professores de Arte na Rede[2] naquele momento, o Ensino de Arte continuava sendo oferecido somente como atividades extracurriculares nas escolas.

Em 1991, houve uma ampliação das aulas de Artes, com a contratação de mais professores e o aumento do número de escolas da Rede Municipal. Assim, acontece a implantação do Ensino de Arte nas instituições escolares, bem como a sistematização de reuniões objetivando o estudo e a troca de experiências entre os docentes da área.

Realizada pelo próprio grupo de professores de Arte, em dezembro de 1991, o Projeto de Arte-Educação passa por sua segunda reformulação, levando-se em conta as experiências vividas em sala de aula pelos educadores e buscando um aprofundamento teórico a partir de leituras diversas, no sentido de assegurar o Ensino de Arte em todas as escolas municipais. O documento então estruturado passa a vigorar em 1992. A partir deste documento, o grupo de professores de Arte da Rede Municipal de Ensino explicita a valorização do espaço de estudo e formação continuada conquistado na elaboração do Projeto de Arte-Educação e, por ocasião de suas reformulações (em 1990, 1991 e 1993), procuram preservá-lo como um modo de confirmar e manter a qualidade do Ensino de Arte nas escolas, objetivando igualmente a consolidá-lo na grade curricular das mesmas.

Em 1991, com a necessidade de um espaço mais bem estruturado, a Secretaria Municipal de Educação inaugura o CEMEPE – Centro Municipal de Estudos e Projetos Educacionais – visando à capacitação profissional dos educadores e funcionários da Rede Municipal de Ensino. Entretanto, a participação dos professores nos encontros e reuniões de estudo passa por oscilações, nos anos seguintes, sendo ora estimulada e valorizada, ora negligenciada e desmotivada pelas políticas educacionais vigentes.

No ano de 1992, participação dos professores era incentivada com uma gratificação salarial extra, que correspondia à carga horária excedente, no valor vigente da hora/aula. Contudo, a partir de 1993, as reuniões deixaram de ser remuneradas, desmobilizando a freqüência semanal dos encontros. Nesse momento alguns professores passaram a se reunir mensalmente aproveitando o horário de módulos não cumpridos na escola e acumulados durante o mês[3].

Apesar das ações político-administrativas implementadas naquele momento desfavorecerem os encontros semanais dos professores da área de Arte, estes, mediante o seu compromisso com a Proposta de Arte-Educação estruturada, conseguem manter seus propósitos e resistir aos contratempos impostos e realizar, em 1993, o 1o Salão de Arte das Escolas Municipais de Uberlândia, enfrentando com trabalho e disposição as questões adversas daquele momento.

Em 1994, a Secretaria Municipal de Educação extingue as coordenações de área e suspende as reuniões de estudo, dificultando a continuidade dos encontros dos professores de Arte. Entretanto, de acordo com Sousa (2006), muitos desses professores começam a se reunir nas suas próprias escolas, combinando seus módulos semanais no mesmo dia e horário, buscando outros meios para preservar a troca de experiências, o estudo e a reflexão conjunta. Ainda nesse ano um pequeno grupo de professores de Arte resiste à desmobilização e organiza o 2o Salão de Arte das Escolas Municipais de Uberlândia, confirmando o desejo de manter os seus encontros e explicitar a importância do Ensino de Arte na Rede Municipal, dando-lhe mais uma vez um lugar de destaque.

Conforme Tinoco (2003), ainda é realizada na praça interna da Câmara Municipal de Uberlândia uma nova exposição de trabalhos desenvolvidos nas aulas de Arte das escolas da Rede Municipal de Ensino: a Mostra de Experimentação em Arte, que contou com uma produção diversificada feita por alunos de diferentes séries da Educação Básica, de diferentes faixas etárias.

Ao final de 1995, houve uma convocação da Secretaria Municipal de Educação a todos os professores para elaborar uma Proposta Curricular da Rede Municipal, “com o intuito de estabelecer uma corrente metodológica que norteasse o ensino de todas as disciplinas e em todos os níveis de ensino nas escolas municipais” (SOUSA, 2006, p.121).

Nesse intuito, a Coordenação Didático-Pedagógica da Secretaria Municipal de Educação solicita então à coordenação de cada nível de ensino (Educação Infantil, 1a à 4a séries e disciplinas distintas de 5a. à 8a séries) a indicação de 10 professores para formar uma comissão de elaboração de tal Proposta Curricular Municipal. Para tanto, os professores participantes da comissão trabalhariam 4 horas/aula semanais, sendo remunerados em 16 h/a mensais (correspondentes aos quatro encontros com quatro horas/aula de duração por mês), e por esse motivo só poderiam participar desse grupo os professores que tivessem apenas um cargo (24 h/a) na Rede Municipal de Ensino. Contudo, novamente o grupo de professores de Arte apresentou um comportamento diferenciado frente a esta proposta, e não apenas dez, mas quinze professores se interessaram em tomar parte na comissão para a elaboração da Proposta Curricular da área de Arte, e mesmo alguns professores que possuíam dois cargos na Rede Municipal aceitaram reunir-se semanalmente com os demais, embora soubessem que não receberiam qualquer remuneração extra para este fim. Inicialmente as diversas comissões, de todas as áreas de ensino, reuniram-se com a coordenação da Equipe Didático-Pedagógica do CEMEPE para a realização de estudos gerais sobre as várias tendências educacionais, e posteriormente os estudos passaram a ser diferenciados de acordo com as especificidades de cada área do conhecimento.

No início de 1996, a comissão para a formulação de uma proposta curricular para o Ensino de Arte, contando naquele momento com onze professores, passou a receber a assessoria de Maria Lúcia Batezat Duarte, professora do Curso de Licenciatura em Artes Plásticas da Universidade Federal de Uberlândia – UFU, para atuar como orientadora na redação do documento e sistematizar as discussões e práticas realizadas nesta área, além de propor novas perspectivas e questionamentos. Ao término desse mesmo ano, finalizando-se os trabalhos de elaboração da Proposta Curricular, chegara o momento de sua implementação em toda a RME e, para facilitar a sua efetivação, a Secretaria Municipal de Educação manteve a assessoria proveniente da UFU e convocou todos os professores atuantes a se reunirem, para que tivessem uma melhor compreensão da estrutura e fundamentação da mesma.

Somente no início de 1997 as reuniões no CEMEPE se reiniciaram, abertas à participação de todo o corpo docente da Rede Municipal de Ensino de acordo com sua área de atuação, facilitando aos professores a compreensão da Proposta Curricular mediante o seu estudo, a fim de eliminar dúvidas, e possibilitando a troca de idéias e experiências para sua melhor implementação. Frente ao interesse da Secretaria Municipal de Educação em adotar uma Proposta Curricular norteadora das práticas educativas em toda a Rede Municipal, foi criado o cargo de coordenador para cada área de ensino. A função desse profissional seria auxiliar os professores nas dificuldades teórico-práticas acerca da Proposta Curricular recém-implantada, preparar as reuniões mensais para estudo e discussão dos assuntos pertinentes à sua área de conhecimento, bem como participar das reuniões com a direção do CEMEPE sobre questões administrativas e pedagógicas.

Nesse momento, conforme o interesse das políticas públicas vigentes, a participação dos professores nas reuniões do CEMEPE tornou-se obrigatória, acontecendo mensalmente, em um total de 4 horas/aula, porém, novamente, sem uma remuneração específica para isto. A carga horária destinada às reuniões decorria dos módulos a serem cumpridos pelo professor na escola, da mesma maneira como ocorreu em 1993 e como acontece até os dias de hoje, considerando-se, portanto, que o horário de participação das reuniões no CEMEPE já estaria incluído no salário do professor.

Entretanto, nessa época, a obrigatoriedade da participação dos docentes nas reuniões para estudos e implementação da Proposta Curricular, mesmo partindo da Secretaria Municipal de Educação, não garantiu a presença de todos os professores, visto que, por um lado, muitas escolas inviabilizaram o acesso dos mesmos (colocando suas aulas nas datas e horários destinados aos encontros); e por outro, alguns professores preferiram cumprir seus dois módulos obrigatórios na própria escola, sem ter que se deslocar para o CEMEPE no dia e horário determinados para as reuniões. Quanto aos professores participantes do grupo de Arte do CEMEPE, durante todo o ano de 1997, suas reuniões tiveram ênfase no estudo da Proposta Curricular e de parte da bibliografia de apoio utilizada na sua redação.

No ano seguinte (1998) a Secretaria Municipal de Educação desobrigou os professores do comparecimento às reuniões do CEMEPE, mantendo a coordenação de área, mas retirando a assessoria dos professores da UFU. Mesmo frente a estas mudanças, o grupo de professores de Arte decidiu preservar as suas reuniões mensais inalteradas, principalmente por considerar importante a manutenção desse espaço de discussão e estudo. Ao final do ano, os professores de Arte apresentaram à SME uma revisão da Proposta Curricular, feita durante seus encontros, contendo algumas complementações formuladas a partir do aprofundamento dos estudos e das novas leituras realizadas. Até o final do ano de 1999, as reuniões no CEMEPE aconteceram sem a assessoria da UFU, embora todos os grupos de estudo, independentemente da área de conhecimento, alertassem para a sua importância na formação continuada de todos os professores da Rede Municipal.

Após muita insistência e propostas de negociações, em 2000 a diretoria do CEMEPE finalmente cede às reivindicações dos grupos de estudo e contrata novamente alguns assessores provenientes da UFU para acompanhar os trabalhos desenvolvidos em cada área de ensino. A partir de então, o grupo de professores de Arte passa a contar com a presença de Lucimar Bello Pereira Frange do Departamento de Artes da UFU, a qual incitou os professores a registrarem as suas experiências e práticas de sala de aula através de pequenos textos; material que, posteriormente ampliado e mais bem desenvolvido, foi publicado. A assessoria de Lucimar Bello proporcionou um novo estímulo ao grupo de Arte, cujos integrantes, ampliando sua visão acerca das práticas vivenciadas, passaram a reconhecer a importância da pesquisa no processo de ensino-aprendizagem em Arte.

No ano de 2001, o grupo investigado dá continuidade à troca de experiências e à ampliação do referencial teórico, proporcionando cada vez mais novas discussões sobre a Arte e o seu ensino.

Entretanto, em julho de 2002, um novo acontecimento marca o andamento das atividades do grupo de professores de Arte na Rede Municipal de Ensino: a diretoria do CEMEPE decide suspender a assessoria dos professores da UFU em todas as áreas de ensino, causando, conseqüentemente, o afastamento da professora Lucimar Bello das reuniões. Mas, ainda assim, os professores de Arte procuram manter o mesmo ritmo de trabalho nas reuniões mensais do grupo, bem como nos estudos da Proposta Curricular Municipal, embora ambos os trabalhos tenham ficado bastante prejudicados pela falta da assessoria. Ainda em 2002, acontece um novo concurso na Rede Municipal de Ensino, possibilitando o ingresso de mais 38 profissionais na área de Arte e, desta vez, abrangendo também as especificidades de Artes Cênicas e Música, além das Artes Plásticas (BRAGA, 2005; SOUSA, 2006).

O ano de 2003 foi marcado por acontecimentos muito importantes. Um deles foi a eleição de um professor efetivo para a coordenação na área de Arte da Rede Municipal de Ensino, com dedicação exclusiva para tal função. Assim, a coordenadora foi eleita por voto direto pelos seus pares, passando a ter o cargo especificamente destinado a esta função, mantendo a sua remuneração sem alterações.

Um outro fato relevante para o grupo de professores de Arte no mesmo ano foi a publicação do livro Possibilidades e Encantamentos[4], resultado da organização dos textos trabalhados nos anos anteriores por doze professoras do grupo investigado, entre as quais se encontra também esta pesquisadora. Tal publicação foi efetivada com recursos próprios das autoras e seu lançamento deu-se não apenas em âmbito local, como também em esfera nacional, por ocasião do XIV CONFAEB – Congresso da Federação de Arte Educadores do Brasil, dando uma maior visibilidade ao livro. Além das autoras, vários outros professores do grupo de Arte da Rede Municipal de Ensino também tiveram a oportunidade de participar do Congresso, abrindo perspectivas para futuros trabalhos e ampliando a rede de contatos com outros profissionais da área. Esta conquista, regada de muita luta e persistência, é enfatizada por Lucimar Bello Frange na apresentação do livro, em que, discorrendo a respeito dos professores de Arte do grupo do CEMEPE, ela afirma que tais docentes

[...] conseguem manter vivo, aceso e “antenado” o ensino de arte em Uberlândia, tornando sempre possíveis as suas ações, ora permitidas, ora negadas pelo sistema oficial, mas NUNCA ABANDONADAS por esses/essas sonhadores(as) de uma utopia de mundo na arte e na vida, com arte e sua compreensão em nossos modos de ser e nos comunicarmos. São muitos os momentos fantásticos e inumeráveis as “rasteiras” – obriga-se, desobriga-se, permite-se, nega-se, proíbe-se o tempo coletivo das indagações, dos estudos e das proposições. No entanto, esses “CORPOS” de professores de arte faz acontecer um ENSINO DE ARTE em busca da significação da arte na vida e da vida com arte (FRANGE, 2003, p. 14, destaques da autora).

No decorrer de 2003, a diretoria do CEMEPE solicita aos grupos de todas as áreas de ensino uma reformulação da Proposta Curricular redigida em 1996 e revisada em 1998, objetivando melhor atender às necessidades metodológicas e conceituais que ora se apresentavam. Desse modo, o grupo de Arte do CEMEPE mantém normalmente as suas reuniões mensais, mas acrescenta algumas reuniões extras no seu cronograma para atender essa solicitação, decidindo por não interromper as suas reuniões mensais e as atividades nelas desenvolvidas. Assim, a re-elaboração da Proposta Curricular Municipal seria realizada em um outro dia, mas para que isso se efetivasse os professores teriam uma reunião a mais no mês e não receberiam qualquer gratificação extra por isso. Mesmo nessas condições pouco favoráveis, doze professores de Arte formaram um pequeno grupo, específico para a reformulação da Proposta Curricular, responsabilizando-se também por transmitir ao grupo maior os assuntos tratados e as decisões ali tomadas. A posição do grupo de professores de Arte do CEMEPE em manter o espaço de estudo, planejamento e troca de experiências nas reuniões mensais, apresentou-se novamente como uma forma de resistência desses profissionais para se evitar o encerramento das atividades iniciadas e garantir a continuidade da trajetória de formação continuada em andamento.

A Secretaria Municipal de Educação, ao final de 2003, editou a nova Proposta Curricular devidamente reformulada e a intitulou Diretrizes Básicas do Ensino de Arte de 1a a 8a séries[5], principalmente por entender que o termo “proposta” aparece como algo a ser seguido, um caminho específico, um percurso já traçado; e que “diretriz” designa algo mais amplo, que aponta uma direção, mas sem definir previamente o caminho, já que este tem sido constantemente reconstruído. Nas Diretrizes, além dos assuntos relativos à área de Artes Visuais, elaborados e redigidos pela equipe de professores anteriormente mencionada, foram incluídos também o histórico e os conteúdos específicos de Artes Cênicas e Música, já que no concurso público municipal anterior houvera o ingresso de profissionais habilitados também nessas áreas. Entretanto, é importante ressaltar que a responsabilidade da redação dos textos referentes a estas outras linguagens artísticas nas Diretrizes Curriculares ficou a cargo de alguns professores do Departamento de Música e Artes Cênicas – DEMAC, da Universidade Federal de Uberlândia.

Assim, a partir de 2003 demarcamos o nosso recorte de pesquisa, principalmente pelo fato das reuniões dos professores de Arte acontecerem, desde então, em dois grupos distintos: um da área de Artes Visuais e o outro grupo de Artes Cênicas.

Em 2004, com a implantação das Diretrizes Básicas na Rede Municipal de Ensino, há uma inovação no grupo de professores de Arte do CEMEPE: os seus integrantes passam a se reunir de acordo com a sua área específica de atuação, onde a sua formação continuada, com a parceria da UFU, acontece por meio de cursos ministrados separadamente para os profissionais de Artes Visuais, Artes Cênicas e Música. Desse modo, queremos destacar que a nossa pesquisa diz respeito unicamente ao grupo de Artes Visuais e que, por esse motivo, nos resguardamos de adentrar nas especificidades das outras linguagens artísticas. Enfatizamos que, mencionamos o grupo de professores de Arte do CEMEPE, a partir dessa data (2004), exclusivamente acerca das Artes Visuais, sem qualquer menção às outras áreas.

Ainda em 2004, a coordenação do grupo pesquisado foi mantida, e para a assessoria à formação continuada dos professores foi convidada Elsieni Coelho da Silva, professora do Departamento de Artes Plásticas – DEART da UFU e coordenadora do Núcleo de Pesquisa no Ensino de Arte – NUPEA, desta mesma instituição. Durante todo esse ano, as ações do grupo de professores de Arte priorizaram a elaboração e sistematização individual de Projetos de Ensino a serem realizados por cada professor na sua escola. O principal objetivo foi enfatizar o planejamento e a execução de cada Projeto e proporcionar o seu acompanhamento por meio de trocas de experiências, apresentação de trabalhos executados pelos alunos em sala de aula, relatórios e outros registros para análise. Houve também, no decorrer do ano, algumas oficinas de criação plástica ministradas por integrantes do próprio grupo, possibilitando aos demais participantes a oportunidade de vivenciar determinadas atividades provenientes de seus Projetos de Ensino.

Ao final de 2004, o grupo investigado expôs os resultados dos seus projetos em um evento realizado no Centro Administrativo da Prefeitura Municipal de Uberlândia, em uma Mostra denominada Visualidades: Processos e reflexões no Ensino de Arte. Conforme consta no convite do evento, o objetivo principal dessa Mostra foi o de dar visibilidade ao trabalho de Arte realizado na Rede Municipal de Ensino, apresentando produções de alunos (desenhos, pinturas, objetos e esculturas), com ênfase nos percursos dos Projetos de Ensino que 33 professores realizaram junto ao grupo de professores de Arte do CEMEPE, durante todo o ano. Nessa ocasião, esses professores também tiveram a oportunidade de apresentar alguns relatos sobre seus projetos de ensino, contemplando desde a elaboração do planejamento até a sua execução e a produção final realizada. As comunicações aconteceram no auditório Cícero Diniz (localizado no Centro Administrativo) no dia 2 de dezembro de 2004, no período da manhã e da tarde. Ainda no ano de 2004, um outro acontecimento marcante para o grupo dos professores de Arte do CEMEPE foi a parceria realizada entre a Secretaria Municipal de Educação e o Pólo UFU da Rede Arte na Escola, visto que tal fato possibilitou novos estudos e ações no e para o grupo[6].

Em 2005, priorizaram-se, nas reuniões do grupo, estudos e atividades para alicerçar o planejamento e a execução de Projetos de Ensino pelo os integrantes. Por esse motivo, a formação continuada teve como enfoque a Abordagem Triangular (Proposta metodológica elaborada por Ana Mae Barbosa[7]), que possui três eixos fundamentais: a leitura da imagem, o fazer artístico e a contextualização da obra. Em novembro desse ano, como resultado dos estudos realizados e dos Projetos de Ensino desenvolvidos, acontece simultaneamente em diversas escolas municipais de Uberlândia a segunda edição da Mostra Visualidades, como também a Mostra Visualidades II SESC, realizada no SESC/MG unidade Uberlândia.

No ano de 2006, ficou acertado que os temas desenvolvidos anteriormente deveriam ser aprofundados, dando continuidade aos estudos de então. Nesse ano as reuniões contemplaram estudos sobre a interdisciplinaridade; o planejamento, o registro e a sistematização de Projetos de Ensino; Patrimônio Histórico-Cultural; o uso de DVD como recurso didático-pedagógico dentro da sala de aula; Trabalho e Consumo; Pluralidade Cultural e respeito às diferenças de gênero, raça e etnia; dentre outros. Houve também visitas a exposições de Arte, inclusive à 27a Bienal de São Paulo, bem como a realização da Mostra Visualidades III e seu recorte na Visualidades III SESC.

Assim, movendo-se insistentemente entre as respostas individuais e coletivas, reforçando, em cada gesto ou atitude, a necessidade de se manter o espaço de ação e debate conquistado, o grupo de professores de Arte da Rede Municipal de Ensino de Uberlândia persiste na luta pela constante qualificação dos professores de Arte e pela defesa de melhores condições de trabalho. São principalmente fatores tais como o enfrentamento dos problemas de toda ordem (estruturais, financeiras, políticas, dentre outras), que impedem os professores de recuar e/ou entregar os pontos, mas que, ao contrário, fazem aumentar neles o desejo de constantemente aprender, levando-os à prática de se reunirem cada vez mais, para discutir propostas e buscar soluções conjuntas.

Várias vezes o Ensino de Arte da Rede Municipal de Uberlândia foi citado como referência de um trabalho sério desta área de conhecimento nas escolas públicas, no entanto torna-se relevante enfatizar que esse reconhecimento deve-se principalmente ao seu percurso histórico repleto de lutas, estudos, produções, engajamentos político-pedagógicos e momentos de resistência, cuja investigação torna-se necessária para a compreensão de suas conquistas no decorrer do tempo.

Referências Bibliográficas

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BRAGA, B.C. Meus dias, nossos dias... o desvelar das linhas: constituição de saberes de professores de arte. 2005. 104 F. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2005.

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MACÊDO, C.A. História do ensino de arte: uma experiência na educação municipal de Uberlândia (1990-2000). 2003. 157f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2003.

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UBERLÂNDIA. Secretaria Municipal de Educação. Projeto de Arte-Educação. 1992.

Notas:

[1] Coordenadora adjunta do Núcleo de Pesquisa em Ensino de Arte – NUPEA, do Departamento de Artes Visuais, da Faculdade de Artes Filosofia e Ciências Sociais, da Universidade Federal de Uberlândia, e professora efetiva no Ensino de Arte da Rede Municipal de Uberlândia.

[2] Macêdo afirma que “em janeiro de 1990 aconteceu o primeiro concurso público para a contratação de professores de Educação Artística para as escolas Municipais de Uberlândia. [...] Dos quinze candidatos inscritos para a prova, somente sete foram aprovados, dos quais, três desistiram e apenas quatro se propuseram ao trabalho” (MACÊDO, 2003, p. 55).

[3] Para um cargo de 24 horas/aula semanais o professor deve cumprir na escola 20 horas/aula: sendo 18 horas/aula com os alunos dentro da sala (ministrando sua disciplina) e 2 horas/aula (também denominadas como módulos) fora da sala de aula, dedicados à leitura, planejamento, reuniões, orientação pedagógica, organização de material e outras atividades pertinentes às suas funções. As outras 4 horas/aula (ou 4 módulos) o professor cumpre em casa ou onde melhor lhe convier, mas ficando à disposição da escola, caso sua presença seja solicitada. Os professores que se reúnem no CEMEPE usam apenas um dos dois módulos semanais que devem cumprir na escola, sendo que o outro módulo fica acumulado em 4 horas/aula durante o mês. Esta é a carga horária destinada mensalmente às reuniões de área no CEMEPE, visando principalmente à formação continuada dos educadores. 

[4] Cf. TINOCO, 2003.

[5] Cf. UBERLÂNDIA, 2003.

[6] Cf. SOUSA, 2006.

[7] Cf. BARBOSA, 1991.

 

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